Segundo Ângelo D’Aversa, saudoso professor de filosofia, ateu e devoto do platonismo, a obra de Platão é desenvolvida com base em três princípios: a importância do conhecimento verdadeiro; a união do saber com a política; e a justiça como base da vida individual e coletiva.
Pela admiração que nutria por Sócrates, dizia também o idoso e venerando professor, Platão adotou o método dialógico de seu querido mestre praticamente na totalidade de sua obra. Admirável, enfatizava o velho D’Aversa, a maestria que o grande filósofo demonstra no uso da forma literária do diálogo. E nunca se cansava de enaltecer o brilho, a beleza inigualável do estilo de Platão, que consagraram o maior dos filósofos como o maior prosador da língua grega.
Uma certa flor…
Reza a lenda, contava ele, que as reflexões que levaram Platão a criar a Teoria das Ideias haveriam principiado quando, ao admirar a beleza de uma flor, examinando sua cor e sua forma, teria começado a pensar numa dimensão inteligível – um mundo das Ideias –, do qual as coisas do mundo sensível seriam originárias.
Assim, teria pensado Platão, se um ente qualquer, seja homem ou mulher, seja flor, possui o dom da beleza, o que os faz belos não é senão a presença do Belo em si ou a comunhão com ele.
A Teoria das Ideias foi desenvolvida em vários “Diálogos” de Platão, e sua principal mensagem é certamente destacar a importância do conhecimento verdadeiro, um dos três princípios básicos da obra platônica, acima citados.
No desenvolvimento dessa teoria, Platão lançou mão de metáforas, como, por exemplo, a Alegoria da Caverna, que se tornaram mitos da cultura ocidental. E, como observa a professora de filosofia Bernadete Siqueira Abrão, utilizou também a geometria como base de comparação, pois considerava os objetos e corpos geométricos como Ideias.
Dois mundos
Segundo Platão, existem dois mundos diferentes: o mundo das Ideias, imutável, ou mundo inteligível, só percebido pelos “olhos da alma” (pelo intelecto, pela razão), e não pelos sentidos; e o mundo sensível, que muda continuamente e que percebemos pelos sentidos.
Para o filósofo, as coisas do mundo sensível não são mais que simples cópias – imperfeitas – do que existe no mundo do pensamento, da abstração, o universo das Ideias. Por serem meras cópias, todas as coisas do mundo sensível têm seus correspondentes verdadeiros, sua essência, na dimensão das Ideias. Assim, por exemplo, a justiça, o bem, a bondade, o amor, o belo do mundo sensível têm sua origem na Justiça, no Bem, na Bondade, no Amor, no Belo do mundo das Ideias. Essas Ideias-modelo são a Justiça em si, o Bem em si, a Bondade em si, o Amor em si, o Belo em si.
O mundo sensível compõe-se de dois gêneros de cópias imperfeitas: as de natureza abstrata e as de natureza concreta. Abstratas: a beleza, o amor, a bondade, o bem, a justiça…; concretas: a mesa, a cadeira, a casa, a pedra, o homem, a mulher…
Imutáveis e eternas
Ao contrário de suas cópias imperfeitas, mutáveis, passageiras, sujeitas ao envelhecimento e à destruição, as Ideias originais – fundamento e modelo do mundo que se apresenta aos nossos olhos e demais sentidos – são perfeitas, indestrutíveis, imutáveis e eternas.
“A tese da existência de um mundo das Ideias diferente do mundo real, ou sensível”, informa a professora Bernadete, “levantou um problema que tem ocupado filósofos e matemáticos até os dias atuais: a independência e a objetividade das estruturas formais sobre as quais se constrói boa parte do saber científico. Uma vez que as experiências dos sentidos são enganosas e que só a razão leva ao conhecimento do Bem, segundo a teoria das Ideias do ilustre filósofo grego, resta uma questão: como confiar na razão? Não seria ela dada a erros, como os sentidos?”
Lição de Platão que os jovens alunos de sua Academia não esqueceriam: “Só a luz – a verdade – liberta o homem e o leva ao mundo das Ideias”. Cerca de três séculos mais tarde, Jesus (reencarnação de Platão) dirá também a seus discípulos: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”.