De boca fechada não saem vitupérios

Do ditado ‘em boca fechada não entra mosca’, depreende-se que ‘de boca fechada não saem vitupérios’. Não se trata de levar desaforo para casa, mas também não há necessidade de soltar marimbondos em cima de um ou outro deseducado que se assanhe.

Um antecessor usava a expressão ‘bateu, levou’, modelo de relacionamento ajustado aos tempos atuais, com pancadas muito mais contundentes. Intensificaram-se as agressões ou apenas os revides?

Inegavelmente o presidente tem feito bastante, tem feito o que pode, mas a população brasileira precisa de mais, e tem pressa. Passou muito tempo à espera e apostou na novidade: democrata cuja visão de mundo adquiriu na caserna, o que o induz a certas recaídas que, felizmente, têm servido apenas como referência e ficado na ameaça.

O saldo de realizações em um ano de governo é positivo, mas há reformas por fazer. Congressitas não as travam, ao contrário, acenam com a possibilidade de as aprovar como forma definitiva de erguer nosso país do buraco, porém exigem muito nas negociações. Há que se ter cuidado nas barganhas.

Este é o momento do palavreado comedido, ponderações educadas, ainda que sem afrouxar as rédeas, para que adiante não se torne mais difícil conter os ímpetos.

E a imprensa? E as perguntas que incomodam? Essas precisam de respostas que satisfaçam telespectadores, internautas ou leitores. Perguntar é uma das funções do repórter; responder é obrigação do entrevistado. Ou que não se deixe entrevistar e arque com as consequências de ser acusado de omitir as verdades ao grande público, porque essas verdades são expostas ou reveladas mais nas entrevistas do que nos pronunciamentos isolados, redigidos, revisados e decorados.

O entrevistado tem que ter jogo de cintura para não precisar ser agressivo. Se a pergunta do profissional estiver fora do contexto ou parecer provocativa, deve ser ignorada sem a petulante indicação do ‘quem manda sou eu’. Esta  insinuação vez por outra é feita por mandatários que perdem o controle, a ponto de se esquecer até que o que manda mesmo é a Constituição Federal. Pena que os constituintes não incluíram nas Disposições Gerais a recomendação “todo servidor público, em todos os níveis, esferas e Poderes, devem tratar com urbanidade o público a que serve e que lhes paga o salário”.