René Descartes, fundador do racionalismo moderno

René Descartes (1596-1650) — filósofo e cientista francês — veio ao mundo na cidade de La Haye (hoje chamada Descartes). Nasceu 35 anos depois de Francis Bacon (1561-1626) — filósofo e cientista inglês —, que morreu na cidade de Londres 24 anos antes de Descartes.      

Inaugurados no século XVII, o racionalismo de Descartes (ou Cartésio, seu nome em latim, como também era chamado) e o empirismo de Bacon constituem, sem dúvida, os dois últimos e importantes acontecimentos culturais do final da Renascença, movimento que teve origem na Itália, no século XIV, e deu início à Idade Moderna.

Novas ideias. Inspirado nos valores da Antiguidade Clássica, o movimento renascentista, de caráter cultural, artístico, político e econômico, se espalhou da Itália para toda a Europa. Mas chegaria a seu termo ao raiar o século XVII. A essa altura já estariam em declínio no continente europeu os movimentos intelectuais da Idade Média e da própria Renascença. Então entrariam em cena Bacon e Descartes, trazendo novas ideias para a filosofia e a ciência.       

Estudioso incansável e mais eminente sábio francês de sua época, a respeitável lista de conhecimentos adquiridos por Descartes, dos 10 anos aos 30, abrangia variados campos do saber, como filosofia, matemática, física, direito, medicina, metafísica, lógica, ética e línguas clássicas. 

Desvios de rota. Foi também por volta dos 30 anos que Descartes passou a malbaratar seu tempo, entregando-se a certas atividades alheias ao campo da filosofia e da ciência. Entre tais desvios de rota, cite-se, por exemplo, sua decisão de ingressar, em 1617, como voluntário, no exército do príncipe holandês Maurício de Nassau, tendo chegado a participar de uma das batalhas da Guerra dos Trinta Anos. Depois, já na Alemanha, também se integraria, durante dois anos, às forças militares desse país. No entanto, ao cabo desse período Descartes resolveu, enfim, dar adeus à vida soldadesca e às guerras, voltando, então, para a França e, com mais assiduidade, a seus trabalhos filosóficos e científicos. Em 1628 deixou seu país e foi viver na Holanda.

Apesar de Descartes ter sido educado em colégio jesuíta, onde as ideias do escolasticismo católico faziam parte da educação recebida ali pelos alunos, anos depois  seria ele o fundador do racionalismo moderno, dito também racionalismo cartesiano ou filosofia moderna, o que viria a coincidir com o advento de outra corrente filosó­fica, o empirismo inglês — e esses dois movimentos paralelos dominariam os séculos XVII e XVIII.

Em 1649, mais de duas décadas após ter ido embora para a Holanda, Descartes foi convidado por uma mocinha de 23 anos, Cristina, rainha da Suécia, a morar em Estocolmo, mais especificamente no palácio real — e aceitou o convite. Em 1650, porém, depois de um ano vivendo na corte, como instrutor da jovem soberana, morria Descartes, aos 53 anos, deixando inconclusa uma de suas obras.  

Consta ter sido ainda nos verdes anos da juventude que Descartes começou a formular sua “geometria analítica” e seu “método de raciocinar corretamente”. Seu sonho era unificar todos os conhecimentos humanos, re­construindo o edifício científico sobre as novas bases de seu mé­todo de certezas racionais.

Para Descartes, criador do pensamento cartesiano, sistema filosófico que deu origem à filosofia moderna, o único método da ciência devia ser o método racio­nalista, dedutivo, obedecendo às exigências do rigor matemático.

Discurso sobre o Método. Sabe-se que, comumente, os intelectuais da época escreviam em latim, e “isso restringia seus escritos a um público douto”. No entanto, Descartes escreveu o Discurso sobre o Método, sua obra principal, em francês, pois sua intenção era tornar seu livro acessível aos que compartilhavam da racionalidade cartesiana.

Com efeito, é nessa obra que ele apresenta o método cartesiano, suas justificativas e sua contribuição para o racionalismo. Esse tratado matemático e filosófico compõe-se de duas partes.

Penso, logo existo. Na primeira, Descartes apresenta seu método de raciocínio — “Penso, logo existo”, base de toda a sua filosofia e do futuro “racionalismo científico”. Na segunda, expõe as seguintes regras que, segundo ele, possibilitam ao estudioso chegar ao conhecimento: “Nada é verdadeiro até que venha a ser reconhecido como tal; os problemas precisam ser analisados e resolvidos sistematicamente; as considerações devem partir do mais simples para o mais complexo; e o processo deve ser revisto do começo ao fim, para que nada importante seja omitido”. 

Veja-se, a seguir, a relação das demais obras de Descartes: As Paixões da Alma; Geometria; Meditações sobre a Filosofia Primeira, a respeito das “questões metafísicas tradicionais”; Princípios de Filosofia resultou, teria dito Descartes, de seu descontentamento com a formação de cunho escolástico que recebera no colégio jesuíta e foi escrito com a finalidade de “fornecer conhecimento filosófico” aos que estudavam agora no mesmo colégio; Regras para Orientação do Espírito, obra da juventude  (inacabada), na qual o método aparece em forma de numerosas regras; e O Mundo ou Tratado da Luz, livro com algumas das conquistas definitivas da física clássica — a lei da inércia, a da refração da luz e, principalmente, as bases epistemológicas contrárias ao que seria denominado “princípio da ciência escolástica”.

São dignos de nota também alguns dos trabalhos realizados por Descartes na área da ciência: relacionou a álgebra com a geometria, “fato que fez surgir a geometria analítica e o sistema de coordenadas, conhecido hoje como Plano Cartesiano”; aperfeiçoou a álgebra, sugerindo notações mais simples; fez diversas descobertas no terreno da física; e criou a teoria das refrações da luz através das lentes.