Tradicionalmente, não abordamos em nossa coluna assuntos relacionados à geopolítica, pois o ponto central de nossos temas reside nos meios eficazes de aprimoramento dos seres humanos através da espiritualidade proposta pelo Racionalismo Cristão. Preocupamo-nos com o bem-estar da pessoa e procuramos constantemente incentivá-la ao estudo de si mesma e ao harmônico desenvolvimento de seus atributos espirituais. Contudo, permitam-nos abrir uma exceção e falar sobre o lamentável conflito entre Rússia e Ucrânia.
Tendo em conta que a ordem internacional está atualmente rompida, haja vista a invasão da Ucrânia – um Estado nacional soberano e independente –, sentimo-nos impelidos a ampliar, de maneira extraordinária, o espectro de nossas análises filosófico-espiritualistas, dirigindo comentários fortalecedores aos amigos que acompanham o conflito, que tem preocupado sobretudo o mundo ocidental.
Cumpre assegurar que, no contexto atual, em que atingimos grandes conquistas no campo dos direitos humanos e do direito internacional e em que a diplomacia evoluiu consideravelmente, toda espécie de guerra é injustificável, pois representa uma negação à racionalidade e um total desprezo aos valores espirituais. Estes constituem, em verdade, a fonte das soluções para toda e qualquer discórdia.
Os pendores imperialistas não encontram hoje razoabilidade, tampouco justificativa; antes representam a deplorável caricatura de um pensamento fora de época que ressoa a memória intensamente negativa que conservamos das grandes conflagrações do século XX. O que se espera dos países modernos no concerto das nações é uma postura madura e direcionada à ampliação das relações internacionais, permeadas pelo entendimento e respeito recíproco.
Abordar os possíveis desdobramentos práticos do conflito bélico entre a Rússia e a Ucrânia é dar um passo rumo ao desconhecido, pois, metaforicamente, estamos a tratar de um jogo de xadrez cujas peças se movimentam sobre areia movediça da geopolítica contemporânea. Nesse contexto, a grande questão que permeia os dias de quem vive em países que, embora geograficamente distantes do conflito, acompanham as notícias pelos meios de comunicação é esta: “Sofreremos os efeitos deletérios desta guerra?”
Sim, de certa forma, sofreremos, pois toda guerra é uma violência contra a humanidade, uma circunstância em que não há vencedores, uma vez que todos, direta ou indiretamente, são atingidos pela arrogância, pela ganância, pelo orgulho, enfim, pelo materialismo. Todavia, aqueles que se empenham em vivenciar cotidianamente os princípios e os valores da espiritualidade não estão desprotegidos, na medida em que sabem empunhar as armas do pensamento positivo, da confiança em si mesmos e do altruísmo e, simultaneamente, o escudo da certeza de que são transitórias todas as situações terrenas.