Aristóteles, ainda jovem, não querendo mais ser apenas discípulo, mas também mestre, começou a arquitetar um meio seguro e científico de pensar, provar e refutar, e acabou criando a lógica. Com ela sistematizou e aperfeiçoou praticamente todos os saberes de seu tempo. E assim produziu uma obra de impressionante diversidade e complexidade temática, que exerceria profunda influência no desenvolvimento da cultura e do pensamento racionalista do Ocidente.
Tendo em vista, diz um especialista, a importância da variada e ciclópica obra intelectual de Aristóteles, “proeza inacreditável” para um só indivíduo, nunca serão demasiados os louvores ou homenagens que a humanidade preste a esse pensador. Todavia, acrescenta o estudioso, demasiados também não seriam mesmo que sua contribuição ao mundo tivesse sido apenas a invenção da lógica.
Instrumento da razão. A lógica não foi classificada por Aristóteles como ciência. E diz por quê: ela não é o conhecimento teorético ou prático de um ser ou de um objeto. É, isto sim, um instrumento da razão a ser usado com a finalidade de fazer-nos pensar ou raciocinar corretamente.
“Não se referindo a nenhum ser, a nenhum objeto, a nenhuma coisa”, esclarece Marilena Chauí, “a lógica não se refere a nenhum conteúdo, mas à forma ou às formas do pensamento. Por isso se diz que, com Aristóteles, surge a lógica formal.”
Esse instrumento da razão, preconiza ela, é, portanto, o meio adequado a ser usado por quem almeja adquirir saber filosófico e científico. Em grego, a palavra para designar instrumento é ”órganon”, termo que serve de título ao conjunto dos escritos de Aristóteles sobre a lógica.
Disse um dia o velho e saudoso professor de filosofia Ângelo Daversa a seus jovens alunos: “A lógica aristotélica é, sem dúvida, a mais legítima expressão do racionalismo não só da Grécia antiga, mas também de qualquer época. É, ademais, a maior contribuição de Aristóteles à filosofia e à ciência”.
Os pensadores da Grécia que filosofaram antes de Aristóteles acontecer “já muito tinham ensinado sobre o saber e a verdade”, mas foi com o Estagirita que surgiu o filosofar formal, chamado lógica.
Segundo o historiador da filosofia José Cretella Júnior, “a lógica foi estruturada de modo tão perfeito que, ainda hoje, os caminhos trilhados nessa matéria são os mesmos traçados por Aristóteles”. A propósito, comentou também Cretella ser marcante o que disse o filósofo alemão Immanuel Kant: que “a lógica (nascida perfeita) não podia, em nada, depois de Aristóteles, retroceder, mas também não podia dar mais nenhum passo para a frente”.
O silogismo. O ponto básico em que se apoia a lógica é o silogismo – raciocínio dedutivo estruturado a partir de duas orações, das quais se obtém, por dedução, necessariamente, uma terceira. A primeira oração chama-se premissa maior; a segunda, premissa menor; a terceira é a conclusão, deduzida das duas premissas. A conclusão é “necessária”, isto é, não poderia ser nenhuma outra, pois, se fosse, o raciocínio estaria equivocado.
Ou seja, raciocínio dedutivo é formalizar, organizar, dispor em ordem as ideias e dar estrutura e forma definitivas e perfeitas à teoria da inferência.
Para concluir, um exemplo clássico de silogismo:
“Todos os homens são mortais (premissa maior): Sócrates é homem (premissa menor): Logo, Sócrates é mortal (conclusão)”.