O adjetivo pequeno, utilizado no plural e colocado no título desta reflexão, tem um sentido que se amplia e desdobra em várias perspectivas. Acompanhado do substantivo ações, esse termo pode ser entendido como indicando aquelas atividades corriqueiras que, na vida cotidiana, tendem a passar despercebidas e que, no entanto, podem fazer considerável diferença na vida das pessoas.
Para acentuar mais a ideia de que atitudes diminutas dão oportunidade a grandes transformações, pode-se afirmar: quem quer que tenha estudado seriamente as importantes transformações sociais e culturais, científicas e tecnológicas registradas ao longo da História Universal terá de concordar – e não é exagero afirmá-lo – com o fato de que inúmeros eventos históricos de considerável repercussão tiveram início em pequenos gestos e em concepções a princípio despretensiosas.
A ideia central da presente reflexão parte da concepção de que, mesmo em sua vida cotidiana, o ser humano pode empreender grandes e positivas transformações a partir de pequenas atitudes, desde que essas, por menores que possam parecer, estejam fundamentadas na vontade sincera de autossuperação, no respeito às diferenças e, sobretudo, no amor ao próximo.
A visão do mundo e o sistema de valores que estão na base da cultura contemporânea – de forte tendência materialista – sugerem a falsa ideia de impotência ante os grandes desafios vivenciados pelo ser humano, quer na esfera social, quer em âmbito pessoal, subjetivo. Propaga-se o mito de que o enfrentamento de problemas colossais requer soluções drásticas. Essa concepção distorcida do processo de desenvolvimento humano tem se estendido, inclusive, à família.
Tal julgamento demonstra inadequada a apologia a um radicalismo de todo incompatível com a espiritualidade, tornando evidente ao observador mais atento que é nos detalhes que está a diferença. Contudo, convém ressaltar que para se aproveitar as oportunidades de crescimento individual e coletivo contido nas ações simples do dia a dia, é necessário um olhar correto para discernir o que está por trás das aparências, o que não se impõe pela evidência, mas solicita uma adesão ao transcendente.
Assim, é importante ressaltar a enorme contribuição que todos podem dar à própria existência, à existência de seus semelhantes e à vida no planeta, a partir do momento em que se propõem pequenas mudanças na forma de pensar e o reexame de hábitos e tendências, enfatizando-se sempre os saudáveis e nobres aspectos de uma vivência espiritualizada, positiva, proativa, menos sobressaltada e, por conseguinte, mais reflexiva e tranquila, como nos recomendam os ensinamentos do Racionalismo Cristão.
As pequenas conquistas obtidas na vida cotidiana, frutos de um processo de amadurecimento psicológico e intelectual, sempre repercutirão, favoravelmente, no aprimoramento moral do ser humano. Quando a pessoa consegue se controlar diante de uma ofensa recebida, reagindo sem exageros; quando pensa duas ou mais vezes antes de dar uma resposta ou aceitar um convite; quando consegue disciplinar sua vida, tendo horários preestabelecidos para suas atividades; quando termina as tarefas iniciadas; quando honra seus compromissos; quando se preocupa com o impacto de suas ações ao meio ambiente, respeitando os ciclos da natureza; ou quando vence o desânimo e a maledicência, evitando comentários desairosos de seus semelhantes, tenha ela a certeza de que esses pequenos movimentos não operam separadamente consequências insignificantes, mas estão inter-relacionados e formam uma poderosa força de mudança para o bem.
Ao se reconhecer a existência do dever moral de estar sempre receptivo ao aprendizado verdadeiro e aos conteúdos da espiritualidade, que se constituem como parte integrante e indissociável do referencial mais amplo de uma vida saudável, reconhece-se também a necessidade constante de pequenos ajustes acerca de atitudes mais simples, sendo certo que a negligência para com essa necessidade de permanente autoanálise pode consubstanciar uma grave falta que, mais cedo ou mais tarde, o próprio ser humano ressentirá. Com certeza, a dependência excessiva de soluções grandiosas ou miraculosas, por parte de muitas pessoas, que se apoiam nos cálculos estéreis do egoísmo e da mesquinhez, reflete-se no fato de que ela se fundamenta nos aspectos exteriores da vida, e não nos aspectos transcendentes que lhe dão suporte.
Vive-se, atualmente, a era do superlativo, em que as pessoas se habituam a notícias que fazem referência a grandes escândalos, a grandes descobertas tecnológicas, a transformações nunca antes vistas. Tudo passou a ser super, ultra, mega. Pontos de vista, conceitos e ideias são superdimensionados pelos meios de comunicação, de modo que as iniciativas mais sérias, isto é, que promovem a dignidade humana, mas que não buscam os holofotes da fama, tendem a ser colocadas de lado, quando não esquecidas. Como consequência da ênfase ao exagero, determinados setores da sociedade vêm se tornando cada vez mais alienados, desenvolvendo estilos de vida profundamente doentios e patéticos.
Como reagir a essa tendência? Tornando-se mais receptivo aos valores da espiritualidade, pois esses valores iluminam com luz reluzente e renovada o valor que o encontro diário entre pessoas possui. Embora, muitas vezes, rápido e simples, esses exteriorizam a riqueza multiforme da convivência, que direta ou indiretamente sempre produz frutos. Por essa razão, o apoio que eventualmente é dado, em meio à correria do dia a dia, aqueles que nos cercam, pode ter outro sentido ou direção: pode ser – e é simultaneamente – um apoio a cada pessoa, ao desenvolvimento moral e espiritual.
As reflexões mencionadas anteriormente nos permitem concluir que as grandes mudanças podem e devem começar a partir de pequenos gestos, da mesma forma que uma longa trajetória se inicia com um pequeno passo. Não só isso, o enfoque racionalista cristão que perpassou pela presente reflexão enseja uma significativa ampliação de perspectivas, podendo ser traduzida em ações concretas, como a valorização das pessoas que se ama com uma demonstração de um carinho, um cuidado ou até mesmo uma palavra amiga. As oportunidades de crescimento moral que a vida proporciona a todo instante se refletem, sobretudo, nos pequenos dramas do dia a dia, que devem ser vencidos com a confiança de que, ao proceder dessa forma, se estará dando grandes passos na longa estrada do aperfeiçoamento espiritual que todos, indistintamente, estão trilhando.
Muito obrigado!