Discute-se o problema do belo, buscando-o nas diversas expressões das artes plásticas sob aspectos os mais contraditórios; na sutileza da música e da literatura que já implicam mais afinidade eletiva na compreensão dos temas; e na sua fonte perene, a natureza, que sendo manifestação da vida é um veículo direto de expressão do belo ideal. Aliás, raramente o artista consegue desprender-se dessa fonte, por mais herméticas que sejam as suas tendências.
Não são os tratados de estética que nos ensinam a reagir em frente ao belo; essa reação é um impulso incontrolável da alma, que partindo da comunhão com a natureza, pode chegar a concepção da beleza suprema. Isso, porém, só depois de haver percorrido toda a gama de sentimentos, que, traduzindo altruísmo ou bondade, em maior ou menor intensidade, envolvem sempre um aspecto do belo.
Só existe o belo, portanto, onde há expressão de vida; é manifestação dinâmica, pois traduz uma vibração sensível. E essa escala ascendente é a própria escala da perfeição.
Introduzir beleza na vida é não permitir que a fealdade dos maus sentimentos tolde esse campo vibratório. O belo espiritual tem de ser puro, nobre e edificante.
O egoísmo, a inveja, a maldade, denunciam a ausência do belo na alma que lhes dá guarita porque o bem e o belo ideal se identificam.
Não venham os tratadistas com suas longas controvérsias acerca da natureza do bem e do mal outros julgam um bem e vice-versa. A verdade é que os homens querem alimentar a ilusão de que as leis naturais possam se adaptar aos seus defeitos e não fazem nenhum esforço no sentido de se adaptarem a elas.
O bem ideal só tem um caminho; as suas normas são fixas e só a consciência as pode ditar. São como as notas musicais em um concerto. Integrar-se na harmonia do conjunto é trabalhar pela perfeição, fazer o mal é expulsar a beleza da vida, é estar em desarmonia com o Cosmos.
Publicado em 8 de dezembro de 1957.