Abaixo os preconceitos!
Existe todo um discurso de que não há racismo no Brasil. Afinal, nós fazemos parte de um povo pra lá de miscigenado. Mas quem é negro como eu sabe que a cor é motivo de discriminação diária, sim. Um bom exemplo é blitz de ônibus. Em determinada época, elas eram bastante frequentes em Salvador. O curioso é que só descia negão dos ônibus. O cara branco era chamado de cidadão e eu virava moleque.
Esse é um pedacinho do livro de memórias Na Minha Pele (Objetiva), que será lançado pelo ator baiano Lázaro Ramos, no dia 6 deste mês, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, na Avenida Paulista (SP). No dia 26, ele participará da abertura da 15ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que, neste ano, homenageia o escritor carioca Lima Barreto. Lázaro vai ler trechos da obra de Lima Barreto que, por conta do alcoolismo, das internações em hospício e da veia extremamente crítica, viveu em uma condição adversa e demorou a ter o reconhecimento devido.
Mestiço e filho de uma escrava liberta, Lima Barreto viu a escravidão ser abolida no papel no mesmo dia em que completou 7 anos de idade – 13 de maio de 1888. Como as desigualdades continuaram, esse foi um dos muitos assuntos tratados criticamente pelo escritor, em uma linguagem coloquial que não era bem vista no meio literário da época.
“Hoje, comigo, deu-se um caso que, por repetido, mereceu-me reparo. Ia eu pelo corredor afora, daqui do Ministério, e um soldado dirigiu-se a mim, inquirindo-me se era contínuo [ajudante administrativo]. Ora, sendo a terceira vez, a coisa feriu-me um tanto a vaidade, e foi preciso tomar-me de muito sangue frio para que não desmentisse com azedume. Eles, variada gente simples, insistem em tomar-me como tal, e nisso creio ver um formal desmentido ao professor Broca (de memória). Parece-me que esse homem afirma que a educação embeleza, dá, enfim, outro ar à fisionomia. Porque então essa gente continua a me querer contínuo, por que? Porque… o que é verdade na raça branca não é extensivo ao resto; eu, mulato ou negro, como queiram, estou condenado a ser sempre tomado por contínuo. Entretanto, não me agasto, minha vida será sempre cheia desse desgosto e ele far-me-á grande. Era de perguntar se o Argolo, vestido assim como eu ando, não seria tomado por contínuo; seria, mas quem o tomasse teria razão, mesmo porque ele é branco.”*
Esse é um pedacinho do Diário Íntimo, de Lima Barreto, publicado em 1953, depois de sua morte. Além de escritor, ele era jornalista e trabalhava no Ministério da Guerra, após prestar concurso, como amanuense, aquele que faz cópias de documentos a mão. Quem arrisca dizer que uma situação como essa – confundir funcionários por causa da cor da pele simplesmente – não acontece ainda nos dias de hoje, em pleno século XXI? Portanto, como escreve Lázaro a partir de sua própria experiência, a cor ainda é motivo de discriminação diária.
No miscigenado Distrito Federal, berço administrativo e político do país, o número de denúncias de racismo aumentou 1.190% (sim: mil e cento e noventa por cento) de 2010 a 2016, segundo o Ministério Público do DF. Apesar do avanço da tecnologia, dos costumes, do passar do tempo e do crescimento e aprimoramento da educação formal, falta o esclarecimento. Esse é um dos principais motivos dessa e de outras tantas chagas sociais. Exemplos de preconceito não faltam, infelizmente.
E o que os jovens têm a ver com isso? Ao explicar ao Estadão o que o motivou a escrever o livro, Lázaro Ramos contou que apareceram assuntos durante a sua produção que o fizeram pensar. Ele disse: “Há uma juventude hoje que fala do empoderamento e também sobre o próprio feminismo que me faz pensar em muita coisa”. Os canais de divulgação hoje, muito mais acessíveis, podem ser um aliado na luta contra o preconceito. Só não deve virar espaço de disseminação do ódio, como se vê muitas vezes.
A doutrina espiritualista que seguimos dá a direção para as pessoas serem de bem e justas. “Adquirida a certeza, pelo estudo do espiritualismo, que todo indivíduo é uma partícula da Força Criadora, igual às demais, com as mesmas possibilidades, os mesmos direitos, idêntica capacidade e semelhantes recursos para conquistar a sua evolução, e na medida que fizer bom uso do livre-arbítrio, terá que percorrer os mesmos caminhos que conduzem à evolução”, escreveu Luiz de Souza, em A Felicidade Existe. Ele tratava de complexos, mas esse trechinho cabe perfeitamente no combate ao preconceito, seja de raça, cor, crença etc. Na igualdade, não há lugar para as discriminações. Exercite o respeito ao próximo!
Emmanuel Macron é mais jovem a assumir o poder na França desde Napoleão. Os jovens que votaram nele – muitos por falta de opção – exigem melhores empregos e avanços na educação do país. Além disso, os que estudam e trabalham querem incentivos, inclusive financeiros, pois manter as duas atividades não é fácil. Entre essa população, há os que acham que, para ajudar os jovens, o presidente eleito teria de se afastar dos bancos. Macron é formado em Filosofia, Políticas Públicas e Administração e consolidou a carreira no mercado financeiro. Foi ministro da Economia, Indústria e Finanças do ex-presidente François Hollande. Em 2016, fundou o partido progressista En Marche!
60,9 JOVENS de 15 a 29 anos, em cada 100 mil, foram mortos em 2015 no Brasil. Entre a população geral, a taxa de homicídios ficou em 28,9 entre 100 mil pessoas. No começo da década de 80, o pico da taxa de homicídio se dava aos 25 anos. Hoje, ele gira em torno de 21 anos. Com os dados em mãos, o Ipea, autor do Atlas da Violência 2017, chamou esse cenário de “juventude perdida”. Com educação, oportunidades iguais e esclarecimento, o país precisa virar essa página!
Tharsila Prates
Jornalista
A juventude é uma época de muitos planos. Há bastante o que pensar, fazer e sentir, com uma vida toda pela frente. É preciso ir aprendendo a viver e, desde cedo, saber que uma vida de ilusões não é construtiva.