Da iniciativa à ação

Ouvindo e vendo uma coisa aqui, outra ali, vou pensando em várias ideias. Para não esquecer, comecei a anotar, no celular ou no papel. Tenho até um caderninho cuja capa diz: “Great ideas start here”. Elas vão acumulando-se e vivendo em paralelo com a “rotina oficial”: ideias para reportagens, para cursos, para livros, artigos, para engatar no projeto do doutorado, para ganhar um dinheiro extra… Que dia sairão do papel? Quando essas ideias darão frutos?

Com certeza, vocês terão uma história parecida. Esse acúmulo incomoda. É como acumular coisas antigas. Elas devem ser selecionadas: ou damos um novo destino a elas ou vão para o lixo, pois guardá-las para sempre não é vantagem. Ocupam espaço, impedem que coisas novas cheguem.

A que levou todo esse incômodo que eu estava sentindo? À providência de abrir o livro publicado pelo Racionalismo Cristão Ao Encontro da Espiritualidade (nova edição), de Luiz de Souza, um dos meus autores preferidos. O capítulo que abri, depois de umas três folheadas, foi Iniciativa. Nada mais apropriado. Ele a define como “um impulso latente que se manifesta em cada um com maior ou menor intensidade”, exigindo ação, movimento, intercâmbio e frutificação.

“O poder da iniciativa, quando estimulado, incentiva o progresso, atua no seu desenvolvimento positivo, cria situações de bem-estar, sempre que conduzido com elevação espiritual.”

Luiz de Souza distingue ainda iniciativa de providência. Esta é ligada às ações diárias e surge com a cena do momento. Não é essa espécie de iniciativa (chamar a ambulância para prestar socorro, por exemplo) de que trata o texto. Ele continua:

“As grandes iniciativas só podem partir de seres que tenham larga folha de serviços executados em numerosas vidas do passado; de seres experimentados na solução de dificuldades, no aproveitamento de ideias; de seres que já tenham posto em prática, com êxito, as mais aplaudidas iniciativas; de seres que adquiriram confiança em si mesmos; de seres cuja estrutura espiritual tenha sido enrijecida nas batalhas da vida.” Podemos até não saber até que ponto estamos nesse grupo, digamos assim. Mas a necessidade de aproveitar as ideias e ter confiança em si deve começar a ser exercitada.

Uma ideia, saindo do papel e passando pelo necessário planejamento, pode ainda não atingir o resultado esperado, mas o autor lembra que isso não é motivo para desânimo, “pois as experiências também têm seu preço”. Portanto, é custoso, mas não é o fim do mundo.

“Há os que se queixam dos reveses, das injustiças sofridas, das incompreensões humanas, das agruras por que passam, das dificuldades, das insuficiências e de todas as aflições que ocorrem…” É esse o nosso caso?

Pois lá vai o puxão de orelha de Luiz de Souza: nós não levamos em conta que “é por meio desse rigor nas condições terrenas que a alma se retempera e se entrega, mais tarde, aos mais elevados empreendimentos”. Dá para ver que essa evolução nos leva àquele grupo que eu citei primeiro: o dos que têm grandes iniciativas. Aos poucos, todo mundo chega lá.

E o que fazer até lá? Exercitar, pôr as iniciativas em movimento. “A tendência de quem exercita essa qualidade é multiplicar suas iniciativas, que passam a ocorrer, mais repetidamente, face aos problemas que surgem.”

Um exemplo: tenho ideias de escrever várias coisas. Como são várias, estou incomodada por elas ainda estarem no papel. Aí, pego um livro para encontrar palavras sábias e, pronto, eis um artigo escrito. E publicado.

“Não é possível conceber a evolução sem se reconhecer, por trás dela, acionando-a, a mola da iniciativa.” (Luiz de Souza)