“A intuição lhe diz o que fazer, sem que você precise usar a razão. É a parte ilógica da existência.” – Sharon Franquemont, psicóloga americana.
Vimos no tema anterior que realidade e verdade são coisas diferentes. Vimos, também, que a intuição é a mais comum de todas as formas de mediunidade e todas as pessoas a possuem, em maior ou menor grau. Vamos, agora, focalizá-la de uma forma mais ampla e profunda, dada a sua importância nos processos que envolvem a criatividade humana, tanto nas pequenas situações da vida como nas grandes descobertas da ciência. Na verdade, a intuição é uma das fontes do saber humano adquirido via processo inconsciente derivado da manifestação da espiritualidade das pessoas.
Eis aqui o que os dicionários nos informam sobre intuição: 1. Ato de ver; perceber; discernir; percepção clara e imediata; discernimento instantâneo; visão. 2. Ato ou capacidade de pressentir; pressentimento. 3. Filosofia: Conhecimento imediato de um objeto ou plenitude de sua realidade, seja esse objeto de ordem material ou espiritual; 4. Apreensão direta, imediata e atual de um objeto, na sua realidade individual”. Ou seja, sob o ponto de vista espiritual, intuição é uma faculdade que gera o processo intuitivo.
Assim, a intuição ocorre quando se tem uma compreensão repentina de alguma coisa, o que representa um conhecimento que se obtém diretamente, sem o auxílio da razão, muitas vezes depois de ter recorrido a esta de maneira persistente e contínua na solução de algum problema, sem obtê-la. Quanto maior for a nossa capacidade de encarar qualquer problema por um enfoque bem diferente do modo comum de ver as coisas, mais receptivos estaremos à intuição. Em Psicologia se usa, com frequência, a palavra insight (lampejo ou estalo) como sinônimo de intuição, mas há uma diferença marcante: a intuição é a capacidade de prever possibilidades, enquanto que o insight é a forma como a intuição é revelada.
O ser humano é um composto de três elementos: espírito, corpo astral ou corpo fluídico e corpo carnal ou corpo físico. O espírito prepondera sobre os corpos astral e físico, sendo ele o responsável pela geração e emissão das vibrações do pensamento, decodificadas e interpretadas pelo cérebro, com passagem obrigatória pelo corpo fluídico, que é o meio sutil intermediário que registra as vibrações derivadas do pensamento.
O Racionalismo Cristão nos ensina que “o pensamento é vibração do espírito, manifestação da inteligência, poder espiritual saturado de força”. As ondas de força e poder do pensamento preenchem a superfície da Terra em todas as direções e alcançam inclusive o espaço superior, do mesmo modo que ocorre com as ondas hertzianas usadas nas transmissões radiofônicas e de TV. As vibrações espirituais têm diferentes propósitos e são geradas e moduladas em função da enorme quantidade de sentimentos que cada ser humano exerce durante a sua atividade cotidiana. Por sua vez, elas se somam e se aglutinam de acordo com cada tipo de sentimento e propósito das pessoas. Através de um processo que segue a conhecida lei da atração e repulsão dos pensamentos, os sentimentos afins se atraem e os sentimentos contrários se repelem, diferenciando-se em sentimentos positivos e sentimentos negativos. É fácil compreender a enorme quantidade de ondas de pensamento diferenciadas que são emitidas, a cada instante, não só por todos os habitantes (encarnados) da Terra, como pelos espíritos do astral inferior (que estão desencarnados e quedados na superfície da Terra) e pelos espíritos do Astral Superior, no espaço e nos seus mundos espirituais de origem.
Da mesma forma que o pensamento é gerado pelo espírito de cada pessoa, ele também pode ser captado. Então, no processo do pensamento, ele tanto pode ser gerado e emitido, como pode ser recebido de qualquer das fontes mencionadas, bastando entrar em sintonia com outros pensamentos afins. O segredo reside na afinidade de pensamentos que a lei da atração e repulsão propicia, atuando a afinidade como uma sintonia, da mesma forma que se sintoniza uma estação de radio ou de TV. A sintonia fina se completa pela atenção e concentração no assunto objeto de nosso pensamento. Nós recebemos ou transmitimos aquilo que queremos.
Segundo os princípios espiritualistas do Racionalismo Cristão, citamos: “Todos os seres humanos são dotados, dentre outras, da faculdade de intuição – faculdade mais receptiva e mais sensível em uns do que em outros. Por meio dela, espíritos desencarnados que perambulam pela atmosfera fluídica da Terra, em estado de perturbação (aqui genericamente mencionados pela designação de astral inferior), interferem na vida e nos pensamentos dos seres encarnados, levando-os – quando estes não reagem por meio do pensamento acionado pela vontade consciente – a cometer as piores ações, fazendo-os chegar, frequentemente, à obsessão”.
Temos, assim, duas grandes correntes de pensamentos vibrando ao redor do planeta Terra: uma corrente que aglutina os pensamentos negativos (correntes do Mal) e outra que reúne os pensamentos positivos (correntes do Bem). Conforme os pensamentos emitidos a qualquer momento por uma determinada pessoa, ela se deixa influenciar por uma ou por outra, mas nunca ao mesmo tempo, por ambas. Segundo este princípio forma-se em torno da pessoa e, com maior intensidade em torno de sua cabeça, uma imagem multicolorida de diferentes intensidades e matizes conhecida com o nome de aura, reveladora do pensamento que está sendo formado e emitido.
É essa aura, que é variável na medida em que nosso pensamento se modifica, permitindo, assim, a leitura do pensamento pelos espíritos e pelos médiuns videntes, mediante a atração de pensamentos afins. Por isso é que se diz que entre os espíritos não há segredos, tudo está ali revelado, como num livro aberto, não sendo possível esconder pensamentos ou sentimentos. Esse é, também, o princípio que fundamenta a telepatia como forma de leitura, transmissão e recepção dos pensamentos. Infelizmente, por razões óbvias devidas ao atual estado de evolução da humanidade, esta faculdade ainda é incipiente na criatura, não sendo possível o seu uso generalizado, pois o órgão físico, que se admite ser a glândula pineal, ainda não está suficientemente desenvolvido.
Nós sabemos que na solução de muitos problemas cotidianos utilizamos inconscientemente a intuição. Quando percebermos que estamos num beco sem saída e não nos ocorre uma solução para o problema que estamos enfrentando, uma boa medida seria deixá-lo de lado por algum tempo. A experiência da vida nos ensina que nem sempre conseguimos avançar e obter a desejada solução apenas pelo raciocínio. Esse é o momento certo de fazer uma pausa, ou quem sabe, não resistir a uma soneca ou ao sono noturno reparador para retomar o assunto no dia seguinte. É impressionante a quantidade de relatos relacionados à ocorrência de insights durante o sono e através de sonhos ou mesmo durante o trabalho.
Para concluir, vamos citar dois exemplos muito famosos. Primeiramente, vamos nos valer de um sonho, relatado pelo bioquímico alemão Friederich August Kekulé Von Stradonitz (1829-1896), simplesmente conhecido pelo sobrenome Kekulé, que viveu no século XIX e que o levou a uma das mais importantes e extraordinárias descobertas científicas na Química Orgânica. Eis o relato: “Virei minha cabeça e adormeci… uma vez mais, os átomos estavam cabriolando diante dos meus olhos. Dessa vez, os grupos menores se mantinham modestamente no fundo. Meu olho mental, que se tornara mais aguçado em virtude de repetidas visões desse tipo, podia agora distinguir estruturas maiores, com múltiplas conformações; longas fileiras, às vezes encaixadas mais firmemente umas às outras; todas se dobrando e curvando-se, num movimento semelhante ao feito por uma cobra. Mas, olhe! O que foi aquilo? Uma das serpentes tinha abocanhado a própria cauda e o conjunto rodopiava zombeteiramente diante dos meus olhos. Acordei como se tivesse sido despertado pela luz de um relâmpago…” Esse sonho o ajudou a entender como as moléculas de diversos componentes orgânicos se organizavam em uma estrutura em forma de anel hexagonal – o núcleo benzênico, base da química orgânica aromática, que o tornou famoso.
Outra experiência famosa desse gênero ocorreu com Dimitri Mendeleiev (1834-1907), químico russo, laureado pelos cientistas pela brilhante ideia de agrupar os elementos químicos em uma tabela ordenada logicamente segundo os números atômicos dos elementos, que passou a ser conhecida com o nome de Tabela Periódica dos Elementos. Essa foi uma descoberta representativa de um exemplo notável de síntese mental ocorrida em ciência. Foi através dessa tabela que muitos elementos químicos foram descobertos posteriormente, pois a existência dos mesmos fora prevista por Mendeleiev, que havia deixado “espaços” ou “posições” vazias em sua tabela para elementos não conhecidos ainda à época em que a preparou. O que pouca gente sabe é que essa descoberta notável surgiu de um sonho que Mendeleiev tivera, não enquanto estava pensando logicamente.