Como grandes mudanças podem começar através de pequenos gestos?

Quem quer que tenha estudado seriamente as importantes transformações sociais e culturais, científicas e tecnológicas registradas ao longo da História Universal terá de concordar – e não é exagero afirmá-lo – com o fato de que inúmeras ocorrências históricas de considerável repercussão tiveram início em pequenos gestos e em concepções a princípio despretensiosas.

Mesmo em sua vida cotidiana, o ser humano pode empreender grandes e positivas transformações a partir de pequenas atitudes, desde que estas, por menores que possam parecer, estejam fundamentadas na vontade sincera de autossuperação, no respeito às diferenças e sobretudo no amor ao próximo.

A visão do mundo e o sistema de valores que estão na base da cultura contemporânea – de forte tendência materialista – sugerem a falsa ideia de impotência ante os grandes desafios vivenciados pelo ser humano, quer na esfera social, quer em âmbito pessoal. Propaga-se o mito de que o enfrentamento de problemas colossais requer soluções drásticas. Essa concepção distorcida do processo de desenvolvimento humano tem se estendido, inclusive, à família.

Tal julgamento demonstra inadequada a apologia a um radicalismo de todo incompatível com a espiritualidade, que torna evidente ao observador mais atento que é nos detalhes que está a diferença.

É importante ressaltar a contribuição que todos podem dar à própria existência e à vida no planeta a partir do momento em que se propõem pequenas mudanças na forma de pensar e o reexame de hábitos e tendências, enfatizando-se sempre os saudáveis e nobres aspectos de uma vivência espiritualizada, positiva, proativa, menos sobressaltada e, por conseguinte, mais reflexiva e tranquila.

As pequenas conquistas obtidas na vida cotidiana, frutos de um processo de amadurecimento psicológico e intelectual, sempre repercutirão favoravelmente no aprimoramento moral do ser humano. Quando a pessoa consegue se controlar diante de uma ofensa recebida, reagindo sem exageros; quando pensa duas ou mais vezes antes de dar uma resposta ou aceitar um convite; quando consegue disciplinar sua vida tendo horários pré-estabelecidos para suas atividades; quando termina as tarefas iniciadas; quando honra seus compromissos; quando se preocupa com o impacto de suas ações no meio ambiente, respeitando os ciclos da natureza; ou quando vence o desânimo e a maledicência, evitando comentários indignos de seus semelhantes, tenha ela a certeza de que esses pequenos movimentos não operam separadamente consequências insignificantes, mas estão inter-relacionados e formam uma poderosa força de mudança para o bem.

Ao reconhecermos a existência do dever moral de estar sempre receptivos ao aprendizado verdadeiro e aos conteúdos da espiritualidade, que constituem parte integrante e indissociável do referencial mais amplo de uma vida saudável, reconheceremos também a necessidade constante de pequenos ajustes acerca de nossas atitudes mais simples, sendo certo que a violação dessa necessidade de permanente autoanálise pode consubstanciar uma grave falta que, mais cedo ou mais tarde, o próprio ser humano ressentirá. Logo, a dependência excessiva de soluções grandiosas ou até mesmo milagrosas por parte de muitas pessoas reflete-se no fato de que ela se fundamenta nos aspectos exteriores da vida, e não nos aspectos transcendentes que lhe dão suporte.

Vivemos, atualmente, a era do superlativo, em que nos habituamos a notícias que fazem referência a grandes escândalos, a grandes descobertas tecnológicas, a transformações nunca antes vistas. Tudo passou a ser super, ultra, mega. Pontos de vista, conceitos e ideias são superdimensionados pelos meios de comunicação, de modo que as iniciativas mais sérias, isto é, que promovem a dignidade humana, mas que não buscam os holofotes da fama, tendem a ser preteridas, quando não esquecidas. Como consequência da ênfase ao exagero, determinados setores da sociedade vêm se tornando cada vez mais alienados, desenvolvendo estilos de vida profundamente doentios e patéticos.

Assim, podemos concluir que as grandes mudanças podem e devem começar a partir de pequenos gestos, da mesma forma que uma longa trajetória se inicia com um pequeno passo. Não só isso, o enfoque espiritualista proporcionado pelo Racionalismo Cristão e que perpassou pela presente reflexão enseja uma significativa ampliação de perspectivas, podendo ser traduzida em ações concretas, como a valorização das pessoas que amamos com uma demonstração de um carinho, um cuidado ou até mesmo uma palavra amiga.

As oportunidades de crescimento moral que a vida nos proporciona a todo instante refletem-se sobretudo nos pequenos dramas do dia a dia, que devemos vencer com a confiança de que, ao proceder dessa forma, estaremos construindo uma vida inspiradora, pacífica, produtiva e feliz.

Muito Obrigado!