Caramba! Quem diria! Aquele senhor simpático, posudo e bem-falante, eleito governador do Estado do Rio de Janeiro e afastado do cargo por 180 dias em fins de agosto por medida cautelar determinada pelo ministro Benedito Gonçalves, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), recebe nova punição, agora da Assembleia Legislativa, que autorizou o prosseguimento do processo de impeachment.
A decisão do ministro, tomada em consequência de investigações relativas à suposta participação do governador em fraudes na área da saúde, foi mantida pela Corte Especial do tribunal, por 14 votos a um. O processo de impeachment, em que o governador é acusado de haver cometido crime de responsabilidade por meio do recebimento de vantagens indevidas, lhe impõe outros 180 dias de afastamento do cargo, enquanto uma corte especial formada por cinco desembargadores e cinco deputados, analisa a denúncia.
Surpresa não foi o afastamento, mas a demora nas decisões, porque desde a aprovação do pedido de impeachment, em 10 de junho, ele se agarrou ao pincel, porque sabia que a escada já estava balançando. Agora ele está com um pé fora do governo e a pontinha do outro em cima da linha que separa o dentro do fora.
O governador chegou às eleições exalando honestidade. Trazia no currículo ter exercido a atividade de juiz e disso se beneficiou muito, porque os cidadãos de todo o país estavam eufóricos com a atuação de outro juiz que, sem alarde, foi passando o rodo em todos os corruptos que lhe eram apresentados pela Polícia Federal após investigações. Nomes antes insuspeitos e outros sobre os quais já pesavam graves desconfianças foram levados ao banco dos réus e dali enviados para a cadeia.
Pois bem, voltemos ao outro juiz, que, vaidoso, se referia ao título mas não exibia feitos. Antes da eleição quase nada se sabia de sua atuação como magistrado; após a eleição sabe-se menos. Isto não interessa agora: se fez mal, deverá prestar contas a sua consciência (certamente a tem); se fez bem, cumpriu com a obrigação. Obrigação com a qual – dizem as acusações – não conseguiu cumprir no exercício da governança do Estado.
Óbvio que quem chefia ou dirige precisa escolher muito bem seus auxiliares diretos, porque é o responsável pelos atos que eles praticarem. Isso vale para qualquer instituição, tanto faz uma barraca de feira, clube de futebol, pequena ou grande empresa ou governo, em seus três níveis. E o governador do não foi feliz na escolha de alguns de seus secretários, talvez embriagado por uma vitória alcançada quase acidentalmente, já que de início não era o candidato preferido dos eleitores, mostravam as pesquisas.
Assim como o rio corre para o mar, as chances de fraudes e falcatruas vão ao encontro dos oportunistas, e – quem diria?! – o coronavírus, que trouxe para o estado a devastadora covid 19, pegou a Saúde de saia justa, sem recursos, instalações, aparelhagem e medicamentos, apenas com filas quilométricas de pacientes à míngua. Essa situação, frente à ameaça da covid 9, possibilitou uma chuva de dinheiro. Caíam grossos maços de cédulas, pesados envelopes de cheques e ordens de pagamento, e repasses on line tranquilizavam a sociedade aflita à espera de meios de se livrar da “peste”. Era muito dinheiro para aquisição de elementos básicos para evitar a morte de infectados e de outros insumos para atender a demanda de doentes, reequipamento de hospitais e a construção ou montagem de outros. Eis a oportunidade mamão com açúcar para os gulosos de plantão na Secretaria de Saúde do Estado, ávidos de propinas, aproveitarem a necessidade de importação de respiradores e montagem dos hospitais de campanha.
O governador ora afastado, ainda que prove que nada fez de errado ou que as denúncias contra ele não venham a ser comprovadas, tem que pagar pelo que seu protegido fez. E se se constatar que envolveu parentes, embora neste mundo não haja inocentes, terá que pagar em dobro. Caso – o que é bastante provável – a presente situação seja a prévia do afastamento definitivo, o Rio de Janeiro estará livre do ex-meretíssimo por muito tempo. Não estará livre, porém, de todos que, segundo denúncias, não vêm comportando-se bem no exercício dos cargos e causando prejuízo à população.