Reflexões sobre a solidariedade entre militantes

Em todo organismo social é importante certo grau de coesão entre seus membros. Importa, também, que as relações sejam, sempre que possível, harmônicas, visando ao bem-estar de todos, para o qual devemos sempre buscar contribuir. A esse respeito, dispõe o livro Prática do Racionalismo Cristão, no capítulo relativo às orientações aos militantes: “não sejamos indelicados, se pudermos ser atenciosos; cuidemos de não ser importunos, desde que possamos ser discretos; não sejamos intolerantes, mas compreensivos; não demonstremos sapiência, e, sim, modéstia, e não sejamos instrumentos de mágoas, mas porta-vozes de palavras amenas e reconfortantes”.

Sendo a filosofa racionalista cristã calcada em princípios fortalecedores do espírito, tais como o domínio de si mesmo, a educação da vontade para o bem, o uso consciente e responsável do livre-arbítrio e a disciplina aplicada à vida material e à vida espiritual, visando ao equilíbrio entre o corpo e o espírito, é natural que, uma vez que tais ensinamentos são reiteradamente explanados, difundidos e ressaltados nas reuniões racionalistas cristãs e nas obras editadas pelo Racionalismo Cristão, não se busque a ampliação do número de militantes ou frequentadores por meio de algum ativismo proselitista. Afinal, ainda conforme as sábias orientações filosóficas aos militantes, condensadas no livro Prática do Racionalismo Cristão, “o desabrochar é sempre de dentro pra fora, dependendo do estado interior do indivíduo e da sua capacidade de assimilar concepções espiritualistas”.

Sabemos que a cada indivíduo cabe buscar sua própria evolução e tal decisão é personalíssima, não podendo nenhum militante substituir quem quer que seja nessa tarefa, por mais desejoso que esteja em contribuir com o aprimoramento espiritual de seu semelhante. Todavia, não se nos afigura contrário aos princípios racionalistas cristãos que os militantes, dentro de suas possibilidades, tentem aproximar-se uns dos outros a fim de oferecerem auxílio mútuo diante de adversidades comuns a que todos podemos estar sujeitos.

É o caso, por exemplo, de um(a) militante idoso(a) cujo deslocamento à filial ou ao correspondente tornou-se, com o avançar da idade, bem mais dificultoso. Há também aqueles que enfrentam perdas de entes queridos e, por mais que saibam que não se devem deixar abater, entram em certo isolamento do qual, por vezes, não sabem como sair. Perceba-se, inclusive, que o militante zeloso no tocante à disciplina racionalista cristã pode, julgando-se um fardo para os demais, deixar de frequentar as reuniões em vez de solicitar auxílio a alguém. É aí que o fraternal apoio dos demais militantes se faz necessário.

Sendo o Racionalismo Cristão, como o sabem todos os que já frequentaram qualquer reunião pública, uma filosofia espiritualista em que nada se pede dos que às suas casas afluem, maior tranquilidade se deve ter ao se procurar contactar qualquer militante que esteja afastado das atividades do Racionalismo Cristão, por se ter a certeza de que jamais se confundirão os reais propósitos de tal atitude, quais sejam o de, por um lado, manifestar solidariedade e sincero interesse pelo bem-estar alheio e o de, por outro, deixar patente que a ausência de qualquer militante sempre é sentida.

Todavia, se, ao se travar contato com qualquer militante nessa situação, for percebido eventual desinteresse pela participação nas atividades das Casas, não se tente persuadi-lo do contrário nem se busque admoestá-lo em razão de sua conduta; medite-se acerca desta última orientação, também transcrita do livro Prática do Racionalismo Cristão: “é engano pensar-se que todos os seres estão maduros para adotar em seu viver os princípios racionalistas cristãos. Muitos ainda precisam despojar-se primeiramente de pesada carga de hábitos, crenças, limitações e temores correspondentes a estados crônicos de pensamentos errôneos que, por enquanto, os fazem permanecer no caminho por onde vêm palmilhando há séculos”.

Assim, sem jamais descuidar das obrigações próprias de um militante, não se tolha o desabrochar da solidariedade decorrente das concepções espiritualistas porventura assimiladas por seu espírito.