O que vem primeiro o pensamento ou as emoções? (2)

Nós sabemos que tudo que acontece está subordinado às leis naturais e imutáveis do Universo. No artigo anterior, para tratar dessa enigmática pergunta, fundamentamo-nos  especificamente na lei de causa e efeito, colocando o espírito e o pensamento em primeiro lugar, condição que expressou plenamente a minha conclusão.   

Vamos agora, ao contrário, seguir o raciocínio respaldado nos conhecimentos da Neurociência. Nessa questão, nem sempre é fácil identificar efetivamente a causa e o efeito. Com essa pré-argumentação, a Neurociência admite que as emoções (causa) estariam à frente dos pensamentos (efeito) que, por sua vez, tendem a ser uma explicação, racionalização ou expansão para as emoções. Nesse sentido, os pensamentos serviriam, na maioria das vezes, para aprimorar os sentimentos e emoções. Nesse artigo, vamos examinar e desenvolver essa tese.

Base física.  Neurociência, em suas pesquisas sobre o cérebro, descobriu que a entrada sensorial sempre passa pelos centros emocionais do cérebro (sistema límbico) antes de chegar ao córtex frontal o lugar onde se processa o pensamento racional. É lógico que, com essa compreensão materialista, percebemos que é fisicamente impossível que o pensamento venha antes das emoções.

A explicação da Neurociência é que nossa mente subconsciente frequentemente capta, inicialmente, nossa entrada sensorial via sistema límbico do cérebro e a envia para o inconsciente que, por sua vez, vai compará-la com memórias anteriores semelhantes para associá-las com as emoções de entrada. Por exemplo, uma foto que nos é exibida desencadeia memórias já existentes de um evento que ocorreu quando a foto foi tirada, É o fenômeno designado pelos psicólogos como memórias flash. Outra premissa é que a Neurociência entende que o sistema de memórias organiza-se com base nas emoções. Uma vez consolidadas e salvas essas emoções no nosso inconsciente elas são armazenadas em associação com as memórias e padrões que observamos nessas experiências. Daí ser mais fácil nos lembrarmos de eventos associados quando sentimos uma emoção particular.

Visão materialista das emoções. No nosso livro Valor dos sentimentos – 2012, tema Sentimentos e emoções – o que os distingue, nós dedicamos a este assunto quatro páginas (p.14/17). Ali definimos emoção como “tudo que causa um estado de excitação no organismo, através das amigdalas cerebrais que são as nossas sentinelas, localizadas no sistema límbico, “o porão do cérebro”. Reforçamos, portanto, que as emoções são constituídas por um grupo de reações que nossa mente inconsciente (através do sistema límbico) cria e usa para comunicar-se com a mente (subconsciente e consciente) as informações captadas.

Essa comunicação se faz pela ativação das vias neurológicas específicas para cada emoção, tais como medo, raiva, amor, felicidade etc. As emoções assim enviadas aparecem sob a forma de uma sensação física no corpo, tais como aparecem nas suas forma bem conhecidas por todos nós.

Esses sinais que entram através do inconsciente seriam, então, vestígios aprimorados dos instintos animais que se tornaram, no ser humano, os sentimentos e emoções. Estes últimos se diferenciam porque, enquanto as emoções causam reações físicas, os sentimentos são expressos mais por palavras. Exemplo: se alguém lhe atira uma pedra, sua reação natural é de medo (emoção) e você vai procurar esquivar-se dela ou fugir, mas também pode ocorrer uma reação emocional de excitação dirigida ao pensamento que lhe ajudaria a prever a trajetória da pedra para que você pudesse pegá-la. Ou seja, você aprende a lidar com situações semelhantes já registradas com outras que estariam acontecendo no aqui e agora ou no futuro próximo ou longínquo.

Comparando emoções e pensamentos. Há algumas mensagens do nosso inconsciente que poderiam ser rotuladas de emoções, quando falamos em “instinto”, “perspicácia para negócios” ou “visão artística”. No nível mais alto da consciência essas mensagens são chamadas de “visão”, porque elas realmente funcionam como previsões e perspectivas. Isso nos capacita a lidar com a situação usando nossos recursos profissionais e habilidades disponíveis. Muitos cenários da vida funcionam dessa forma e são resultados de nossa experiência.

Por outro lado, temos o pensamento racional que, segundo a Neurociência, “usa os vieses das emoções para colocar em palavras uma experiência.” Dependendo do estado emocional a que está submetido, o indivíduo pode ter pensamentos diferentes sobre si mesmo quando se sente deprimido ou quando está sentindo-se feliz. O indivíduo é o mesmo, mas o seu pensamento é afetado pela emoção má ou boa que está sentindo. Na primeira situação ele se sente um inútil e na segunda, entusiasmado.

Na primeira situação, seus pensamentos eram negativos porque seu inconsciente deflagrou memórias de fracasso, julgamento e desprezo a si mesmo, informando à sua mente consciente que ele iria falhar na vida. Na segunda situação, com pensamentos positivos, ele se sentia bem porque seu inconsciente puxou memórias de sucesso, conquistas e valor. Isso explicaria naturalmente, a dedução pela parte consciente da mente a parte responsável pelos pensamentos racionais que, ao colocá-los em palavras, mudaria drasticamente sua opinião sobre si mesmo. Trata-se aqui do processo da autoestima. Essas mudanças de opinião ocorrem, também, durante a discussão entre duas ou mais pessoas.

Mudando emoções com o pensamento racional. o exemplo anterior vimos como o pensamento racional pode mudar determinada emoção que sentimos com relação a outra pessoa. Ele pode ajudar-nos a criar novas memórias para uma reação futura diferente. É ele que nos dirá se devemos ou não manter determinada pessoa em nosso círculo de amizade. Isso se faz mediante informações novas colhidas sobre a pessoa através de um amigo em quem já confiávamos. Com esse julgamento íntimo, fundado nas boas referências obtidas, mudamos de opinião sobre a pessoa e a vemos “com outro olhar”. Criamos, assim, uma nova reação inconsciente para pessoas anteriormente rejeitadas usando as novas informações obtidas com essa experiência. Portanto, os pensamentos definitivamente têm o poder de mudar as emoções futuras, se os direcionarmos na direção certa.

Conclusão. Essas notas da visão materialista da questão, capitaneada e endossada pela Neurociência, nos informa por que a prática ou experiência adquirida na vida é tão essencial ela treina o inconsciente para funcionar por conta própria para avaliar cada situação da vida na forma que você julgar adequada pelo pensamento, agindo com amor, positividade e compreensão. Isso permite ser verdadeiramente racional e aceitar a realidade, e é a razão mais importante pela qual devemos reconhecer que as emoções vêm antes dos pensamentos.