Aristóteles, lembramos ao leitor, tendo voltado a residir em Atenas, abriu sua própria escola, o Liceu, assim chamado por situar-se num bosque dedicado ao deus Apolo Lício, “defensor dos rebanhos contra os lobos”.
“Aí, reuniu”, diz um estudioso, “seu rebanho de estudantes contra os lobos da ignorância.” A disciplina escolar no Liceu, que, como a Academia, também adotava a vida comunitária, era mais rígida que na escola de Platão.
Pela manhã, Aristóteles dava cursos técnicos, restritos aos discípulos mais adiantados, isto é, já iniciados em determinada matéria; à tarde e à noite, ministrava os cursos chamados abertos, destinados aos não iniciados, ou seja, ao povo em geral.
Curioso retrato
Testemunhos de antigos alunos do Liceu revelam-nos um curioso e vívido retrato desse grande mestre, que outrora os conduzira, como professor e conferencista, “nas sendas da sabedoria”.
Eis, em resumo, o teor de um desses testemunhos, que nos chegou por intermédio de uma professora de filosofia:
Sócrates era “extremamente feio”, mas sedutor. Platão, além de “extremamente belo”, era elegante e de hábitos frugais e ascéticos. Já Aristóteles, além de baixo e calvo era um tanto barrigudo. Tinha pernas finas e tortas, olhos pequenos e penetrantes. Às vezes gaguejava, mas possuía língua afiada.
Vestia-se com muita elegância e o fazia até de modo ostentoso. Apreciava boa mesa e gostava de prazeres. Era dotado de fino humor e gostava também de brincar e caçoar.
Veja-se, ainda, outro sucinto testemunho. Este nos chegou, em distantes idos, através do velho professor de filosofia do seminário, padre Ângelo D’Aversa:
Em suas aulas e conferências, falava Aristóteles, com seu ceceio infantil, ora acariciando o ego dos auditórios, ora satirizando-os.
Infatigável por natureza, não conseguia permanecer sentado enquanto dava aula, “especialmente pela manhã, período em que os alunos eram pouco numerosos”.
Era o período mais bem-vindo para o mestre, pois era então que podia entregar-se à ocupação mais importante e agradável do dia: expor suas ideias aos discípulos, esclarecer-lhes as dúvidas, e responder-lhes as perguntas enquanto caminhava com eles no “perípatos” (“alameda para passeio”, em grego), situada nos jardins do Liceu.
Assim, logo ganharia o colégio o apelido de “escola dos filósofos peripatéticos” (escola dos filósofos passeadores, ou ambulantes), o que também aconteceu com o a filosofia aristotélica, conhecido até hoje como o sistema peripatético.
Valioso auxílio
Contava Aristóteles, em seus cursos, com o valioso auxílio de dois cientistas: Teofrasto e Eudemo. Estes, além de executar o trabalho de monitoramento desses cursos, faziam o papel — sem dúvida muito importante — de anotar o que o mestre dizia em suas aulas para que ele pudesse depois dispor dessas anotações para escrever suas obras. “Muito do que sabemos dos ensinamentos de Aristóteles e muito do que sabemos das obras dele que se perderam devem-se à conservação das anotações de Eudemo e Teofrasto”, diz uma historiadora do pensamento racionalista ocidental.