Iniciamos este artigo com a expressão “rir é o melhor remédio”. Conhecemos essa expressão desde janeiro de 1943, durante a II Grande Guerra Mundial, quando assinávamos a revista mensal americana intitulada Seleções do Reader´s Digest, que tinha uma seção com essa denominação. Nada tão verdadeiro! A neurociência confirma essa nossa asserção conforme veremos no desenvolvimento desse tema. Ela nos afirma que o simples ato de rir desencadeia em nosso cérebro os efeitos dos hormônios endorfina, oxitocina, dopamina e serotonina, todos contribuindo para a nossa saúde mental e bem-estar corporal. Tão importante é o título desse tema que foi instituído o dia 18 de janeiro como o Dia Internacional do Riso, por sugestão do indiano Madan Kataria (pai da Yoga do Riso).
Há outra expressão popular que nos diz que “tristezas não pagam dívidas”. Não adianta ficar triste e carrancudo o tempo todo, pois existem estruturas neurais em nosso cérebro integradas com as expressões do sorriso, do riso e da gargalhada e, vice versa, destes para o cérebro. Observe que o semblante “fechado” leva seu cérebro a interpretar que você está triste e infeliz. Portanto, sorria sempre, pois é muito bom para você e é inteiramente gratuito.
Sob as expressões faciais estão os comportamentos de rir, sorrir e gargalhar. Os três indicam um estado interno prazeroso e agradável que chamamos de alegria. Esse estado interno lida com os sentimentos de otimismo, entusiasmo, gratidão, interesse e orgulho, entre outros.
Neurociência. Realizando estudos com macacos Rhesus, Giacomo Rizzolatti (1937) e colaboradores verificaram que os símios imitavam a maioria das tarefas feitas por um deles. Posteriormente, os neurocientistas verificaram que o sorriso, o riso ou a gargalhada de uma pessoa eram imitados por outra, como se estivessem rindo ao mesmo tempo. Esse processo de imitação ocorre pela ativação da ínsula (região do nosso cérebro que nos revela as sensações subjetivas, como a do bem-estar), e de certos neurônios no córtex frontal. Esses neurônios foram batizados de neurônios-espelhos. É por isso que o sorriso é contagiante.
Quem não gosta de ser feliz? Por isso, recomendamos que todas as manhãs, ao se levantar e estiver diante do espelho, comece dando um sorriso radiante para alguém muito especial – você mesmo! Você vai perceber o bem que isso vai lhe fazer ao longo do dia.
No que diz respeito aos neurotransmissores, liberamos mais serotonina, beta-endorfinas (são 31 aminoácidos) e dopamina, os mesmos que liberamos no exercício físico e que nos trazem a sensação de bem-estar e felicidade. As beta-endorfinas estimulam, também, o sistema imunológico, reduzindo o nível do cortisol na circulação sanguínea, um hormônio relacionado ao estresse que é produzido pelas glândulas suprarrenais, bem como melhoram a digestão.
O aumento do ritmo cardíaco na gargalhada aumenta o fluxo sanguíneo, contribuindo para maior oxigenação dos tecidos. Aumenta a entrada de oxigênio nos pulmões e a ventilação pulmonar, eliminando o excesso de dióxido de carbono produzido pela respiração. O riso movimenta cerca de 18 músculos da face e até 80 músculos em todo o corpo, beneficiando a face, o cérebro, a garganta, o coração, o tórax, e até as pernas e os pés.
Sorriso. O sorriso é uma expressão facial em que os lábios se distendem para os lados e os cantos da boca se elevam ligeiramente, deixando os dentes visíveis. Geralmente ocorre como manifestação de alegria, contentamento, satisfação, receptividade, simpatia, gentileza ou amabilidade para com alguém. O sorriso é silencioso, ao passo que o riso produz som.
Destacamos vários tipos de sorriso:
1. sorriso aberto, franco, espontâneo e sincero;
2. sorriso “amarelo’, forçado ou contrafeito, podendo indicar fingimento.
Segundo outra classificação, com relação à exposição dos dentes, o sorriso pode ser caracterizado em quatro tipos:
fechado, quando nenhuma das arcadas dentárias é exposta;
inferior, quando a fileira inferior é mostrada;
superior, quando apenas a fileira superior de dentes é exibida e finalmente, é um sorriso largo, quando tanto a fileira de dentes superior, quanto a inferior estão sendo exibidas. No sentido figurado, demonstra satisfação, boa receptividade.
Os médicos do Hospital do Coração (São Paulo, SP) são unânimes em afirmar que o sorriso ajuda a manter o equilíbrio emocional, diminuindo a tristeza e mantendo as pessoas mais relaxadas, aumenta a autoestima e a disposição para viver. Fisicamente, o sorriso rejuvenesce, aumenta a longevidade, movimenta a musculatura do rosto e ajuda a diminuir o enrugamento da pele. As suas observações indicam que o sorriso alivia a tensão e o estresse e mantém os músculos relaxados por até 45 minutos. Nas palavras do cardiologista Dr. Abrão Cury, “quando você sorri, seu fluxo sanguíneo aumenta, auxiliando no controle da pressão arterial e protegendo contra ataques cardíacos e outros problemas cardiovasculares”.
Riso. Eis as definições dos dicionaristas para o riso:
1. Ação ou efeito de rir; risada; gargalhada: escárnio e zombaria:
2. No sentido figurado, júbilo, alegria e regozijo;
3. Riso amarelo, riso contrafeito, que é usado para reagir a uma decepção.
Há também o riso tímido e constrangido, na hora errada, como por exemplo, quando alguém escorrega e cai ao procurar abrigar-se de uma chuva imprevista. O riso está diretamente relacionado à interação, o que nos faz rir quando estamos acompanhados por alguém.
O riso envolve vocalização, enquanto o sorriso é uma expressão facial normalmente sem vocalização pré-estabelecida, mas o sorriso pode expressar-se enquanto uma pessoa fala. A vocalização do riso é semelhante ao da gargalhada com um som típico e discreto.
Com a crise da pandemia do coronavírus que, durante mais de dois anos, se espalhou e ainda espalha pelos mundo inteiro, o riso tornou-se “artigo raro”, “artigo de luxo”. Em consequência disso, as emoções do medo, ansiedade e depressão aumentaram. As pessoas se esqueceram de sorrir, rir e soltar boas gargalhadas. Rir faz bem à saúde, porque ajuda a liberar os hormônios da felicidade, a relaxar os músculos, o corpo, a mente e a melhorar a pressão arterial.
Todos nós sabemos quando chega a hora de rir das coisas e das situações engraçadas dos palhaços nos picadeiros dos circos, nos palcos dos teatros, das novelas de TV, das piadas bem contadas; e até quando nos fazem cócegas devemos fazê-lo e até mesmo dar boas gargalhadas.
Gargalhada. A gargalhada é uma risada espontânea, explícita, prolongada, ruidosa e até espalhafatosa, bem diferente do que ocorre com o riso, que é mais ou menos contido. A gargalhada difere do riso por ser de alta intensidade, com ações faciais mais prolongadas e vocalizações intensas Nos extremos, comparada com o sorriso, este é comedido. Ela pode provir de atividades de natureza cômica ou engraçada, ou mesmo a partir de histórias ou piadas bem-humoradas.
As reações físicas são semelhantes as do riso, mas as pálpebras se fecham. Na gargalhada ocorrem também movimentos da cabeça; e ainda diferente do riso, a gargalhada é sempre uma ação explícita.
O Hospital do Coração recomenda e comprova que dar boas gargalhadas ajuda no bom funcionamento do sistema cardíaco.
Conclusão. O riso faz parte da vida! Com ele tudo fica mais fácil, traz alegria e luz ao nosso semblante. O riso é sempre um comportamento voluntário e se expressa criando uma situação feliz e engraçada. Ele revela nossos pensamentos, sentimentos e emoções perante os relacionamentos sociais, sendo, muitas vezes, “contagioso”, provocando riso nos demais. Os três, o sorriso, o riso e a gargalhada, atuando individual ou conjuntamente, trazem os melhores benefícios ao nosso bem-estar físico, mental e espiritual. Portanto, “rir é o melhor remédio”.