Probidade e sinceridade

Agir com probidade e sinceridade, entregar-se de corpo e alma às disciplinas construtivas da vida, sem nunca se achar superior a seus semelhantes nem se igualar aos que simulam zelo e bondade para encobrir a revolta, são metas constantemente buscadas por homens e mulheres de bem. 

Ao repelir com todo empenho aquilo que impede seu progresso moral, o ser humano dará mostras de maturidade e disposição em edificar uma nova fase da vida, que será certamente próspera e frutuosa se ele não negligenciar a atitude proba e a determinação de ser autêntico e sincero. Eis o que procuramos demonstrar nesta breve reflexão.  

A probidade é uma virtude que coloca em destaque uma das qualidades essenciais para a construção de uma vida produtiva, coerente e feliz: a honestidade. A ideia de probidade pressupõe uma pluralidade de elementos que se devem inter-relacionar harmonicamente, a fim de comporem uma unidade de referência por meio da qual o ser humano contemporâneo pode se orientar com segurança e confiança. 

A probidade, quando se refere à administração pública, deve ser tutelada pelo exercício da cidadania e pelo ordenamento jurídico de um país. Quando, por outro lado, é considerada em seu aspecto amplo, ou seja, pelo prisma da espiritualidade defendida pelo Racionalismo Cristão, guarda estreita relação com o caráter. Emerge da união da moral com a ética, do ser com o dever ser. 

A sinceridade representa uma virtude moral de valor inconfundível. Resultante do caráter bem formado, enseja sempre atitudes temperadas por critérios éticos e morais. É ingênuo o pensamento de que possa haver estabilidade emocional e tranquilidade de consciência quando a pessoa recusa toda e qualquer consideração aos aspectos genuinamente morais que sustentam a vida, como a sinceridade e o amor à verdade. A adesão consciente a uma vivência honrada e autêntica acentua a imperiosa necessidade do cumprimento irrestrito dos compromissos assumidos, bem como da sinceridade, da decência e da empatia no trato com os semelhantes. 

Há quem pense que para ser sincero basta falar a verdade; no entanto, falar a verdade não constitui uma virtude, e sim um dever moral. Não há que se confundir: para ser realmente sincera, a pessoa deve, além de jamais faltar com a verdade – o que constitui um aspecto exterior da sinceridade –, não ser falsa consigo mesma, não se sabotar emocionalmente, não prometer para si algo que não seja capaz de realizar, não se utilizar de subterfúgios para deixar de realizar algo grandioso quando internamente sabe que possui capacidade para tal. Eis o verdadeiro sentido da sinceridade.  

As análises suscitadas anteriormente, além de indicarem caminhos para o exercício da probidade e da sinceridade, levam-nos a concluir que uma parte considerável da crise por que passamos, bem como seus desdobramentos – sobretudo em termos de relacionamentos e negócios –, dá-se pela inobservância de uma premissa básica: é necessário que o ser humano se coloque no lugar de seu semelhante. Assim como desejamos que os outros sejam sinceros, corretos e honestos para conosco, também nós devemos agir da mesma forma para com os outros.  

Ao contrário do que, por vezes, erroneamente se imagina, uma experiência de vida ditosa e saudável não pode preterir a associação aos grandiosos valores da transcendência, dentre os quais destacamos a probidade e a sinceridade. Quando interpenetrada pela espiritualidade, a percepção do valor dessas qualidades torna-se algo maior: tem consequências mais abrangentes, altera os olhares com que as pessoas veem as coisas e pode, inclusive, mudar positivamente a direção de suas vidas, enriquecendo-as com suave e serena luminosidade. 

A ampliação da consciência é capaz de transformar a mentalidade egocêntrica tão presente nas esferas política e privada, econômica e cultural do mundo contemporâneo. Como instrumento eficaz nesse caminho de aperfeiçoamento e ampliação de horizontes, destacamos novamente a probidade. Esta, aliada à sinceridade, forma um conjunto valioso e insubstituível de sentimentos que nos permitirá reconhecer no próximo uma extensão de nós mesmos, de modo que a partir dessa constatação possamos revalorizar o convívio social respeitoso e fraterno, que é, por sua vez, o alicerce de uma paz verdadeira e sustentável, universal e sem reticências. 

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