A análise da vida pelo prisma ampliador da espiritualidade proposta pelo Racionalismo Cristão enseja a compreensão de que, na sociedade, todos devem realizar suas funções de forma responsável e respeitosa, certos da importância de estabelecer limites e de agir de forma equilibrada e sensata. Contudo, a faculdade de manter-se atento e firme diante dos incontáveis desafios da vida não se baseia em uma fórmula pronta, em um esquema único, mas no firme propósito de espiritualização, de ampliação dos sentidos, de aperfeiçoamento da personalidade.
Seria ingênuo e temerário, amigos, pensar que somente com os recursos da realidade material, captada pelos sentidos físicos, pode o ser humano agir de maneira digna e equilibrada, mantendo-se determinado e resoluto quando a ocasião assim o exigir, sem radicalismo e excessiva austeridade.
Procuraremos demonstrar na presente reflexão que quanto mais o ser humano se dedicar à ampliação de suas qualidades e ao desenvolvimento de seus atributos, quanto mais se espiritualizar, tanto melhor saberá agir diante dos casos concretos, pois suas atitudes espelharão os conteúdos retos ditados por sua consciência.
Embora saibamos que a heterogeneidade cultural e a diversidade de pontos de vista abrangem um espectro muito amplo da sociedade, dando suporte, por conseguinte, a um sem-número de posicionamentos humanos geralmente divergentes e não raro antagônicos, queremos ressaltar que a equanimidade, a tolerabilidade e a moderação devem sobrepairar às divisões tolas, às conclusões precipitadas e às ideias preconcebidas.
Mesmo em meio às múltiplas e difusas vozes e opiniões, seja no ciclo de amizades, na família ou no ambiente de trabalho, o ser humano que pauta sua vida no respeito, no benquerer, na honestidade, na sinceridade e sobretudo na humildade não se atordoa nos momentos em que tem de se impor, não titubeia, não fecha os olhos à realidade que o circunda e que dele exige a negativa a tudo aquilo que é nocivo ao desenvolvimento espiritual do gênero humano. Sabe posicionar-se, argumentar e defender sua opinião sem jamais ofender, exagerar e melindrar quem quer que seja.
A diversidade de aspectos e enfoques, a pluralidade em todos os níveis, a enorme gama de variáveis e perspectivas com as quais se depara o ser humano à medida que vai amadurecendo psíquica e emocionalmente só poderá ser contornada se ele tiver um conjunto de referenciais fundamentados, necessariamente, em uma visão filosófico-transcendente que abarque os valores éticos, morais e cristãos que sustentam uma existência digna.
Sem a noção do elemento que interpenetra e dá suporte à realidade que nos circunda – a espiritualidade, conceito rico de conteúdo e significações –, pode-se fazer a seguinte pergunta: como poderá o ser humano esforçar-se por desempenhar suas funções com ética e valor, posicionando-se com firmeza sem menosprezar seu semelhante?
Quando se negligencia o aspecto espiritual no processo de aquisição de conhecimentos e informações, ou seja, quando não se contempla a transcendência, a formação do ser humano poderá até ser considerada suficiente do ponto de vista material, mas será deficiente para sua realização como ser integral, e ele tenderá, o mais das vezes, a exorbitar das normas morais, do convívio respeitoso, precipitando-se de modo afoito e angustiante nos meios onde venha a transitar e desempenhar suas tarefas.
A fraqueza moral, notadamente presente no indivíduo que evita dizer “não” quando necessário – e nas raras vezes que o faz assume um tom arrogante e pretensioso –, age contra ele mesmo, manchando, anulando e distorcendo seus atributos e faculdades espirituais.
Com certeza, distancia-se das decepções, dos fracassos e dos desgastes emocionais quem sabe impor limites, tanto a si mesmo quanto a seus semelhantes; quem sabe dizer não no momento certo, com tato, atento ao fluxo das circunstâncias e as consequências de suas decisões. O equilíbrio espiritual representa, sem dúvida, uma balança cumulada de bom senso e sabedoria que o espiritualista deve saber manejar com destreza e altivez, para benefício próprio e coletivo.
As concepções filosófico-espiritualistas resumidamente mencionadas ao longo desta reflexão possuem uma clara dimensão crítica em relação às distorções morais que, em matéria de convivência, substituem as atitudes moderadas e prudentes pela inadequada postura inflexível e radical. Tais concepções, embora transcendam aos imperativos egoísticos e materializados comumente encontrados no meio social, não representam um mero conjunto de noções abstratas que estão distantes e à margem da realidade humana, mas, ao contrário, significam um valiosíssimo instrumento prático que permite vislumbrar com acerto que é possível, e mesmo necessário em certas ocasiões, agirmos com energia cristã, impondo limites e dizendo “não”, sem perder o senso de tolerância e amor ao próximo.
De fato, importa considerar que a paz social e a coexistência pacífica não devem ser entendidas como anulação das diferenças e ausência de limites. A questão crucial repousa no fato de que é na diversidade, no convívio com nossos semelhantes, mais que em qualquer outra ocasião, que devemos fazer nosso aprendizado de justiça e equilíbrio, de solidariedade e respeito.
Prezados amigos, conquistaremos pacífica e ordenadamente uma vida feliz e próspera se assumirmos a responsabilidade de nossas decisões e direcionarmos a soberania de nossa vontade sempre para a prática do bem. Assim ascenderemos ao governo de nós mesmos e seremos fortes e resolutos, dignos do mundo que nos rodeia e da história que nos precede. Esta é a linguagem universal da espiritualidade divulgada e defendida pelo Racionalismo Cristão, a linguagem da verdade e do bom senso. Queremos que seja cada vez mais a nossa, embora, muitas vezes, desagrade pessoas e interesses.
Muito Obrigado!