A tela da vida

Em grave erro incorre o homem quando permite que as adversidades da vida perturbem a mente, arrefecendo o seu entusiasmo e quebrando o harmonioso ritmo da luta pela conquista do seu progresso. As vítimas desse infeliz estado de espírito tornam-se as inimigas de si mesmas, por descartarem as ricas possibilidades de reavivar a atitude mental por meio de uma prudente e racional reflexão. Entregues ao desalento e ao convencimento de sua incapacidade de equacionar problemas e solucioná-los, não se esforçam para se libertar dos entraves do êxito.

A dor e o prazer (escoimado, este último do sentido mundano) fazem parte da existência terrena, abrangendo, indistintamente, todas as pessoas. Ninguém, absolutamente ninguém, está isento dessas duas alternativas que entrelaçam a tela da vida. Nos momentos alegres, tudo se apresenta radioso, esquecendo-se o homem das suas apreensões e seus imaginários fracassos. Todavia, quando lhe bate à porta um transtorno para desafiá-lo, o desconhecimento da vida mergulha-o nas mais tristonhas perspectivas, impedindo-o de ver diante de si as melhores indicações que o libertariam do tédio.

O inconsciente do seu valor moral e espiritual tem do mundo uma visão muito acanhada e, por isto, não sabe bater-se em duelo com as desventuras para derrubá-las ou para reduzir-lhes as proporções de atingi-lo. Ao contrário, ele, com a falta de confiança em si mesmo e nas suas forças de resistências, exagera, ainda mais, o poderio desses atrozes inimigos que acabam por tirá-lo  do combate. Deste modo, a maior desdita do homem é a sua débil estrutura mental, responsável por muitas calamidades que malogram a vida humana.

O desprovido de disciplina mental agrava as circunstâncias e, padecendo cada vez mais com sua insegurança, fica à mercê dos maiores perigos. Se, através de uma nova forma de pensar, não converter suas fraquezas em forças inexpugnáveis para sobrepujar os abalos físicos e morais da sua existência; deter-se-á em suas próprias vacilações e lamúrias; neste caso, durante toda a trajetória de sua encarnação neste mundo, estará apenas passando pela vida, mas não vivendo.

Publicado em 19 de agosto de 1985