À primeira vista, ao menos para um considerável número de pessoas, o conceito de “sustentabilidade” se restringe a um conjunto de ações que visa salvaguardar os ecossistemas. A Organização das Nações Unidas (ONU) define “sustentabilidade” como “o atendimento das necessidades das gerações atuais, sem comprometer a possibilidade de satisfação das necessidades das gerações futuras1”. Cabe-nos, contudo, enquanto estudiosos da transcendência, o papel de ampliar ideias e dilatar panoramas. Nessa perspectiva, chamamos sustentáveis as ações que consideram o ser humano em suas múltiplas dimensões, fazendo-o comprometer-se, firme e desprendidamente, com o bem comum, ao mesmo tempo que abandona visões reducionistas e pensamentos mesquinhos. Para nós, é inconcebível, conforme procuraremos demostrar na presente reflexão, que as autênticas conquistas humanas, aquelas que agregam valor e proporcionam crescimento espiritual, possam prescindir dos valores da espiritualidade divulgados e defendidos pelo Racionalismo Cristão.
O medo é um sentimento natural, comum a todos os seres humanos e, em certa medida, legítimo. É compreensível e razoável que a pessoa, diante de um perigo iminente ou exposta a uma grave ameaça, sinta medo. Todavia, o medo exagerado e constante é nocivo e deve ser evitado, pois impede sobremaneira as mais significativas realizações e iniciativas. Por essa razão, é preciso combatê-lo com coragem e valor. Sem essa luta, o ser humano não se realiza nem se autoafirma.
Se a legítima aquisição dos bens materiais, necessários à vida e à dignidade humana, exige boa disposição de ânimo, força de vontade, disciplina e amor ao trabalho, com muito mais razão as conquistas espirituais, a que se opõem incontáveis elementos sabotadores, como o medo e a preguiça, reclamam, por serem muito mais grandiosas e excelsas, ainda maior energia, firmeza e perseverança.
É muito recomendável – e temos feito reiteradas menções a esse respeito – que nos recolhamos todos os dias, em horários definidos, para praticar nossa higiene mental e, 15 minutos antes, de forma sincera e detida, proceder a um reexame de nossa consciência, analisando a qualidade dos pensamentos que emitimos, o valor dos sentimentos que nutrimos e as consequências dos atos que praticamos.
Tal procedimento cria um poderoso hábito que evidencia que a verdadeira luta a ser travada no sentido de alcançarmos realizações sustentáveis não é externa, tampouco se dirige contra nossos semelhantes; é, antes, uma luta íntima, contra tudo aquilo que nos impede de conquistar a paz, a saúde e a felicidade.
No transcurso da luta interior contra nossos maus hábitos e imperfeições, que tem como objetivo o aprimoramento ético e moral, torna-se imperioso examinar quais pontos de nossa personalidade precisam de maior atenção, ou seja, quais aspectos aninhados em nossa mente absorvem nossas energias e agitam nosso espírito, causando desarmonia emocional. É na direção desses obstáculos interiores, sabotadores de nossas conquistas, que devemos direcionar os melhores pensamentos, contra-atacando com o cultivo das virtudes, a começar pela humildade, que instrumentaliza e sustenta todas as demais.
Sem humildade, somos dominados pelo orgulho; tomados pelo orgulho, tornamo-nos soberbos; e inebriados pela soberba, distanciamo-nos cada vez mais de nossos reais objetivos de vida. Cônscios de que estamos inseridos em um processo marcado por um mecanismo de erros e acertos, uma vez superado um desafio interno, devemos tornar a olhar para nosso interior, a fim de identificar o próximo inconveniente a ser vencido. É nesse caminhar vitorioso sobre nós mesmos que o espírito se fortalece e obtém conquistas verdadeiramente sustentáveis.
As nossas reflexões nos permitem concluir que as grandes realizações, as valorosas conquistas, aquelas que, por repercutirem em nosso favor, realmente valem a pena, podem e devem começar por movimentos simples, que estão ao alcance de qualquer pessoa, como a autorreflexão e a prática diária da limpeza psíquica, ou seja, da higiene mental recomendada pelo Racionalismo Cristão. Ademais, o enfoque espiritualista que perpassou pela presente reflexão enseja uma significativa ampliação de perspectivas, que pode ser traduzida em ações concretas, como a valorização do silêncio, da simplicidade, do autoconhecimento e do empenho em autotransformar-se.
Muito Obrigado!