O silêncio é a palavra

Um tema bastante atual e que ocupa posição de destaque na relação de preocupações daqueles que buscam conquistar a saúde integral, a relação entre a harmonia interior e o silêncio tem chamado a atenção de um número cada vez maior de pessoas cuja finalidade é decifrar os complexos mecanismos da mente. 

Submeter-se a um constante processo de aprendizado, pensar positivamente sem prejulgar os semelhantes, auxiliar o próximo sempre que as ocasiões o permitam, procurar abster-se de situações conflituosas, respeitar os próprios limites e privilegiar os momentos de silêncio e reflexão são posturas que demonstram inteligência, além de indicar que a pessoa está trilhando o caminho do verdadeiro conhecimento, que permite que a mente seja serena e se harmonize, ensina-nos o Racionalismo Cristão 

Despertar a consciência de que uma vida equilibrada e tranquila não se reduz à observação passiva de aspectos materiais e exteriores, mas contempla, a partir da valorização do silêncio, o sentido e a essência dos fenômenos e das coisas: eis a que aspira a presente reflexão. 

É indiscutível que a maior parte de nós se encontra imersa em uma realidade agitada e acelerada. Somos constantemente expostos a novas informações e inéditas propagandas, que acabam por absorver por completo nossa atenção, desviando-nos, não raro, de atividades importantes. É de tal magnitude a incidência dos estímulos sonoros em nossa vida, que não só passamos a aceitar essa circunstância com certa naturalidade e até mesmo nos habituar com ela, como também a experimentar, mediante sua ausência, certa angústia, como se tivéssemos uma lacuna a ser preenchida. É o que se constata, por exemplo, quando passamos por determinados seres, em sua maioria jovens, distraídos com os conteúdos transmitidos por seus fones de ouvido conectados a seus aparelhos eletrônicos. As situações que se desenrolam ao seu redor lhe são, muitas vezes, alheias. 

Há que se ressaltar que o ser humano não se desenvolve nem se aprimora senão por meio de atitudes efetivas e concretas. Quando uma pessoa se põe constantemente em um estado de mera passividade, ouvindo e aceitando tudo o que lhe é dito sem reservar algumas horas para a reflexão e o silêncio, age em desacordo com sua própria natureza, deixando de assumir o protagonismo de sua própria vida. 

Será muito difícil corresponder de maneira proativa às demandas da vida se não conseguimos abrir espaços de silêncio em nosso cotidiano. O dia a dia com seu dinamismo, representa, muitas vezes, uma travessia agitada por um mar tempestuoso. Ventos e correntes podem nos desviar da rota devida se não pararmos de vez em quando nas ilhas do silêncio para reavaliar o trajeto, repensar as decisões e corrigir eventuais desvios.  

Sempre que a pessoa busca alcançar algo e despreza a necessidade de ordenação do pensamento e planejamento das ideias – o que se consegue através do silêncio –, acaba por se desgastar demasiadamente. 

A pessoa age de forma insensata e irrefletida, dissipando sua energia anímica, principalmente quando despreza a disciplina no método, nos parâmetros da boa conduta e na organização, fatores sobre os quais se edifica uma vida feliz e produtiva. Goza de contínua paz de espírito aquele que, elevando seus pensamentos, higieniza a própria mente, se organiza, estabelece prioridades na vida, respeita seus limites, cumpre seus compromissos, dedica-se à autorreflexão e valoriza os momentos de silêncio. 

Todos podem vivenciar a paz e encontrar tranquilidade para pensar com clareza quando não se ocupam com a vida e os negócios alheios, quando não pretendem modificar o próximo, quando não buscam somente a satisfação dos próprios interesses. Ora, todas essas ações impedem o bem-estar, que advém da vida interior serena e equilibrada. Como pode ficar em paz por muito tempo aquele que, vivendo desordenadamente, se deixa absorver pelos aspectos exteriores da existência, negligenciando sua vida interior. 

Uma experiência sadia, produtiva e nobre deve encontrar sua forma normal de expressão nos valores contidos no campo da espiritualidade. Ao intensificar o conhecimento da realidade transcendente, o ser humano se depara com várias qualidades que lhe servirão como instrumentos de orientação ao longo de sua trajetória. É o que proporciona a humildade. 

A humildade permite o reconhecimento dos próprios limites e potencial, facilitando a assimilação das grandes lições que a vida oferece, ao mesmo tempo que serve de expressão para os sentimentos mais elevados e as ideias mais profundas, permite o exercício da reflexão silenciosa e simplifica a vida. 

A autêntica humildade, produto do amadurecimento espiritual, representa um componente fundamental das relações harmônicas entre corpo e espírito, produzindo efeitos benéficos e contribuindo para a eliminação de conflitos internos e para o crescimento do ser humano em todas as fases da vida. 

Só saberemos refletir e agir de forma responsável quando soubermos valorizar devidamente o silêncio em nossa vida. É a ausência não só de ruídos externos, mas também de distrações internas, que nos capacita a experimentar a importância dele. Dessa forma, é preciso que tenhamos muita coragem para olhar para dentro de nós mesmos com o propósito de aperfeiçoar atitudes e gestos, mas esse mergulho é altamente compensador.  

O autoconhecimento, a avaliação sincera da vida e a visão ampliada do mundo nos permitem penetrar outra dimensão da realidade: a própria interioridade. Reconhecendo nossos talentos e faculdades, nossas falhas e pontos que devem ser melhorados, poderemos responder satisfatoriamente aos embates da vida.  

No processo de silenciamento da mente, que tem por objetivo encontrar calma para pensar com clareza e praticar atividades reflexivas capazes de proporcionar soluções para nossos problemas, sempre através da ótica da espiritualidade proporcionada pelo Racionalismo Cristão, o ser humano deve buscar sempre, com determinação, a meta de um criterioso equilíbrio entre os pensamentos e a ação concreta e efetiva, demonstrada pela conduta. Nesse alinhamento reside o fundamento da saúde integral.  

A paz é a expressão mais sublime da capacidade de reconciliação dos mais diversos impulsos e contradições que fazem parte da personalidade humana, e um importante passo no sentido de alcançá-la é o empenho em vivenciar a calma no sentir e no querer, transmitindo-a a todos os que convivem conosco.  

Com grande apreço à verdade e à justiça o ser humano estará sempre disposto a serenar a própria mente e poderá ouvir a voz que emana do silêncio de sua consciência. 

Muito Obrigado!