Inovar para não se perder

A inteligência artificial aí está, mais sofisticada e apressada, a julgar pelo andar da carruagem. Alimenta-se da máquina e do homem, um aprendizado mútuo. Deixa os bancos acadêmicos e senta-se à mesa com a indústria e governos. Seus objetivos neste século XXI extrapolam da pesquisa à prática: resolver problemas da vida real (sobretudo do trabalho) pela automatização de tarefas complexas, pesadas, rotineiras, e aumentar os níveis de qualidade de vida com a mixórdia de dispositivos virtuais à disposição aos que têm acesso.

Explicar o modelo, interpretá-lo, desemboca no desempenho, maior ou menor, mais ou menos funcional, da máquina. Os Estados Unidos sobressaem, pioneiros que são em sofisticado poderio militar, mas a China corre próxima. Não é só a alta tecnologia de guerra, mas de tudo. Os “gigantes” tecnológicos arrojam novos produtos inovadores, um após outro. Tornam-se nossos companheiros do dia a dia: computador, celular e afins (o iPhone da Apple), produtos de varejo (Amazon.com), pagamentos seguros, não importa o destino (PayPal e suas toneladas de sites de e-comércio), o mundo da comunicação em 140 caracteres do Twitter, os investimentos confiáveis da Microsoft, a chinesa Alibaba assustando a Amazon, o mundo da diversão transformado pela Netflix, e sei lá mais o quê. É procurar no Google.

Segundo os chineses, saímos da guerra informatizada para a guerra inteligente. Por isso, incentiva seus talentos top, sobretudo no setor civil, mas os americanos continuam abrigando o maior número de especialistas em inteligência artificial, no Vale do Silício. 

Um dos aspectos mais discutidos da IA é se a máquina pode ou não ser criativa. Um debate velho com nuanças novas: o homem pode valer-se da máquina para tornar-se mais criativo? Em termos de impacto, as grandes indústrias teriam, claro, maior potencial para aplicação da IA – e consequente reformulação da estrutura de trabalho. Por exemplo, o ofício jurídico. Com tantos dados para o cérebro humano processar, o melhor é passá-los ao computador. Menos dor de cabeça, mais rapidez e consistência de resultados. Quem sabe, justiça também.

Em publicidade, contam-se a Intel, a alemã Software AG, IBM e outras, de há muito adeptas do recurso digital para produzir verdadeiras obras de arte em desenho gráfico. A Alemanha, diga-se de passagem, detém o título de país com a economia mais inovadora, graças, em parte, ao desenvolvimento acelerado do carro autônomo. Financiando a pequena e média empresas voltadas a projetos de e-mobilidade, corresponde ao nível de sofisticação exigido pelo consumidor alemão. Pretende, assim, atendê-lo, seja em planejamento urbano sustentável, fontes energéticas amigas da ecologia ou, ainda, medicina personalizada. O que, em muitos outros países, também é premência. Inclusive no Brasil (capítulo no Índice Global de Inovação), preocupado com novos paradigmas de automação, sobretudo no setor energético.

Outra indústria relevante, a da assistência à saúde, emprega robôs (para idosos e doentes crônicos), sensores de alerta à detecção de depressões, dispositivos para prevenção, cirurgias, análise do genoma humano. AiCure (Terapia de Observação Direta via smartphone) vale-se de imagens para confirmar a ingestão de remédios e obter resposta (feed-back) em tempo real. Na Estônia, em vigor a tecnologia blockchain (base de dados de ativos compartilhados em rede) num sistema oficial que assegura assistência a um milhão de pacientes. Também o usa para atrair empresários/investidores via cartão virtual de residência (e-residente). Dubai, por sua vez, planeja fazer todas as transações até 2020 pela tecnologia blockchain. 

Na Dinamarca, os serviços hospitalares, à base de computador, fazem prevenção, diagnóstico e tratamento. E a excelência da Clínica Mayo deve-se ao emprego da alta tecnologia até para próteses, ossos, preparação cirúrgica e cirurgia em órgãos de difícil acesso. Ambiente perfeito para a IA são os mercados financeiros. Compra e venda, informação agregada e suplementar, e afins, para contextualização e análise de ações comandam um universo enlouquecido: troca de ideias por celular ou computadores (em escala nacional e internacional), e-mails, vídeos. Com menos ruído, a IoT (internet de objetos) serve às cidades inteligentes, coletando dados, enquanto as redes sociais, bem ou mal, traçam seu papel neste mundo virtual – que já é real.

Não fica fora o aspecto pessoal. Por chatbots respondem-se perguntas; Amazon e Uber oferecem serviços domésticos com humanoides. Nem a mídia. A inteligência artificial ganhou curso recente no Knight Center Journalism in the Americas: como cobrir e entender seu impacto no jornalismo. À tona, flagrantemente, a transformação dos negócios e das sociedades pela solução digital. Rastrear as tendências na economia e trabalho/emprego ajuda a coexistir. Afinal, o planeta Terra evolui também pela inovação.