O que são defesas invisíveis?

O tema desta reflexão, que apresentamos aos estudiosos da espiritualidade divulgada e defendida pelo Racionalismo Cristão, além de exigir um empenho de ampliação de perspectivas, encontra-se inserido em um contexto de princípios que devem ser adotados por aqueles que buscam estabelecer relações éticas e edificar uma vida produtiva, saudável e feliz. 

A absorção dos princípios racionalistas cristãos pressupõe a adesão a valores práticos, tais como a atitude mental positiva, a organização do tempo, a disciplina no viver, o cultivo das virtudes e a prática constante e desinteressada do bem. Esse conjunto harmonioso de ações permite ao ser humano absorver, a partir de uma dimensão da realidade que lhe escapa aos sentidos físicos, instrumentos que lhe serão utilíssimos no desenrolar de sua existência. Trata-se de defesas que, embora invisíveis ou imperceptíveis em um primeiro momento, são, em última análise, de máxima importância. 

Para que o ser humano se realize e se autoafirme na vida, de nada adianta a percepção sensível ou objetiva da realidade com o esquecimento da igualmente essencial compreensão dos aspectos subjacentes ou transcendentes dessa mesma realidade, visto que a vida consiste em uma experiência dialética e articulada entre duas dimensões: uma visível ou perceptível pelos sentidos físicos e outra invisível ou espiritual, captável pela percepção mediúnica e elaborada pela intuição. 

Desfazendo equívocos relacionados a concepções já superadas pelo desenvolvimento do pensamento humano – que, com o desenrolar do tempo, deve se tornar cada vez mais maduro e abrangente –, podemos afirmar que a espiritualidade e a objetividade são realidades de total reciprocidade. Sem empecilho, a primeira sustenta a segunda, de modo que não pode ser tida como uma dimensão imaginária ou fantasiosa. 

Quando a pessoa se empenha em enxergar as circunstâncias que a envolvem de forma mais ampliada e integradora, livre de preconceitos e subjetivismos, percebe que a vida representa a interação entre dois campos: o físico e o espiritual. Deste segundo, pode-se extrair a energia necessária para o enfrentamento dos desafios e a superação das adversidades próprias do viver neste mundo material, munindo-se daquilo que poderíamos chamar de “defesas invisíveis”, tais como a paciência, a lucidez, a coragem, a fortaleza, o ânimo e o discernimento. Tais mecanismos de defesa, contudo, não são dádivas, mas devem ser conquistados por meio do bom uso da liberdade, da emissão de pensamentos de valor e da integridade da conduta. 

Da mesma forma que a pessoa deve compreender suas limitações, deve também despertar a consciência de que não há separação entre os autênticos conteúdos da espiritualidade e as mais diversas atividades humanas. Com isso, queremos afirmar que, onde quer que a pessoa tenha de desempenhar suas funções – seja na família, no mundo corporativo, na política, na arte, na economia etc. –, deve sempre ter como roteiro e meta a atitude digna, proba e elevada. 

Neste desfecho, gostaríamos de dizer, sem pretensão de esgotar o assunto e atingir uma definição completa e rigorosa do que são “defesas invisíveis”, que estas podem ser compreendidas como instrumentos transcendentais, cujo âmbito de atuação e eficácia é traçado em razão do modo como a pessoa pensa e se conduz, ou seja, da maneira como ela articula suas demandas pessoais com os imperativos espirituais da ética e da moral inatos em sua consciência. Em nossa reflexão, procuramos distinguir os dois campos formadores da realidade – o espiritual e o material – sem, contudo, separá-los, até porque toda tentativa nesse sentido é estéril e malograda. 

Muito Obrigado!