Cientistas, para que vos quero?
Com a evolução das Ciências, os estudos enveredando pela trilha social mostram suas consequências políticas e, claro, também econômicas. Uma conotação deformante da ciência pura, na origem, marco de uma história atual, que flui “semelhante ao leito de um curso d’água, formado por inúmeros movimentos geológicos. Muitos acidentes, obstáculos, sinuosidade”. Uma imagem do pesquisador Pablo Jensen (França), que alerta para os debates políticos, ora envolvendo os partidários de “diferentes mundos possíveis” do sistema social. Avanços científicos – terapias, remédios essenciais, tratamentos, prevenção, diagnóstico – flagrantemente a ele amarrados.
Parece um círculo fechado. Doenças erradicadas voltam, doenças associadas à vida moderna promovem outras, associadas ao enfraquecimento do sistema imunológico. Causa e efeito de guerras, destruição, assistência médica cara e faltosa, conflitos de interesse entre financiamento à pesquisa e indústria farmacêutica. Ciência e seu uso dual; o que protege também demoniza.
Guerra nuclear/epidemias. “Hoje levamos a sério o risco da guerra nuclear, a mudança climática nem tanto, e epidemias menos ainda”, lamenta o filantropo Bill Gates, fundador da Microsoft, em entrevista a Spiegel Online. Mas atrela uma boa notícia: a Ciência encontra-se em pleno desenvolvimento – e progresso quanto a diagnósticos mais precisos, tratamento e prevenção de doenças. As vacinas representariam o maior fator isolado nesse processo, porquanto, simplesmente, são seguras, testadas ao extremo e melhores que muitos medicamentos, impotentes face a vírus mutantes.
Essa resistência, sim, seria a doença mais perigosa, segundo o cientista Jeremy Farrar, otimista, contudo, quanto ao controle de doenças pela via do tratamento. Endossa sua tese até mesmo a Organização Mundial de Saúde. Serão 10 milhões de mortos em 2050, por vírus resistentes a remédios e à quimioterapia em câncer. Estudos e testes continuam. Em outubro, pesquisadores divulgaram, na revista Cell Report, alguns resultados positivos. Examinam como a diversidade genética afeta a resistência. Usam a levedura, populações de levedura, que fizeram crescer por meio de medicamentos antimicrobianos. Depois de um mês, havia muitas ainda resistentes aos remédios, que permitiram, por sua vez, identificar quais mutações levam à resistência. Outra vertente da pesquisa voltou-se às bactérias e tratamento do câncer, para verificar a evolução, ou rapidez, com que a resistência às terapias aparece, e o quanto influi a genética, segundo o coautor do artigo, Ville Mustonen.
Nessa linha do que já vem de longe apoiando-se na esperança, está o Alzheimer. Faz mais de um século que Alois Alzheimer descobriu placas no cérebro de pacientes, mortos em consequência da doença que tomou seu nome, e enfim novos medicamentos aparecem. Testes finais neste final de 2017 para uns, outros ainda em prosseguimento, têm por objetivo deter a produção dessas placas, foco da dúvida: são elas que causam a doença ou apenas um sintoma?
Doença neurodegenerativa e demência relacionada hoje afligem 40 milhões de pessoas. Desde 2016, dois pesquisadores americanos, Roger Nitsch e Alfred Sandrock, empenham-se a fundo em testes de tratamento com o aducanumab. Seria o remédio capaz de “limpar” o cérebro dos depósitos de placas amiloides que o obstruem, mas também causa efeitos colaterais (menos), a exemplo dos anteriores.
Um terceiro cientista, Matthew Kennedy, ocupa-se de outro tratamento, à base de verubecestat, uma simples pílula, destinada a impedir a produção das placas. Mas, cautelosos, pedem paciência: é cedo para chegar a conclusões definitivas. As experiências vão até 2020, data prevista para a última fase de desenvolvimento do remédio. Pesquisas ao custo de US$ 2,5 bilhões. Na Universidade de Columbia Britânica, equipe liderada por Weinong Song analisa o comportamento da beta-amiloide no sangue, como fator potencial para diagnóstico. Outro passo avante.
Ondas gravitacionais. Na expectativa de divulgação dos relatórios 2017, nos contentamos, neste final de ano, com o que a revista americana Science considerou a descoberta científica de 2016: as ondas gravitacionais previstas por Einstein, em 1915, enfim foram detectadas. Resultam da colisão e fusão, depois de giros entre si, de dois buracos negros pesando, cada um, 30 vezes a massa solar. Fenômeno que levará a informações inéditas sobre a teoria da relatividade geral. “As ondas gravitacionais também irão ajudar a saber mais sobre o nascer do Universo. Porque, no momento do Big Bang, houve emissão de ondas gravitacionais”, regozija-se Reynald Pain, diretor do Instituto Nacional de Física Nuclear e de Física de Partículas (França).
Com tal incentivo, mais o tenso panorama terrestre, é arejar com uma viagem ao cosmos, monitorada por Christophe Seidler e Anne Martin, em vídeos da Nasa. A Ciência da Astronomia o espera em [http://www.spiegel.de/international/world/a-1045692-druck.html]
Clecy Ribeiro
Jornalista, professora das Faculdades Integradas Hélio Alonso, RJ