A “pequena grande frase” proferida por Manuel Nobre Martins numa mensagem à Casa-Chefe, a 1º de julho de 1947 – Convicto de que sou – foi o mote do discurso do militante José Manuel Silva Pires Ferreira em que exaltou as qualidades de Lela Martins.
Lembrou o orador que havia oito meses que se iniciara a limpeza psíquica no Paul, na casa de Manuel Martins. Nessa mesma oportunidade enviava, para conhecimento da Casa-Chefe, uma exposição feita ao governador da colônia, denunciando as perseguições que o Racionalismo Cristão sofria à luz da Concordata com a Santa Sé, no auge do fascismo salazarista em Portugal.
A seguir, um resumo do discurso: Nenhuma resposta recebeu do governador porque, este, se desse ouvidos ao pedido de facilitar a prática do Racionalismo Cristão no Paul, também punha em risco o cargo de governador. Sua Excelência não teve outro jeito senão calar. Os militantes entenderam que “quem cala consente”.
Evidentemente que Manuel Martins continuou, e predisposto a enfrentar os desafios e dificuldades com comportamento audacioso contra o fascismo, fazendo circular a informação da luz e da verdade universais.
Um antecessor do governador Alves Rossadas (que recebeu a exposição da casa racionalista cristã do Paul), para reduzir a crise de fome absoluta que assolava Cabo Verde, utilizou por decisão própria verbas da venda de urzela (propriedade da Coroa portuguesa) para socorrer famintos moribundos, e foi imediatamente demitido.
Sentimento coletivo. No momento em que se comemoram os 70 anos da Doutrina em Santo Antão, utilizamos a frase de Manuel Martins – “Convicto de que sou’ – para articular os sentimentos de todos os militantes a amigos da filosofia cristã na construção positiva do Todo Universal.
“Convicto de que sou” integra também a interpretação do mestre quando, na comunicação ao governador da Colônia, confessa que “descansou nos princípios do Racionalismo Cristão”, e significa que na dinâmica da vida não há condições de se ser neutro. Ou se procede para o bem ou se procede para o mal. Portanto, há regras normativas, padrões de conduta, organização própria, processos que indicam caminhos mais curtos, ajustando-se, sejam quais forem as ocasiões em pauta. Esses princípios levam a prevenir e a corrigir erros terrenos como por exemplo: “Não ao defeito; combate à vaidade e à avareza; dominar a inveja e a luxúria; e, em substituição, promover a honestidade, o valor da lealdade, auxiliar o necessitado, repelir maus pensamentos, combater a maledicência etc etc.”, podendo-se aventar inúmeros princípios racionalistas cristãos que o ser humano deve vibrar no compromisso com a vida e com o bem.
Na comunicação, a referência “Aura de Justiça que o espírito governante libertou em Cabo Verde”. Com essa imagem de aura nobre e justiça, o governador não ficou indiferente e lá no fundo da sua consciência teria naturalmente pensado em não agir, o que favoreceu o Racionalismo Cristão, não obstante a insistência da Polícia Política salazarista.
Princípio da evolução. Numa das recentes lições, o mestre Manuel Nobre Martins comunicou em reflexo que não há gerações ultrapassadas nem gerações espontâneas. Quis o mestre aprofundar a discussão sobre o princípio da evolução perante o que se passa diante da vida. No decorrer das épocas da sua existência, as pessoas que habitam um espaço no planeta são dotadas para construir o que a sua capacidade permite, o que os atributos do espírito definem realizar. Todos posicionam-se à mercê da sua potencialidade humana, do acervo acumulado no espírito como resultado de experiências vividas no passado, dos valores morais registrados de sabedoria adquirida de encarnação em encarnação.
Agora assinalados os 70 anos da vida do Racionalismo cristão no Paul em termos materiais com representação em busto, o mestre Manuel Martins está simbolicamente convidando os irmãos em essência para que sigam os princípios da Doutrina e cada um invista no progresso da sua espiritualidade.
É com pleno amor que a administração presidida por Feliciano do Rosário vibra pensamentos de valor e de profunda gratidão ao mestre pela construção do farol luminoso a irradiar desde Santo Antão para o Universo, na construção da paz, harmonia, justiça, espiritualidade e progresso da humanidade.
Saudamos a Sra. Arleth Lima, militante desde os 14 anos de idade e que só não integrou a primeira corrente por ser ainda adolescente. Completam-se agora 70 anos de luta dessa militante que foi vice-presidente e assumiu a presidência do Racionalismo Cristão no Paul depois que Manuel Martins faleceu. É um exemplo vivo de determinação, amor e total dedicação à causa racionalista cristã que exaltamos para ser seguido. Muito obrigado, querida Arleth Lima.