Torna-se mais luminosa a luz no fim do túnel a que nos temos referido neste espaço para dar sustentação à nossa inabalável esperança de que melhores dias virão após haverem sido sanados os males que têm afligido a população brasileira e, em particular, a do Rio de Janeiro: intervenção federal nos órgãos de Segurança do estado. É de muita importância essa intervenção, eis que o combate à corrupção segue firme e um pouco de exercício mental nos leva a admitir a relação desta com a violência.
Era previsível o recrudescimento da violência durante os dias de carnaval, mas era também de se supor que a Polícia tivesse planejado um esquema especial para dar segurança a quem vive no Rio de Janeiro e aos turistas que lotam a cidade nesse período. A violência fez o que se esperava dela, mas a Polícia mais uma vez deixou a desejar. Se havia esquema especial de policiamento, ninguém sabe, ninguém viu. Passados os piores momentos, vem o governador a público dizer, com a maior sem-cerimônia, a maior cara de pau: “eu errei na avaliação do esquema de policiamento.” Leia-se: quem perdeu perdeu.
Cada vez mais verdadeiro, o dito alerta: a ocasião faz o ladrão. Óbvio que ladrão cria as ocasiões, vejam-se os políticos de realce que estão na cadeia e os que fazem fila à porta das celas aguardando a liberação de senha pela Lava Jato e outras operações envolvendo Ministério Público e Polícia Federal, que ainda hão de ser criadas.
É inegável que a exposição de objetos de pequeno valor e de joias, algumas, na verdade, bijuterias, atraem a atenção dos vagabundos que infestam a cidade. E isso resulta em ataques de hordas de facínoras que se lançam sobre pequenos grupos de pessoas incautas e indefesas, despojando-as de celulares, filmadoras e dinheiro, dispersam-se e se reorganizam adiante para novo ataque.
Foram saques, assaltos, arrastões que provocavam susto, correria, desespero e prejuízos materiais. Quantos presos por haverem provocado essas situações? Ninguém sabe ao certo. E resta a ação de menores que costumam participar desses atos, mas sobre os quais nenhuma punição pesa. Roubam, matam, estupram destroem o patrimônio público e particular, mas são menores, coitadinhos, protegidos pelo ECA. Falamos aqui do Rio de Janeiro, mas o quadro ajusta-se a qualquer grande cidade do País.
Do carnaval de ilusões ao carnaval das verdades. O protesto contra a violência transbordou e vazou para blocos de sujo e escolas de samba. Tal foi o realismo do retrato da violência e da corrupção que o tema valeu a premiação às agremiações campeã e vice-campeã do carnaval no Rio de Janeiro.
Tudo de mal acontecia na cidade acéfala. O alcaide foi passear na Europa; o manda-chuva estadual abandonou a capital para desfrutar das delícias e tranquilidade de outras paragens. Aquele, com indecifrável sorriso de Monalisa, disse na Alemanha que lá estava em busca de melhorias para a cidade. Fugiu do carnaval, quando devia permanecer à frente da administração, e aproveitou para fugir também da catástrofe pluviométrica que assolou a cidade na quarta-feira de Cinzas. Ausente, pensa não ter sido responsável pelas falhas de atendimento às famílias vítimas de enxurradas, desabamentos, alagamentos. Se estivesse presente, provavelmente se teria omitido, da mesma forma que se tem omitido quando trata de Clínicas da Família e salário dos profissionais que nelas prestam serviço, por exemplo.
Só por uma coisa prima o prefeito: por perguntas ou respostas deseducadas a jornalistas que o encurralam com questionamentos dos quais ele tenta fugir.
Já há muito o clamor público esperava por uma atitude, uma ação que trouxesse tranquilidade, confiança, paz, enfim. Não era mais possível permanecer a população à mercê da bandidagem, convivendo com troca de tiros em que balas pedidas acertavam crianças, policiais, grávidas, enquanto as estatísticas oficiais da criminalidade apontavam aumento de roubo de carros, e roubo de cargas, de ataques a pedestres.
Pois o governador do estado encaminhou a solução: jogou a toalha, capitulou frente ao poderio dos bandidos sustentados pelo tráfico de drogas. Está a segurança do estado sob a direção do general comandante Militar do Leste. Não será fácil capturar todas as armas em poder do tráfico e prender todos os seus chefões e gerentes, mas a população acredita que será possível. Basta competência, que tem faltado aos recentes dirigentes do setor, e ações firmes, drásticas se necessário.