Felicidade é algo que o ser humano procura durante a vida e, muitas vezes, não encontra, porque ela está em si mesmo, nos pensamentos, no querer, na vontade; não depende mesmo da posse de bens materiais, nem da satisfação de desejos próprios da vida instintiva. É coisa íntima que cada um cultiva pela maneira de viver, sem querer ultrapassar suas possibilidades, sem desejar a outrem o que não quer para si mesmo, vivendo moderadamente, sabendo usar os bens que possui e seus dotes, sabidamente, sem excessos ou motivos de queixa, mas alimentando sempre a esperança e o desejo de vencer.
Ser feliz é ser bom, compreensivo, tolerante, amigo, servindo a causas justas e nobres que elevam e dignificam o ser humano diante dos seus semelhantes; é transmitir pensamentos sadios sobre todos, ajudando-os a vencerem dificuldades, levando-lhes conforto e solidariedade nas horas dolorosas, através de uma palavra amiga, sendo abnegado e desprendido nas situações que se apresentem.
O homem feliz aceita as coisas como elas se revelem, sem reclamações, lamúrias ou incriminações, conforma-se com os sofrimentos que lhe batem à porta, sabe ser paciente e calmo e não se desespera ante os fatos que não provocou.
A verdadeira felicidade consiste em amar ao trabalho, em saber guardar o que lhe sobra para atender a necessidades de amanhã, em cumprir os seus deveres perante a vida, sendo ordeiro e disciplinado. É feliz quem tem a consciência tranquila e limpa, plena de satisfação por haver cumprido todas as suas obrigações materiais e espirituais, jamais prejudicando os seus semelhantes. Proceder corretamente é um dever a que todos estão obrigados, para aperfeiçoar o moral e o caráter.
Na verdade, não existe felicidade completa, porque tudo na vida é relativo. Mas, dentro da relatividade das coisas, o homem pode construir e desfrutar a felicidade, desde que não alimente ilusões, pretensões descabidas ou desejos intemperados que produzem o entorpecimento das faculdades mentais. O trabalho é de encontrar-se a si mesmo, ter consciência do que representa neste mundo e não se tornar joguete das paixões, nem ser guiado por mãos inescrupulosas e inconscientes; é libertar-se dos grilhões das convenções através do raciocino.
Já dizia o grande Pitágoras que “seres que saibam ser ditosos, não mui raros joguetes das paixões, rolam todos num fundo sem borda e sem fundo”. Apesar disso, cremos que há de chegar o momento decisivo, em que todos se encontrarão para uma vida melhor, mais compreensiva, verdadeira, plena de felicidade, adquirida por uma consciência reta, um caráter íntegro e uma vontade forte para o bem, guiada por um raciocínio positivo e claro.
Publicado 20 de novembro de 1975