Atitude de preservação em relação à maledicência – II

Insinuações maldosas, questionáveis e indiscretas – bem como narrações grosseiras e mentirosas sobre a intimidade alheia – vindas de quem não consegue refrear a própria inveja e ociosidade desencadeiam processos extremamente desgastantes por parte de quem é vítima de tal violência, causando traumas, dor e revolta.

Para uma pessoa de bem, é muito penoso assumir a autoria de um fato a que não deu causa e mesmo manejar argumentos contra injustiças cuja origem nem sempre é possível rastrear.

Elencamos acima os principais motivos que nos levaram a elaborar uma série de artigos sobre o tema da maledicência. Na verdade, a experiência de lidarmos há anos com esse tipo de problema, orientando pessoas emocionalmente abaladas pelas injúrias e acusações levianas de que foram alvo, levou-nos a refletir de maneira intensa sobre o flagelo da maledicência, estabelecendo um roteiro seguro sobre as atitudes de preservação psíquica em relação a esse mal.

Há que mencionar desde já que alicerçamos nossa abordagem nos princípios transcendentes do discernimento espiritual e do valor do pensamento positivo e vigorosamente irradiado. Estes são princípios capazes de blindar psiquicamente os seres humanos dos efeitos imprevisíveis da maledicência. Convidamos o amigo leitor a ler ou reler o artigo anterior (A Razão, março de 2022, página 15) o primeiro desta série.

Orientação e fortalecimento. A mensagem espiritualista que levamos a quem passa por uma situação de calúnia, difamação ou injúria é no sentido de orientar e fortalecer a pessoa sobre seu próprio valor, fazendo com que desenvolva a consciência de si mesma, um importante atributo espiritual que permite elevar e sublimar os pensamentos, tornando-os resistentes aos estímulos mesquinhos e inadequados oriundos da maledicência.

O esclarecimento espiritual proporcionado pelo Racionalismo Cristão, de onde irradiam os princípios do discernimento e da importância do pensamento, é o principal e mais eficaz instrumento contra os efeitos da maledicência, pois auxilia o ser humano a descobrir o valor que tem e a fazer as melhores escolhas, desenvolvendo positivamente a autoestima e o amor-próprio. São estes que lhe dão coragem e entusiasmo para seguir adiante, a despeito da inveja e da maldade de quem insiste em chafurdar no pântano da maldade.

O esclarecimento espiritual não poderá realizar-se em plenitude senão quando acompanhado pela vontade férrea de ampliar o caráter e pela consciência de que os pensamentos formam, em grande parte, a realidade que nos cerca.

O pensamento positivo e a capacidade de selecionar sentimentos, emoções e caminhos a seguir representam, na verdade, princípios que ditam os critérios racionais da ação individual frente a qualquer tipo de adversidade. Por exemplo, quando uma pessoa é alvo da maledicência, pode assumir diferentes posturas: entristecer-se e, por via de consequência, enfraquecer-se espiritualmente; devolver a ofensa na mesma moeda, nivelando-se a seu agressor; ou, quando espiritualmente esclarecida, agir de maneira digna e madura, não ligando importância à mentira, varrendo da mente as hostilidades recebidas e, se o caso ultrapassar as raias do tolerável, buscando no Poder Judiciário a reparação dos danos causados, sem, contudo, se permitir abalar psiquicamente.

Sentimo-nos impelidos, nesta conclusão, a citar um trecho do artigo anterior, pois ele expõe uma realidade que se deve reiterar: Os ataques injustos e abomináveis, quando encarados com altivez e racionalidade, promovem um desenvolvimento espiritual de alta significação. Todos os grandes espíritos, mormente aqueles que nos servem de inspiração e modelo, foram vítimas das maiores injustiças, mas, apesar disso, superaram tudo com a força moral que desenvolveram e com a exteriorização de uma conduta exemplar, capaz de calar as múltiplas vozes da ignorância e da inveja.