Infantilidade psíquica

Ao analisarmos o tema desta reflexão pela perspectiva da espiritualidade, torna-se necessário dizer que interpretamos a infantilidade psíquica como um estado emocional, manifestado pela pessoa que exterioriza, de maneira constante, um quadro de emoções contraditórias e nutre sentimentos indefiníveis, que não se detém em seus pensamentos e tende a estabelecer relacionamentos superficiais e desgastantes. Tal pessoa alimenta, não raro, excessivo amor-próprio e doentia desconfiança, sentimentos potencializados pela impaciência, insolência e vaidade, que a afastam cada vez mais de seus reais e legítimos objetivos de vida. 

Há que abordar, antes de tudo, uma questão inserida nesta temática: a infantilidade psíquica é uma característica espiritual da pessoa? Entre as múltiplas respostas possíveis, uma há que intencionamos liminarmente desconsiderar, por constituir, na verdade, um equívoco que, se não esclarecido, esvaziará de sentido nossa reflexão: trata-se da resposta fatalista que afirma ser a infantilidade psíquica uma realidade insuperável, um mal com o qual o ser humano deve aprender a conviver. Não concordamos em definitivo com essa tese. Estamos inseridos em um processo e amadurecemos espiritualmente à medida que nos damos conta dessa realidade, tomando conhecimento de quem somos e assumindo nosso protagonismo na vida. Logo, o somatório das informações aqui reunidas visa contribuir para a superação da imaturidade e suas danosas consequências. 

As atitudes sabotadoras manifestadas pela pessoa que ainda não alcançou um razoável nível de maturidade psíquica podem dar-nos a ideia de quanto o desprezo pela espiritualidade oprime e asfixia a personalidade. O desconhecimento da própria essência e, por conseguinte, das próprias potencialidades pressionam e angustiam o ser humano, enquadram-no e limitam-no como grilhões que o impedem de se autoafirmar. Assim, desconhecedora de sua essência e, portanto, imatura do ponto de vista espiritual, a pessoa permite que seus passos sejam manietados por circunstâncias alheias a seu controle e conhecimento, descambando, mais hoje, mais amanhã, no campo do desequilíbrio psíquico. 

Um número não pouco expressivo de pessoas pensa, ao menos em algum momento da vida, que a disciplina e a ordem no viver configuram uma realidade limitadora da espontaneidade, dentro de cujos limites rígidos e definidos a personalidade padece de um rigorismo excessivo. Ora, o conhecimento da espiritualidade divulgada e defendida pelo Racionalismo Cristão conjugada com a observação atenta da natureza que nos envolve remove e dissipa tal reducionismo. 

Numa contraposição de sentidos, irrefutáveis provas de maturidade espiritual dá o ser humano que, inteligentemente, adota a disciplina como um princípio de vida e, mais do que isso, quando a sabe mesclar harmonicamente com a ética e a moral. Logo, seu comportamento, por ser irrepreensível, é digno de elogios e fonte de inspiração, que honram o bom senso e a atitude discreta, tornando nele próprio mais aguda a consciência do valor e das potencialidades que possui em seu âmago. Por via de consequência, suas decisões não costumam sofrer as oscilações de um humor infantilizado e quase sempre inoportuno.  

Importa pôr em relevo que o ser humano que toma conhecimento das informações aqui coligidas e reconhece, num momento de sincera autorreflexão, sua infantilidade psíquica, verificando como lhe é importante superá-la, deve iniciar seu processo de amadurecimento pela conscientização de sua essência espiritual e do imenso valor de seus atributos e faculdades.  

Gostaríamos de salientar que, para a superação dos desafios que a vida nos apresenta constantemente, não carecemos de generalizações precipitadas, tampouco de explicações simplistas, mas de uma visão ampla, compreensiva e ordenada da realidade que nos cerca, que é muito mais vasta do que as imposições sociais, as notícias da mídia, os convencionalismos temporais. Requer-se de nós, sobretudo nos dias atuais, um certo senso prático preso à realidade, sem a invenção de teorias ou métodos revolucionários, sem heroicidades, metas fantasiosas e sonhos que nunca se materializam. Quando desenvolvemos a firme convicção de nosso valor, confinamos em áreas periféricas de nossa existência o mero intelectualismo, as discussões estéreis, as ilusões falaciosas, a ação titubeante e a infantilidade psíquica. 

Com certeza, a pessoa madura e consciente impõe-se pela firmeza de seus atos e pela dignidade de suas deliberações, adquirindo paulatinamente maior acuidade, novos rigores e critérios, libertando-se da ingenuidade de querer buscar seu espaço na sociedade sem antes encontrar-se consigo mesma no imo de seu ser. Aprendeu o ser convicto de sua força interior, graças a seu esforço e dedicação, o imenso valor da autoanálise e da circunspecção e deu-se conta da explosão de saberes que brota espontânea do processo de amadurecimento psíquico. 

Muito Obrigado!