Este artigo pretende enfatizar o valor e o papel influente da intuição nas descobertas e invenções científicas que ocorreram antes mesmo da instituição do chamado “método científico” por René Descartes (1596-1650). Todos nós sabemos que a verdade dos sentidos e da razão impera nos sistemas científicos e filosóficos, admitindo-se como suas fontes de verdade a dialética da razão humana e o testemunho dos órgãos dos sentidos.
Na Matemática imperam a lógica e as ciências naturais (Física, Química etc.) que se apoiam na verdade dos sentidos (observação). E a fonte da verdade oriunda da intuição, também chamada de inspiração, revelação e percepção extrassensorial entre tantos outros nomes, por que nem sequer é mencionada ou mesmo questionada? Como uma fonte, distinta da dialética dos sentidos, pode existir? Vamos demonstrar que a resposta a esta segunda questão é positiva. E mais, que nem sempre a observação em todas as suas formas (experimental, estatística, clínica e racional) garante toda a verdade. Seguindo essas ideias, vamos elencar e documentar neste tema uma serie de descobertas que tiveram como fonte a intuição.
É inegável que inúmeras descobertas matemáticas, filosóficas, científicas e invenções tecnológicas foram e continuam sendo devidas à intuição, no testemunho de seus próprios autores, muitos deles até com pouca instrução. Tais testemunhos e seus registros confirmam a validade dessa fonte ainda questionada pela maioria dos cientistas. São investigadores cuidadosos e respeitáveis da história da experiência humana, filosofia, ciência, religião e outros ramos do conhecimento humano que dificilmente alguém pode negar que tal fonte de verdade exista. Não há como não atribuir a essa fonte as grandes e positivas contribuições para a história do pensamento humano, filosofia, ciência, arte, religião, ética, tecnologia e até dos valores econômicos no dia a dia das pessoas. Quem se der ao trabalho de ler este artigo até o final não terá dúvida de que todas as proposições lógicas e teorias empíricas são baseadas em postulados e axiomas. A única fonte do caráter autoevidente de tais postulados e axiomas é a intuição.
Nas afirmações do Racionalismo Cristão todos somos “médiuns intuitivos”, e isso é uma grande verdade. Afinal, o que é uma intuição? Uma intuição é uma percepção especial instantânea, independente dos recursos da razão, que não advém dos sentidos físicos, mas sim de vibrações extrassensoriais que se repercutem em nossas mentes, vindas de uma fonte externa de conhecimento e saber. Elas são recebidas via consciência, ou mais frequentemente, em estado semiconsciente ou inconsciente que os psicólogos e os espíritas denominam de transe. Ela opera segundo a lei da atração, confirmando que há, sem dúvida alguma, um método intuitivo e uma percepção intuitiva imediata que influencia a razão e todas as outras formas de conhecimento. Podemos até afirmar que a intuição não é uma alternativa à razão ou aos sentidos físicos, mas tem, no mínimo, a função de formar uma base para o raciocínio lógico e a razão. Mais que isso, suas funções mais amplas permitem aos seres humanos lidar com o que é inacessível à razão, colocando-nos em contato com as realidades invisíveis.
John Stuart Mill (1806 – 1873), filósofo e economista britânico, Henri Bergson (1859 – 1941), filósofo e diplomata francês laureado com o Nobel de Literatura de 1927, Carl Gustav Jung (1875 – 1961), psiquiatra suíço e muitos outros honrados e respeitáveis filósofos e psicólogos salientaram que, na verdade, “a maioria dessas características da intuição constitui um método sui generis de cognição da verdadeira realidade”. Disse John Stuart Mill: “As verdades conhecidas pela intuição são as premissas originais a partir das quais todos as outras são inferidas”.
Na Matemática, a intuição é considerada a fonte de certas noções e conceitos a priori, na forma de postulados e axiomas, que vêm espontaneamente e são geralmente aceitos, servindo como base para a superestrutura racional erguida por meio de raciocínio dedutivo e indutivo próprio desse ramo do conhecimento humano. Portanto, entendem os matemáticos que a intuição é de suprema importância e está além da razão.
Na Psicologia, J. B. Rhine, autor de Percepção Extrassensorial (Boston – 1935) e Novas Fronteiras da Mente (New York, 1937), e muitos outros renomados investigadores aceitaram e usaram o método intuitivo como uma fonte genérica para seus trabalhos.
Com relação à própria linguagem indispensável para sustentar todo e qualquer pensamento, podemos afirmar que ela não foi criada pela dialética da razão, mas representa um produto da intuição. Alguns pensadores chegam a ponto de colocar a intuição como a base de nossa percepção.
Portanto, é inquestionável que a intuição tem sido, desde os primórdios da civilização, a fonte de uma grande quantidade de invenções e descobertas em todos os campos da cultura humana, incluindo-se a Ciência, a Tecnologia, a Matemática, a Filosofia e até disciplinas sociais e humanistas, como a Arte, a Religião, a Ética e outros sistemas culturais.
É notável e do conhecimento de todos nós que a intuição foi a fonte da descoberta da gravidade por Sir Isaac Newton (1643-1727). Eis como é narrado esse episódio: “Em um dia memorável, uma maçã cai com um leve baque a seus pés. Foi um incidente insignificante que foi ociosamente notado milhares de vezes; mas agora, como o clique de algum pequeno interruptor que inicia uma grande máquina (o Universo) em operação, provou ser a corrida que despertou sua mente para a ação, como em uma visão, ele viu que se a atração misteriosa da Terra pode atuar através do espaço até o topo de uma árvore, então, pode até chegar tão longe quanto à Lua”.
Da mesma forma, temos o caso de Arquimedes de Siracusa (287 a.C. – 212 a.C.), matemático, físico, inventor e astrônomo na antiga Grécia, que saiu correndo de sua banheira até à rua, esquecendo-se de colocar sua roupa, gritando “eureca” (eu achei a solução). O problema era descobrir quanto de prata tinha uma coroa de ouro supostamente puro. Também notável foi o caso de Galileu Galilei (1564-1642), físico, matemático, astrônomo e filósofo que, ao observar uma lâmpada oscilante no teto de uma igreja descobriu a lei do pêndulo, abrindo um enorme campo prático para a construção de relógios. Muitos exemplos desse tipo que trouxeram pequenas e grandes descobertas poderiam ser citados.
Assim sendo, fica claro que a intuição é a primeira fonte do conhecimento, juntamente com a razão, segunda fonte, e a experimentação baseada na observação dos sentidos físicos, a terceira fonte. Só muito tempo depois, René Descartes (1596-1650), em seu Discurso sobre o método estabeleceu o chamado método científico baseado na observação e na experimentação.
Concluindo, podemos afirmar que a verdade e a realidade de todas as coisas recaem no tripé intuição, razão e experimentação.