A visão otimista do presidente

O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, escorrega em algumas afirmações, ou por não estar bem informado, ou porque quer passar ao mundo a imagem de um país perfeito. Não adianta falsear a verdade: basta ter conhecimento das condições de vida de algumas populações do Nordeste ou de algumas famílias em favelas do Rio de Janeiro.

Em café da manhã com correspondentes estrangeiros, afirmou que não há fome no Brasil, “é uma grande mentira”, e criticou o que chamou de “discurso populista”. Admitiu que há quem passe mal e não coma bem, mas não passa fome. E, dirigindo-se aos jornalistas, afirmou: “Você não vê gente, mesmo pobre, pelas ruas, com físico esquelético, como a gente vê em alguns outros países”.

Pois bem, cosmopolita classe média alta, acostumado a pratos finos da cozinha internacional, principalmente às expensas dos cofres públicos, já que há séculos representa o povo em cargos eletivos, Bolsonaro não sabe nem tem ideia do que é fome.

Sabem-no, porém, os funcionários que fizeram pesquisa de campo para agências da Organização das Nações Unidas, da União Europeia e de órgãos de ajuda humanitária. Os dados apurados resultaram no relatório da União Europeia, Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e Programa Mundial de Alimentos (PMA), indicando que cerca de 113 milhões de pessoas em 53 países tiveram insegurança alimentar aguda em 2018. O relatório registra que quase dois terços das pessoas que passam fome aguda estão em apenas oito países: Afeganistão, Etiópia, Nigéria, República Democrática do Congo, Sudão do Sul, Sudão, Síria e Iêmen. Outros 143 milhões de pessoas em outros 42 países estão apenas a um passo de terem de enfrentar a fome aguda. O último relatório da FAO sobre o estado da segurança alimentar e da nutrição no mundo, publicado em setembro de 2018, afirma que 821 milhões de pessoas no planeta passam fome.

Relatório do Banco Mundial divulgado em abril afirma que a pobreza aumentou no Brasil entre 2014 e 2017, atingindo 21% da população (43,5 milhões de pessoas). Se nada em favor deles for feito rapidamente, esses brasileiros em breve se juntarão aos que já passam fome.