Se há carreira para a qual se deva fazer seleção, essa é o magistério. Mestre não é somente o que instrui, mas também o que educa e, por isso, enquanto não houver equilíbrio entre instruir e educar, todo trabalho será improfícuo.
As estatísticas de reprovações, atualmente, assustam: 80% dos alunos são reprovados, quer no curso ginasial, quer no primário. A quem cabe culpa? Ao Estado? À família? Ao Mestre?
A cada um, uma parcela, pois, tanto as crianças como os adolescentes são orientados pelos adultos. Ao professor cabe, porém, a maior responsabilidade.
Nossos alunos não são menos inteligentes que os do passado; mas atravessam uma época de maior progresso material, a qual exige do Mestre um trabalho intensivo com orientação certa para não deixá-los desajustados ao meio em que estão vivendo.
O problema do ensino é complexo: anda muito abandonada a educação atual; os programas são feitos em gabinetes administrativos por pessoas que, às vezes, nunca tiveram oportunidade de estar ao menos uma semana em contato com o aluno; a orientação nos lares, salvo algumas exceções, deixa muito a desejar…
Deixemos, porém, tudo isso de lado, e tratemos, os Mestres, de melhorar o ensino, ensinando bem. Esqueçamos a vaidade. O professor não aprofunda seus conhecimentos para ostentá-los, mas para transmiti-los com maior clareza.
Não forcemos o aluno a chegar até nós, mas desçamos a ele! É necessário que a matéria seja ensinada de acordo com a mentalidade de quem aprende.
Acabemos com a falsa afirmativa de “não tenho jeito para a Matemática…” ou “o Português não me entra na cabeça!”
O ensino primário e o secundário apenas preparam o indivíduo para que tenha maiores possibilidades de viver.
A vocação é exigida para os que se especializam.
O aluno que só consegue notas baixas, sente-se aturdido, desanimado, desajustado, e por isso mesmo, precisa do amparo moral do professor que, com inteligência e muito raciocínio, contornará a situação, evitando que ele chegue ao estado lastimável de julgar-se um incapaz!
Esclareçamos a mentalidade dos jovens, ensinando-lhes que tudo que é útil e bom só se consegue com trabalho e tenacidade. Acabemos com a palhaçada de vadiar o ano inteiro e, à hora do exame, ajoelhar diante de uma imagem ou torcer nervosamente as contas do rosário.
É preciso incutir no educando que o fracasso ou o êxito é uma consequência da reação má ou boa de cada um e que ninguém recebe o influxo das Forças Superiores se não estiver em boas condições espirituais; que o aluno vadio, desatento às aulas, se não merece a consideração de seus semelhantes, muito menos a de Deus!
O bom Mestre tem um prestígio decisivo sobre o aluno e, muitas vezes, maior que o dos pais.
Ninguém ignora que a proclamação da República muito se deve ao influxo de um grande Mestre.
Desçamos aos nossos alunos; sejamos disciplinados para discipliná-los; corrijamos nossos defeitos antes de criticar os alheios; exerçamos a profissão com sinceridade, utilizando mais a força moral que o castigo; sejamos o exemplo daquilo que desejamos que sejam nossos alunos e só assim teremos concorrido para melhorar o ensino em nosso País.
Publicado em 15 de janeiro de 1957.