Retirada do fundo da gaveta, onde jazia entre frascos de medicamentos fora de validade, blocos de receituário manchados por algum líquido vazado da borda de um copo na mesa do facultativo e outras inutilidades, eis que renasce altiva, importante e respeitada a palavra comorbidade.
Somente médicos e afins se referiam a esse termo que faz agora o “percurso” inverso: salta do desuso para o uso. Se em passado remoto apenas aqueles inseriam o termo em suas conversas, hoje a comorbidade se tornou popular: jornalistas, apresentadores de TV, políticos, entrevistados – alguns sem qualquer qualificação, que apenas querem seus dois minutos de glória na telinha – o aplicam como profundos conhecedores do tema que explanam. E qual o tema? A covid, seus danos e ameaças, as vacinas, as vítimas, o sobe-e-desce do número de mortos e de infectados – assunto mórbido, mas que desperta interesse e dá ibope, já que cada brasileiros conhece alguém que tenha sido vítima desse mal ou que tenha parente ou amigo vitimado.
Se para nada de bom prestou a doença malvada, ao menos nos tem dado conhecimento da palavra morta, talvez de uma língua morta da qual nasceram o Português e meia dúzia de outros idiomas que estão bem vivos.
E lá vão as comorbidades tomando espaço e glorificando os que as aplicam em seus discursos, fazendo-se passar por experts linguísticos de vocabulário vasto.
Oh! Que tristeza!