Este sintético artigo é o primeiro de uma série em que trataremos de um tema pungente e extremamente complexo: o suicídio. A grande extensão de informações, proporcionada por estudos acadêmicos, livros, textos, filmes etc. que versam sobre o tema do suicídio, nos leva a crer, em um primeiro momento, que o assunto já foi analisado por todas as perspectivas possíveis. Mas será isso verdade? Será que se tem procurado desvendar, a partir da espiritualidade, as razões que levam uma pessoa a tentar ou a cometer o suicídio?
Sabemos que há uma pluralidade de fatores associados ao suicídio: psíquicos, biológicos, religiosos, econômicos, culturais. De maneira geral, a pessoa que o busca como solução vivencia uma dor ou um sofrimento psíquico extenuante, insuportável, avassalador.
Constata-se que a existência de patologias psíquicas – como a depressão –, o uso desmedido de psicotrópicos e álcool, os traumas relacionados a abusos sexuais na infância, a perda de um ente querido, a impulsividade para a agressividade, a miserabilidade, são causas comuns do suicídio.
Em que pese estarem o suicídio e o comportamento suicida marcados pela complexidade no que concerne à análise de suas causas, precisamente por serem fenômenos multifatoriais, há, a nosso sentir, indicações e estratégias eficazes para o reconhecimento e a prevenção de tais flagelos.
Em que se diferencia o presente trabalho dos costumeiros artigos sobre o suicídio?, poderá indagar o leitor. Respondemos que a diferença está na abordagem. Discutiremos este importantíssimo tema à luz da espiritualidade, e não como um fenômeno meramente social. Importa-nos, enquanto estudiosos de temas transcendentes, desvendar as causas reais do suicídio e propor estratégias eficazes de combate a ele.
O suicídio é um ato fundamentado pela falsa percepção de que a vida não vale a pena, de que ela perdeu seu sentido ante o sofrimento que a invade. Enfatizaremos esse ponto em nossa série sobre o tema.
A dificuldade das elites acadêmicas e científicas de procurar por soluções em um campo da realidade que ultrapassa o dos sentidos físicos não é uma das causas do suicídio propriamente dito, mas talvez o seja da elevação calamitosa de seus índices e de uma série de outros distúrbios psíquicos. A ilusão de onisciência por parte de algumas áreas do conhecimento dificulta o diálogo e a multidisciplinariedade, abordagens tão importantes na busca de soluções.
O materialismo, que encontra grande apoio nas lideranças políticas e econômicas do mundo, somado à indiferença aos valores do espírito nos meios intelectuais é o principal responsável pela permanente onda de desequilíbrio psíquico que parece tomar conta do mundo contemporâneo.
A solidariedade, a fraternidade, a busca pelo bem comum, a valorização da pessoa humana e o respeito à família – fatores necessários sobretudo nos momentos de crise e de forte instabilidade emocional – são diuturnamente desconsiderados, enquanto o consumismo, a luta pelo poder e a preocupação obsessiva com a aparência se tornaram paradigmas doentios.
Não basta, todavia, apontar a aridez espiritual que o mundo ora experimenta e a naturalidade com que alguns indivíduos tratam as dificuldades e carências de seus semelhantes, bem como o notório desprezo aos valores do espírito. É preciso tornar claras as possíveis soluções, não pelo simples pudor de fazer o que é certo, mas para anunciar eloquentemente ao mundo que o esclarecimento espiritual proporcionado pelo Racionalismo Cristão projeta uma luz renovadora tão intensa, que sobrepuja a obscuridade fundamentadora de inúmeros males psíquicos, entre os quais o próprio suicídio.