A abrangência do sentimento de fraternidade, tão significativo para o desenvolvimento humano, suscita uma dúvida: como podemos nos preparar para melhor agir em nossas relações? Primeiramente torna-se necessário transladar esse questionamento, inicialmente genérico, para o campo da espiritualidade, a fim de que possamos fazer essa reflexão.
Uma vez ultrapassados os preconceitos e condicionamentos simplistas que distorcem a ideia de totalidade e unidade entre todos os seres, verificar-se-á que esse tema se encontra encadeado à espiritualidade, precisamente no que ela tem de mais belo e profundo: a demonstração de que todos estamos conectados.
As relações entre as pessoas distinguem-se claramente segundo o contexto social, político e cultural em que estão inseridas. A análise das estruturas dos relacionamentos é essencial para a compreensão da vida em comunidade. Os conteúdos espiritualistas divulgados e defendidos pelo Racionalismo Cristão não estabelecem padrões comportamentais inflexíveis; todavia, sua mensagem moral, alicerçada em preceitos racionais e cristãos, exerce influência considerável na vida daqueles que se inspiram na retidão e no amor ao próximo. Dentre as diversas razões para tal, reside o fato de que os autênticos conteúdos espiritualistas não se veem prejudicados por interesses mesquinhos de indivíduos ou grupos sociais. A contribuição da espiritualidade em prol da dignidade deve imperar nos relacionamentos. Consiste sobretudo em articular os fundamentos ético-morais que irão nortear a ação humana, com o propósito de fazer que cada um recorra aos princípios inatos em sua consciência, de modo a não violar os limites que devem existir nos relacionamentos.
O fluir da realidade, com o dinamismo característico do momento histórico que estamos vivenciando, exige reflexão constante. Embora o próprio entendimento acerca dos relacionamentos esteja direta e indiretamente relacionado com as configurações características da contemporaneidade, note-se que, na perspectiva da espiritualidade, eles são importantíssimos para o caminhar, ou melhor, o progredir na vivência espiritualista, na medida em que se subordinam necessariamente a uma necessidade humana. Trata-se, antes de mais nada, de uma visão lúcida da realidade – de forma alguma uma visão exageradamente romântica, muito menos fundamentalista. Ora, a expressão máxima do valor dos relacionamentos, na estreita visão humana, só é perceptível quando sustentada pela transcendência.
Os conceitos controvertidos que permitem divergências de pontos de vista, longe de significarem um empecilho ao estabelecimento de relações duradouras e saudáveis, devem ser interpretados pelos estudiosos da espiritualidade como um mecanismo essencial à vida em sociedade, pois é na pluralidade de opiniões e acepções que os seres humanos podem desenvolver importantes atributos, como a renúncia, o respeito mútuo, a tolerância e a serenidade.
Percebam, amigos, que o entendimento de como podemos nos preparar para dar o melhor de nós em cada relacionamento deve transcender os dogmatismos que tolhem a razão e o bom senso. É preciso ultrapassar a lógica determinista, transbordando as comportas do formalismo e incidindo no campo da consciência ética.
Pode-se até mesmo admitir que, quando se respeita um semelhante como a si mesmo, respeita-se, por extensão, o mundo a nossa volta. Para tanto, evoca-se a seriedade na conduta, a firmeza de caráter, a opção pelo bem, a sinceridade, a consideração, enfim, valores indispensáveis na construção dos autênticos relacionamentos.
A conclusão a que chegamos não se apresenta exatamente nos moldes de uma resposta pronta e inflexível. Queremos deixar nítido que a dimensão espiritual é um elemento-chave no estabelecimento dos princípios que estruturam as relações, sejam elas quais forem. Pela importância e seriedade de que se reveste o tema tratado, não seria adequado deixar de asseverar que todos os atos humanos são inadequados quando excedem o nível médio das coisas, isto é, quando são desprovidos de equilíbrio. O bom senso, a serenidade e sobretudo o respeito são fundamentos para o crescimento individual e coletivo dos seres humanos e nunca devem ser desprezados, pois mesmo a intimidade não os dispensa de forma alguma.
Não existem relacionamentos perfeitos como os que alguns setores da mídia, em grande parte destituídos de critérios morais, costumam propor-nos. Os relacionamentos familiares, por exemplo, estão marcados por crises as mais variadas, que implicam em aprendizado e, não raro, intensificam o fluxo afetivo uma vez superadas.
Desenvolver o hábito de dar verdadeira importância ao diálogo constitui um mecanismo fundamental para consolidar laços de amizade e consideração. No que diz respeito a relacionamentos mais próximos, o modo de formular questões, a sinceridade, o momento propício, o tom de voz, o tipo de abordagem são fatores determinantes para a eficácia da comunicação e para a conservação da relação. Devemos admitir que, para que o diálogo seja profícuo, é importante que se tenha algo a comunicar, e isso requer um conteúdo interior que se obtém por meio de uma vivência fundamentada em princípios espiritualistas que enobrecem e dignificam todas as manifestações humanas.
Finalmente, queremos reafirmar a importância do respeito, que é o que de melhor podemos exteriorizar em nossos relacionamentos. Aprendemos, ao longo de nossa trajetória de estudos e das lições que aprendemos com nossos mestres, que o respeito próprio e coletivo é para o espiritualista o que a alma é para o ser humano: sua essência, sua vida. Cultivemo-lo, portanto, para que nossos intercâmbios sejam repletos de preciosas influências e iluminados pela verdade e pela retidão.
Muito Obrigado!