Voltamos a esse tema porque dados divulgados recentemente pela Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que, nas próximas décadas, a depressão deve tornar-se a doença mais comum do planeta, impactando a economia global de maneira avassaladora. São incontáveis as abordagens e pesquisas que tratam do tema depressão, porém não há entre os especialistas consenso quanto a sua origem ou conceituação; analisando a questão pelo prisma da espiritualidade, entendemos que é possível indicar um caminho para sua superação.
A pessoa depressiva tende a se sentir imobilizada diante da intensa angústia que experimenta. Vislumbramos a depressão, do ponto de vista racionalista cristão, como um fator de submissão do ser humano a uma força que lhe parece ser insuportável e intransponível, e a busca por soluções requer um olhar ampliado sobre a realidade para, assim, poder penetrar na essência das coisas, que reside, indiscutivelmente, no campo da espiritualidade. O fortalecimento e o esclarecimento proporcionados pelo Racionalismo Cristão representam a força propulsora para o verdadeiro entendimento dos fenômenos que cercam o ser humano. Por essa razão, estamos convictos de que estudar a espiritualidade, propô-la com clareza e dar mostras objetivas de seu conteúdo por meio de uma conduta digna são passos poderosos para evitar a depressão – e, mais do que isso, para revigorar o ser humano.
Toda pessoa tem um impulso interior para o amor, propensão natural, que faz parte de sua essência. Quando o ser humano nega sua afetividade, ou quando esta lhe é negada pelo grupo a que pertence, estabelece-se um quadro propício para a irrupção de vários distúrbios psíquicos, inclusive a depressão. A frustração afetiva, que é um flagelo capaz de anular a criatividade e cercear a espontaneidade, emerge vigoroso na sociedade contemporânea.
Além dos fatores bioquímicos, a depressão pode firmar-se por autodeterminação. Isso ocorre quando é a própria pessoa que escolhe dada conduta inadequada e sabotadora, desprezando as disciplinas construtivas da vida e mergulhando no pântano dos vícios – cujo resultado só pode perturbar e alienar –, ou então quando o indivíduo sofre um trauma alheio a sua vontade, mas que o afeta diretamente. Em ambos os casos, o ser humano possui latentes em seu íntimo os recursos para sua reestruturação, que são ativados pela força de vontade e ampliados pela razão.
Podemos auxiliar uma pessoa depressiva incentivando-a à prática de atividades físicas e intelectuais, mantendo contato permanente com ela, demonstrando interesse por suas ações – o que melhora sua autoestima; por fim, indicando-lhe boas leituras e incentivando sempre a busca pelo autoconhecimento e a prática reflexiva, sem jamais perder a paciência e a calma. O tratamento médico não deve ser desprezado, embora a ciência, por suas próprias limitações, não abarque toda a realidade em matéria de distúrbios psíquicos. Certo é que a vivência espiritualista fornece os elementos insubstituíveis para a organização dos pensamentos e para a superação da depressão.
O ser humano não nasce pronto, muito menos possui uma mente desprovida de conhecimentos. Na verdade, ele traz em seu íntimo contradições, conflitos e antagonismos a superar e sublimar. Para tanto, possui potencialidades e atributos que devem ser despertados e desenvolvidos de maneira racional e efetiva. Contudo a superação dos transtornos psíquicos se dá, na maioria das vezes, por meio do autoconhecimento, ou seja, pelo reconhecimento de que as forças internas que todos possuem são muito maiores que os problemas que se apresentam.
A sociedade deve encarar a ansiedade com a máxima preocupação e seriedade, pois esta, quando exacerbada, possui inúmeros pontos de contato com a depressão. Ambas, que causam enormes prejuízos psíquicos à humanidade, têm o medo como raiz comum. Este, por seu turno, reflete o desconhecimento da vida em sua mais vasta expressão.
A partir do momento em que o ser humano compreende que sua essência é única e eterna, dando-se conta de que jamais está sozinho, experimenta uma profunda sensação de paz, afastando de si, naturalmente, a tensão e a ansiedade, a insegurança e o medo. Não há, portanto, segredo para lutar contra a ansiedade e a depressão – o que há é a necessidade urgente de autoconhecimento e abertura para o transcendente, exteriorizados no amor-próprio e ao próximo, na gratidão pela vida, na disposição de trabalhar e ajudar a quem precisa e na força de vontade dirigida para a prática do bem.
Todos podem despertar a consciência sobre suas qualidades espirituais e suas múltiplas possibilidades de superação, desde que se predisponham, livres de preconceitos e condicionalismos, a olhar a vida de maneira mais ampla e realística. Nesse sentido, torna-se necessária a exaltação e a vivência de um humanismo saudável, que busque converter a vida em uma elevada e digna oportunidade de crescimento ético e objetivo, sem retirar-lhe a beleza e a poesia de que resultam sua significação e legitimidade.
Estamos cientes da complexidade do tema. Procuramos expor os elementos e princípios racionalistas cristãos nos quais fundamentamos nossas análises. Nunca renunciaremos à proposição da necessidade de disciplina, de método, de dinamismo, de elevação do pensamento e de critério nas escolhas, só para não afetar sensibilidades ou para ter um discurso politicamente correto. Ao fazê-lo, privaríamos as pessoas que estão depressivas ou inclinadas à depressão dos valores que podemos e devemos oferecer. Não temos dúvida de que é por meio dos elementos anteriormente mencionados que o ser humano se põe em condições de traçar uma rota segura para a vitória sobre a depressão. Eis, em breves palavras, a expressão de nossa mais autêntica convicção.