Sobre coragem, no dicionário Caldas Aulete, lemos que o verbete é substantivo feminino, mas também pode ser usado como interjeição. Veja um exemplo de coragem como interjeição: “Vamos, coragem, siga em frente!”. Entretanto, para o que propomos iremos ater-nos à seguinte definição do substantivo feminino: “4. Firmeza de caráter, disposição firme a fazer o que se considera correto.” (https://www.aulete.com.br/coragem).
Com base nisso, imaginemos o seguinte cenário: se fosse feita uma pesquisa de opinião com pessoas das mais diversas origens, níveis intelectuais e condições financeiras sobre o que consideram ser uma pessoa corajosa e fossem apresentadas perguntas como: “O que é coragem para você? Como você definiria uma pessoa corajosa?”, talvez as respostas da maioria – se não da maioria, certamente muitas respostas – remetessem a algo que, no senso comum, instantaneamente viria à mente sobre o significa ser corajoso. Aliás, caro leitor, faça agora uma pausa na leitura e responda a você mesmo nossa pesquisa de opinião. “O que é coragem para você? Como você definiria uma pessoa corajosa?”
Corajoso seria aquele “valentão” que tem prazer em provocar brigas a troco de nada e tenta expor ou pôr outros em posição de inferioridade? Quem sabe não é aquele que, irritado e nervoso, “não leva desaforo pra casa”? Ou mesmo aquela pessoa que em vias públicas de transporte automotor faz questão de desafiar a velocidade máxima permitida e acelera seu veículo no limite da irresponsabilidade, pondo em risco a própria vida e a de terceiros? Seria aquele que se vale da força física e cria situações para se mostrar “superior” aos demais? Talvez seja aquele que se esconde atrás do dinheiro – aliás o ato de se esconder por si só já demonstra falta de coragem – ou de influências sociais e familiares em posição de quem se coloca acima da lei com o viés de oposição à autoridade baseado no “Você sabe com quem está falando, sabe quem sou eu?” (neste caso observa-se orgulho também).
Mantenha-se sereno, leitor, reflita e responda a você mesmo: seriam esses os corajosos? A propósito disso, perguntamos: Você é corajoso? Conhece alguma pessoa corajosa? A resposta fica fácil quando consideramos a definição acima destacada sobre a coragem (Firmeza de caráter, disposição firme a fazer o que se considera correto). Se você é uma pessoa que tem firmeza e disposição irremovível de fazer o que deve ser feito, o que você, refletidamente, considera correto a despeito de opiniões ou influências de terceiros e se mantém lúcido e sereno em suas decisões, parabéns pela coragem, você é uma pessoa corajosa!
Enfrentamento de contrariedades. O argumento basilar de nossa exposição é o seguinte: ter coragem implica, necessariamente, o enfrentamento de contrariedades – próprias e de terceiros. Nas relações sociais sempre haverá alguém que, tanto nas pequenas quanto nas grandes decisões, se sentirá, por orgulho ou vaidade, preterido ou desprestigiado. Face a isso, a coragem nos ordena: “Faça o que deve ser feito!”
Observa-se, assim, que a coragem nunca está sozinha. Tem como companheiros fiéis a paciência, a serenidade, a reflexão, a perseverança, a renúncia, o controle emocional, a hombridade, o apreço pela verdade, a resignação, a superior compreensão da vida e várias outras virtudes. Como desdobramento do argumento basilar, podemos afirmar também que corajoso é aquele que se levanta todos os dias para trabalhar, ainda que sob remuneração aquém da que seria suficiente para suprir suas necessidades básicas e faz o que deve ser feito: trabalha! É quem se nega a valer-se de “oportunidades” de se apropriar do que pertence a terceiros com o fito de suprir o que lhe falta, a despeito de opiniões ou de tentativas de submetê-lo sob pressões ou ameaças, explicitas ou veladas: “Junte-se a nós. Será melhor para você!”
Tem coragem aquele que se recusa a assumir – como moeda de troca a interesses escusos – um posto de trabalho que sabe estar além de suas capacidades profissionais mesmo sendo pressionado pelo ofertante a ocupar a posição, pois a “remuneração” (ou seria propina?) valerá a pena. Mais coragem ainda demonstra o que sabe que tem recursos técnicos e profissionais para assumir o cargo, mas nas bases apresentadas, se recusa peremptoriamente a fazê-lo.
Têm coragem aqueles que, como os profissionais da segurança pública, sob o risco da própria vida, fazem o que deve ser feito: colocam-se na linha de frente no combate a pessoas ou grupos criminosos.
Corajosa é a mãe que, na rotina diária, repetitiva, estafante e muitas vezes desvalorizada, não foge das responsabilidades de mãe, de dona de casa, de esposa, de profissional e faz o que deve ser feito: cumpre com todo o esmero e dedicação o que lhe cabe.
Corajoso é o estudante que se recusa a burlar os exames de aprendizagem (provas, exercícios, trabalhos escolares etc.) e se detém no que realmente aprendeu, mesmo que tenha de enfrentar o “prejuízo” de ser reprovado nos exames.
A coragem como fundamento de conduta daqueles que se recusam a se desviar do percurso em que se deve manter dentro dos limites da responsabilidade pessoal e social, tendo em vista que o todo não é maior do que a soma das suas partes, melhora as relações sociais, promove a harmonia, favorece a simplicidade e a transparência e proporciona o aprimoramento da vida em sociedade, além do próprio crescimento e evolução espiritual.
Se fôssemos instados a definir em uma única frase o que é, para que serve e como atua a coragem para o incentivo ao cultivo dessa qualidade pessoal norteadora de uma conduta baseada em valores espirituais, o faríamos assim: Tenha coragem, faça o que deve ser feito!