Não há dúvida, a participação da família no processo educativo dos jovens é sempre um assunto da maior relevância, digno de nota e consideração, como sempre destacou o Racionalismo Cristão. Essa constatação histórica e indiscutível é capaz de nos fornecer elementos válidos para a reflexão acerca do dever não só dos pais e dos responsáveis, mas também dos jovens, que são, mais do que partícipes, os maiores beneficiários nesse processo.
Se, por um lado, assiste-se a uma redescoberta e a um aprofundamento sobre as várias possibilidades de formações familiares fundamentadas em sentimentos de caráter nobre, abala-se, por outro, o conteúdo transcendente desses valores quando não há disposição férrea para a contemporização, a harmonização e a composição dos problemas que surgem no convívio cotidiano.
A união e o benquerer que conciliaram primitivamente os formadores do lar têm de manifestar-se na moderação e na tranquilidade com que estes enfrentam os problemas, reduzidos ou extensos, que se lhes apresentam. O ideal de toda família, tal como o progresso moral e intelectual de seus membros, exige que o lar se fundamente e se oriente sem desviar sua energia no campo dos dissabores e contrariedades que surgem invariavelmente em todos os lares. A tarefa não é simples; contudo, os integrantes de uma família devem apoiar-se em um referencial autêntico: o amor. Quando se deixarem absorver por esse princípio, por esse liame invisível e ao mesmo tempo preciosíssimo, irão fortalecer-se para o enfrentamento das dificuldades que surjam nas relações de uns com os outros.
A família é a primeira escola com que o ser humano tem contato. Encontra-se ele inserido em um contexto de fatos, concepções, convicções e conhecimentos mesmo antes de começar a assumir o protagonismo de sua existência e a ter consciência da realidade que o cerca. É na intimidade do lar, no seio familiar que aprende como se sentir em relação a si mesmo e como os outros reagirão a suas manifestações e declarações, quais escolhas são aceitas pelo agrupamento e quais são rejeitadas, como interpretar e exteriorizar suas frustrações e esperanças – enfim, como se comportar.
Nessa perspectiva, assume excepcional importância a qualidade dos pensamentos e sentimentos que compõem o ambiente doméstico e o círculo familiar, pois esses conteúdos, embora intangíveis e imponderáveis, terão incidência direta no psiquismo dos jovens, na estruturação de suas personalidades e nos seus padrões comportamentais. A formação dos mais novos não se deve tão somente à transmissão de conhecimento e de cultura por parte de seus pais ou de seus responsáveis, mas sobretudo aos sólidos exemplos que estes têm o dever de oferecer de forma constante, equilibrada e serena. Não podem aqueles que assumiram a incumbência de encaminhar e formar sua prole permitir que sua relação com os jovens dependa de circunstâncias externas, de seus estados de humor ou das alterações de suas personalidades. Essas atitudes delatam irresponsabilidade e tendem a deixar vazios no caráter dos jovens que poderão ser preenchidos por conteúdos inadequados e inconvenientes cujas consequências toda a sociedade ressentirá.
Além da imperiosa necessidade de elevação dos pensamentos e seleção dos sentimentos, é preciso que os membros mais maduros e experientes que compõem a família e que têm a oportunidade de conviver com os mais novos estejam sempre abertos ao diálogo e atentos aos detalhes de suas rotinas, não permitindo que os jovens sejam manipulados – sobretudo dentro de sua própria família, onde devem ser acolhidos e orientados diuturnamente.
Uma experiência familiar sadia e afetuosa deve encontrar sua forma normal de expressão nos valores contidos no campo da espiritualidade, que fortalece, por sua vez, a convicção dos valores familiares. Nesse processo de intensificação do conhecimento da realidade transcendente, surgem espontaneamente várias qualidades e virtudes que servirão como instrumentos de orientação para o jovem ao longo de sua trajetória, representando também componente fundamental para seu amadurecimento espiritual.
Toda família tem necessariamente suas manifestações peculiares, que podem ser verificadas, em certa medida, pela experiência particular. No conjunto dessas inúmeras formas de expressão, há um princípio que, via de regra, as unifica: o amor. Distorceu-se de tal forma seu sentido que, por vezes, trata-se esse sentimento, erroneamente, como um impulso para a satisfação de uma suscetibilidade egocêntrica em cuja órbita não gravitam a renúncia e o desprendimento. Entretanto, não deve ser assim: o amor autêntico representa entrega e dedicação, abnegação e benevolência. Apoiados nesse ideal de amor, fraternidade e benquerer, pais, mestres e responsáveis estarão cumprindo plenamente suas missões, o que redundará em benefício deles próprios na forma de felicidade e satisfação, precisamente por terem cumprido com seus deveres.
A história da humanidade é pródiga em exemplos de mães e pais que, anulando suas tendências egoísticas, cerceando voluntariamente seus lazeres e diversões, bem como suas possibilidades de afirmação e sucesso, e pondo-se sempre física e emocionalmente disponíveis, pavimentaram a estrada reta da felicidade por onde seus filhos puderam transitar com segurança. A esses saudamos com o nosso mais sincero reconhecimento.
Muito Obrigado!