Quem decide sobre um bebê prestes a nascer é a gestante

Encontrei este e-mail ao procurar por correspondência recebida do RC. Após muitos anos, pensei que nunca me tivessem escrito… Ontem, num momento de muita aflição, escrevia a vocês para saber se havia reuniões públicas na casa racionalista cristã da minha cidade, e recebi a resposta de um colaborador racionalista cristão. E lembrei-me que talvez vocês me tivessem escrito e eu não tivesse reparado. E foi o que aconteceu.

Continuo na mesma cidade e penso que aqui irei fincar as minhas raízes. Encontro-me ainda no mesmo trabalho estressante e não consegui coragem para deixá-lo… continuo infeliz neste trabalho, sem gosto pelo que faço, e com esta pandemia agora e eu trabalhando em casa há meses tenho vindo a sentir-me ainda pior com o trabalho… não vejo futuro nisto e não me identifico com esse trabalho de estilo corporativo de grandes empresas que apenas procuram o lucro e onde não há calor humano ou produtividade que faça alguma diferença neste mundo… mas coisas boas aconteceram. Conheci o meu companheiro atual e sou muito feliz com ele, estou grávida e estamos neste momento a passar por uma situação muito delicada da gravidez com a possibilidade de virmos a ter um filho com Trissomia 21.

Preconceito frente à realidade. Eu que sempre me orgulhei em dizer que sou uma pessoa sem preconceitos vejo-me agora com muito preconceito pela possibilidade de ter um filho com deficiência física, de saúde e mental. Apesar de eu ter algum esclarecimento espiritual da vida e de seguir o Racionalismo Cristão desde meus tempos de adolescente, vejo que afinal não tenho estrutura para conseguir lidar com uma situação dessas. Não sinto orgulho, não sinto coragem, não sinto que tenha forças para aguentar firme tudo o que venha a acontecer, quer em nível financeiro, com despesas de saúde que normalmente acompanham as crianças com essa deficiência, quer em nível mental e espiritual de conseguir ter paciência, perseverança, determinação para a ajudar na aprendizagem diferente que será, quer em nível familiar ou social pelo fato de ter uma criança com deficiência…

Penso que vou sentir vergonha, inibição e talvez até rancor com a  criança, o que seria extremamente ruim em todos os sentidos, pois eu não iria ajudá-la, ou a mim ou ao meu companheiro.

Nada está definido que assim irá nascer, mas existe alguma probabilidade (há mais testes e exames de despistagem a serem feitos ainda) e só por causa dessa possibilidade tenho vivido dias muito maus, a sentir-me pra baixo, perdida, sem rumo e sem saber o que fazer, e logo eu que tenho um grande problema em tomar decisões até nas coisas mais simples. Caso se venha a verificar, após todos os exames feitos, que realmente há uma chance elevada de ter Trissomia 21, existe a possibilidade de abortar. Nos meus 20 anos fiz um aborto pelo simples fato de não querer ter um filho nessa altura, e sofri muito com isso por muitos anos (ainda sofro sempre que penso nisso). Sinto muita culpa por ter feito isso, e agora sinto muita culpa pela possibilidade de vir a ter um filho com deficiência. A médica diz que nada na medicina é 100% de certeza, pois mesmo com todos os exames feitos pode ser que nasça “perfeito” ou “normal”.

Pedido de desculpas ao feto. Tento irradiar com vocês pela Rádio A Razão, mas deparo-me com grande dificuldade em conseguir concentrar-me e, às vezes, choro sem conseguir parar, e fico a pedir desculpas à criança que tenho na barriga. Falo com o espírito dela, peço-lhe que me ajude a ter calma, tranquilidade, confiança e discernimento para lidar com isto tudo, tento elevar os meus pensamentos às Forças Superiores, mas acabo sempre por me sentir tão só nisto… e o meu companheiro é um homem tão otimista (apesar de ele não seguir o Racionalismo Cristão), tem atitudes e pensamentos positivos que tudo vai correr bem e que tenho de pensar o Bem para atrair o Bem, que tenho de tranquilizar-me e tentar desfrutar da gravidez para que não passe todo o mal-estar, a tristeza e a depressão para o bebê… e eu sei que ele tem razão em tudo o que diz. Ele é um racionalista cristão mesmo sem o saber. Ao falar com ele, sinto-me mais forte, mais segura, mais confiante e mais  otimista, mas depois, quando estou sozinha nos meus pensamentos, começo a pensar tudo ao contrário, começo a sentir estar em um poço escuro e sem fundo de onde tenho medo. Caso se confirme o prognóstico da deficiência, nenhuma decisão será “boa”, quer seja para avançar com a gravidez, quer para interrompê-la, e qualquer dessas opções vai me trazer a culpa com ela.

Escrevi muito, vejo agora, e não foi nem  um terço do que me vai na mente. Espero que tenham a paciência de conseguir ler isto tudo e ainda mais paciência em me responderem. Neste momento delicado estou a tentar obter qualquer Luz que me possa orientar a tomar uma decisão…

Resposta Prezada, para que você possa tomar decisões pautadas na razão e no bom senso, é preciso readquirir o devido equilíbrio psíquico. Enquanto você estiver indecisa, insegura, perdida nos seus pensamentos, quadros tenebrosos estarão na sua frente, escondendo a verdade, escondendo a maneira mais adequada de lidar com situação tão delicada e que merece muita reflexão, com calma e com equilíbrio, usando a lógica, a sua intuição de futura mãe e, principalmente, os conceitos espiritualistas.

O livro Racionalismo Cristão, em sua 45ª edição, contém um capítulo designado Encarnação do espírito, que mostra a vontade e as dificuldades que um espírito, em seu campo de estágio, tem para tomar um corpo humano para fazer a sua evolução. Sugerimos que leia atentamente o capítulo citado.

A literatura médica aponta muitos outros casos similares de pessoas que conseguiram ter êxito na vida, apesar das imensas dificuldades que encontraram em sua jornada, dificuldades que sabemos se estendem para a família, que sofre também na ajuda àquele ser.

Entendemos que simplesmente fugir do problema não é a solução, porém, jamais devemos assumir responsabilidades maiores do que a nossa capacidade de gerenciá-las. Nada na vida é fácil, e para muitas pessoas o fardo é mais pesado ainda, mas todos têm condições de cumprir os seus deveres, desde que haja vontade forte, determinação, persistência e, principalmente, amor por aquele ente querido que está chegando.

A decisão é sua. Uma decisão difícil, mas que precisa ser tomada com responsabilidade e sinceridade, para não haver arrependimentos futuros que somente iriam causar maiores sofrimentos.

Ressaltamos a importância de praticar a limpeza psíquica no lar, diariamente, nos horários disciplinares. Com a devida autorreflexão nos 15 minutos que antecedem as irradiações.

Esperamos que você esteja munida do discernimento necessário para adotar as medidas mais adequadas, visando ao bem próprio e ao bem desse espírito que está ávido para vir ao mundo, para também poder cumprir o seu dever.