Colocarmo-nos no lugar do outro pode ajudar a construir uma sociedade melhor

Nossa capacidade de nos colocarmos no lugar do outro nos convida a uma importante reflexão acerca do nobre sentimento da empatia, tantas vezes esquecido e desprezado na sociedade moderna, a qual, interpenetrada por ideologias subjetivistas e coletivistas, pretende, muitas vezes, fazer do ser humano uma ilha, em flagrante desrespeito a sua própria natureza.

A despeito da tendência ao individualismo e da anulação do outro em sua diversidade, é imperioso sublinhar que a vida em sociedade oferece preciosas oportunidades de aperfeiçoamento e expansão das faculdades espirituais. Na verdade, toda vivência genuinamente verdadeira, alicerçada em positividade e fraternidade, busca, por si mesma, comunicar-se, ampliar-se, de maneira espontânea e sincera, escoimada de interesses e preconceitos.

Auxiliar na compreensão da necessidade do respeito às diferenças e do desenvolvimento de maior sensibilidade diante das angústias dos semelhantes – eis a finalidade que, modestamente, nos inspira.

Não basta conhecer ou reconhecer a importância da empatia para praticá-la. Conhecê-la, contudo, é para isso condição indispensável. Com efeito, a noção espiritualista da empatia  enseja duas acepções – uma subjetiva, outra objetiva – que são comunicáveis entre si. A empatia subjetiva traduz o estado psíquico de solidariedade frente a determinada situação de sofrimento humano. É a comoção sincera diante dos dramas existenciais. A empatia objetiva se traduz na conduta, em consonância com padrões éticos e de elevada moral. Consiste na disposição da pessoa em pôr-se no lugar do outro, a fim de compreendê-lo e auxiliá-lo, sem jamais o julgar ou constranger. Pode-se dizer que a empatia subjetiva é pressuposto da mente esclarecida, altruísta e cônscia de suas responsabilidades, enquanto a empatia objetiva é norma da ação espiritualista, tão difundida pelo Racionalismo Cristão, que encontra sua expressão no diálogo, na capacidade de ouvir e auxiliar desinteressadamente; representa a adesão, a afirmação do princípio de que todos estão interligados e são oriundos da mesma fonte, ou seja a Inteligência Universal.

É complexa a tarefa de estabelecer os contornos exatos da atitude empática. Comecemos por ressaltar que uma convivência equilibrada e fraterna, respeitosa e solidária não surge de imposições externas ou regras estabelecidas por arbítrio alheio, mas ao contrário: um convívio elevado e enriquecedor somente assume tais características quando os indivíduos se dão conta, espontaneamente, da importância da amizade sincera e do respeito aos diferentes modos de pensar e às distintas expressões culturais.

Uma comunidade está fundamentada em valores sólidos e imperecíveis quando objetiva o bem comum, quando promove o ser humano em sua forma integral, ou seja, contemplando suas dimensões física e psíquica. Nesse sentido, emergem vigorosos os sentimentos de dedicação ao próximo, de desprendimento, de disponibilidade interior. Portanto, reafirmamos eloquentemente que é na capacidade de colocar-se no lugar do outro que se encontra a chave para a edificação de uma sociedade mais equânime e fraterna.

Nossos estudos espiritualistas à luz da filosofia racionalista cristã giram precisamente em torno da convicção de que, de modo geral, toda ação concreta e efetiva é precedida por pensamentos e sentimentos que lhe dão causa. Por essa razão, faz-se necessário ressaltar mais uma vez a necessidade de cuidado relativamente aos aspectos transcendentes da vida, sobretudo os pensamentos, que, em verdade, dão suporte a grande parte da realidade que percebemos e apreendemos pelos sentidos físicos. Uma vez convencidos da necessidade de mais empatia em sua trajetória de relações uns com os outros, os indivíduos deverão também despertar para a utilidade prática dos valores contidos na espiritualidade, sem, contudo, descambar no terreno do pragmatismo vazio e sem sentido.

Sobre esse tema, assim orientou recentemente o Presidente Astral do Racionalismo Cristão, Humberto Rodrigues: “Quem não respeita o semelhante não se respeita, pois é incapaz de se colocar no lugar do próximo, de perceber as dificuldades por que passa, as causas de seus procedimentos inadequados, a razão das atitudes impensadas que toma. Quando não há empatia, a tendência é criticar ou julgar o vizinho, porque não há interesse em ajudá-lo nas suas dores e fraquezas. Na maioria das vezes, as pessoas estão mais interessadas em saber o que fulano faz e sicrano diz”.

As reflexões aqui suscitadas nos levam a concluir que uma parte considerável da crise por que passa a sociedade atual, bem como seus desdobramentos, sobretudo em termos de relacionamentos, dá-se pela inobservância de uma premissa básica: a saúde emocional e psíquica do agrupamento humano. Ao contrário do que se imagina, não se pode preterir a associação aos valores da espiritualidade, pois sem essa consciência incorre-se no erro de achar possível o desenvolvimento integral do ser humano sem a abertura ao transcendente.

Assim sendo, somente o esclarecimento espiritual – a ampliação da consciência – é capaz de transformar a mentalidade materialista tão presente nas esferas política e privada, econômica e cultural do mundo contemporâneo. E como instrumento eficaz nesse caminho de aperfeiçoamento e de ampliação de horizontes, destacamos novamente a empatia. Esta permitirá, sem dúvida, reconhecer no próximo uma extensão de nós mesmos, de modo que a partir dessa constatação possamos revalorizar o convívio social respeitoso e fraterno, que é, por sua vez, o alicerce de uma paz verdadeira e sustentável.