Quantas dádivas

Quantas dádivas recebi do RC!
A mediunidade é um tema pouco falado ou escrito. A profusão de experiências vividas por alguém com sua sensibilidade à flor da pele é tão distinta como distintos somos nós, os seres humanos. A melhor palavra a nos definir é “indivíduo”, o conjunto de pensamentos e feitos. O Racionalismo Cristão nos esclarece perfeitamente quando nos define como Força e Matéria, binômio de combinações que nos impulsiona a vida e nos traz sentido. Somos todos únicos, singulares, diferentes com uma particularidade própria. Entender essa diversidade no humano talvez seja o grande mistério para uma vida mais serena. Quem sabe a fórmula mágica a nos direcionar pelo caminho do respeito, da compreensão e da tolerância para com o outro.
Uma explicação necessária para entrar na questão mediunidade sem mistificar que sejamos melhores ou piores que os outros indivíduos, apenas somos. Se observarmos ao nosso redor perceberemos um grande número de indivíduos com sensibilidade mais aguçada, capazes de intuir, perceber, ouvir, sentir e até ver o mundo com um olhar próprio.
O desenvolvimento humano seria mais ameno se logo cedo, na infância, estimulássemos nossos filhos ao autoconhecimento. Entender a força (energia) que habita e circula em nosso corpo nos dando vida é o início do aprendizado. Ao observar-se a criança no berço, ela faz o seu primeiro contato com essa energia ao sentir fome, frio, umidade, solidão, e por essa razão ela chora, em busca de uma solução. Ser estimulados a observar as influências externas sobre o nosso corpo e a nossa mente é um dos primeiros exercícios, parte do aprendizado em nos analisarmos e avaliarmos como pessoas. Interagimos com o clima, com as necessidades físicas, com os pensamentos, com as opiniões alheias desde a infância.
Os conflitos surgem com esse propósito, nos trazer a matéria prima para a análise de como lidamos com eles e de que forma podemos evoluir diante deles. O quanto antes uma criança perceber sua singularidade e sua capacidade em lidar com suas frustrações e dificuldades tanto melhor para o seu aprimoramento no planeta. Quem não se lembra de filhos conversando com amiguinhos invisíveis ou expressando experiências próprias sobre o desconhecido?
Penso que na infância já manifestamos sentimentos diferentes dos padrões que a humanidade rotula de convencional. Somos mais perceptivos, mais intuitivos e menos preconceituosos uns com os outros. A tarefa familiar e escolar seria de aprimorar e direcionar certas habilidades infantis ao convívio mais salutar diante da vida. Hoje, cada vez mais, por falta de tempo, as habilidades infantis são abafadas e contidas.
Dessa forma a criança se aproxima de uma nova fase, a adolescência. Outro momento que precisa ser observado com cuidado e carinho. Uma fase marcada por conflitos, medos e inseguranças. Nessa etapa, qualquer sutileza observada no jovem, diferente de padrões pré-estabelecidos, é vista como doença, diferença ou perturbação. A minha mediunidade ficou muito evidente nessa idade. Era muito difícil entender as intuições tão fortes, as pessoas que se aproximavam com conflitos intensos e os impulsos sentidos em ajudar de alguma forma, sem ser capaz de analisar os perigos envolvidos na ação. Não havia com quem dividir tantas dúvidas!
Eu buscava na leitura ou nas conversas com um amigo especial, que também sofria do mesmo “mal”, explicações para as experiências que vivíamos. Até hoje amigos-irmãos, depois de adultos não falamos mais sobre o assunto. Trilhamos caminhos diferentes na escolha da espiritualidade e nos respeitamos muito por isso. Embora tenha conhecido o RC ainda criança. o entendimento sobre a mediunidade só veio na maturidade depois de uma depressão. Guardei numa gaveta só minha por muitos anos as intuições fortes, os textos que brotavam na mente de forma compulsiva, as experiências com odores que me remetiam a momentos de um passado distante e a atração que eu causava em pessoas com algum conflito humano que me procuravam em busca de conselhos. O mais curioso é que eram pessoas de todas as idades, e enquanto eu falava havia uma certeza de que não estava sozinha. Eu sentia a orientação e segurança enquanto desenvolvia sobre um determinado assunto.
A depressão aos 40 anos foi a catarse que trouxe à tona toda a minha sensibilidade de volta. Uma tristeza profunda tomou conta de mim de uma maneira intensa. Os meus dias e noites eram de solidão e melancolia, apesar de um trabalho e uma família lindos. Lidar com essa angústia que aparecia e me invadia por inteiro era assustador. Eu não tinha controle sobre os meus pensamentos, o meu cérebro corria como o zapear de um controle de TV por temas e imagens variados. Sem rumo, sem fixação. Foi necessária uma intervenção médica e os medicamentos me deixavam como um zumbi, sem controle de mim e da minha mente. Um ser sem pensamentos, vazio. Quem já viveu a experiência de uma depressão sabe que transitamos entre a excitação (confusão de pensamentos) e a prostração (incapacidade de pensar).
Foram quatro anos procurando todo tipo de ajuda e experiências existentes na ocasião. Tratamento com remédios, acupuntura, bioenergética, psicoterapia, reiki somaram-se às caminhadas frequentes no Parque Ecológico, à meditação e à minha ida ao RC. A minha personalidade curiosa me fazia ler sobre tudo, diversos temas, inovações científicas e os novos olhares sobre a mente humana. Aliás, um tema que sempre gerou curiosidade em mim.
Nunca vou me esquecer que pedi a um amigo, na ocasião, que me levasse ao RC de Campinas. Eu tinha crises de pânico que me impediam de dirigir e por isso precisava de ajuda. Para minha surpresa e das pessoas que estavam comigo, voltei dirigindo e sozinha no primeiro dia que estive na Casa. Jamais esquecerei! Desde então passei a frequentar a Doutrina.
Na sequência conheci o amigo que foi pai e mestre nos ensinamentos da Doutrina. Passei a conversar após as reuniões com o Sr. Antonio Botelho, presidente da Casa em Campinas. Ainda hoje, quando penso nele, os sentimentos que me cercam são de serenidade, conhecimento, ponderação e força. Foi com ele que compreendi o que acontecia comigo, fui dando continuidade ao tratamento na medicina enquanto me fortalecia e entendia cada vez mais como Força e Matéria. As angústias e medos iam cedendo, à medida que eu me revigorava espiritualmente.
Tenho uma profunda dívida de gratidão e respeito com o Sr. Antonio. Ele foi a personificação do meu pai, homem sábio, instruído, capaz de conversar sobre qualquer assunto com propriedade e embasamento. Suas palestras eram firmes e doces ao mesmo tempo. Típico de um sábio em toda a sua humildade. Eu bebia da sua sabedoria e adorava ouvi-lo explanar sobre a prática da Doutrina de uma maneira leve, objetiva e clara.
Foi assim que há 21 anos eu entrei no RC para desenvolver a minha mediunidade. Na bagagem, os ensinamentos do mestre: humildade diante do conhecimento, curiosidade, boa leitura sobre diversos temas, consciência da responsabilidade assumida, autodomínio sobre a vaidade, a certeza de que o aprendizado nos impulsiona e mostra a definição exata do quanto somos inacabados e precisamos evoluir.
Hoje, tantos anos depois, ao entrar no hospital, numa cirurgia de risco e emergência, eu pude perceber o quanto aprendi com a Doutrina e o meu mestre. Entender cada fase e momento vividos, ao longo dos nove dias internada num hospital só foi possível graças aos conhecimentos adquiridos de serenidade e confiança.
O autocontrole, a meditação, a paciência, a certeza de estar sendo bem assistida, as intuições, os sonhos, a convicção do aprendizado, a humildade diante do corpo combalido e do pensamento forte foram parte do processo que me fez reagir diante dos riscos que envolveram a minha cirurgia.
Minha gratidão à Doutrina por todo o aprendizado. Minha gratidão ao meu mestre Antonio Botelho, que tão bem me orientou e ensinou a sentir a importância da conexão dos pensamentos com o bem. A ligação com as Forças Superiores depende dos nossos pensamentos e da maneira como os conduzimos. Somos os guias dos nossos próprios pensamentos, mantemos as rédeas sobre eles graças ao livre-arbítrio. O quanto antes percebemos que somos responsáveis por nossa caminhada, a partir dos nossos atos e domínio de nós mesmos, tanto melhor. Essa força que nos habita e pulsa (dentro de nós) em forma de energia precisa ser direcionada. Onde quer que estejamos somos capazes de nos conectar a essa imensa família astral que tanto trabalha pelo bem e a evolução da humanidade.
Regina Gouvea
Militante da Filial Campinas (SP)