Só a imprensa livre pode levar a verdade dos fatos às populações

Não importa saber que fato marca a criação do Dia da Imprensa no Brasil ou em quantas datas ele foi comemorado até a atual 1º de junho. Necessário é focar no que representa essa arma de defesa da sociedade contra a política mal gerida, a corrupção e a violência física imposta por servidores públicos que justamente deveriam atuar como defensores da população. Causa indignação a prática abusiva do uso da força e das armas de que se tem notícia todos os dias e que ocorre mais intensamente em comunidades pobres das periferias, mas aí está como guardiã das vítimas e suas famílias a imprensa.

Em 3 de maio, comemora-se o Dia Internacional da Liberdade de Imprensa, data oficializada em 1993 pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), com o objetivo de ressaltar os princípios fundamentais da liberdade de imprensa no mundo e prestigiar jornalistas que perderam a vida no exercício da profissão. É por isso que louvamos os diversos meios de comunicação que têm levado ao público materiais de real interesse não apenas informativos como também de denúncias que requerem atitudes dignas e enérgicas das autoridades a eles relacionadas. Louvamos também os profissionais dedicados que todos os dias se expõem e se arriscam na cobertura de perigosas situações de desafio ao crime e à Polícia.

Em respeitosa homenagem, A Razão se reporta à edição de Profissão Repórter, de 15 de agosto de 2023, na TV Globo. Depoimentos de parentes de vítimas de violência policial escancararam a verdade sobre as mortes que vitimam negros e pobres nas favelas, e cujas explicações oficiais já estão padronizadas: “policiais foram recebidos a tiros e revidaram”. A maioria dos inquéritos, nesses casos, fica inconclusa e acaba nas gavetas do esquecimento. Quando a matança causa maior impacto na opinião pública e tem testemunhas, os depoimentos apontam seus autores, a burocracia da apuração chega ao Judiciário e os assassinos são condenados. Essa condição redime apenas moralmente as famílias das vítimas, que na maioria dos casos perdeu o esteio financeiro ou um de seus infantes queridos.

Num dos casos narrados, impressionante e estarrecedor depoimento de uma mulher garante: somente uma arma foi utilizada, foram dois tiros, o mesmo som. E lá ficou o corpo do jovem encoberto pelo mesmo chavão: troca de tiros.

O programa, que, sob o panorama geral da violência no país, tratou de matança na Baixada Santista, onde 16 pessoas foram assassinadas em seis dias, e em Salvador, que levantamentos da Polícia apontam como capital da violência, teve um momento que deverá permanecer na memória de todos que assistiram a ele: educadamente, sem afetação ou sensacionalismo, o apresentador confrontou o comandante da Polícia Militar de São Paulo, que, provavelmente por desconhecimento, em defesa um subordinado, dizia ignorar que este mesmo policial tivesse mantido durante 17 segundos sob a mira do fuzil uma jornalista que se havia identificado e informado que estava acompanhando a batida na favela. Dizia também que todos os PMs são identificados em seus fardamentos, mas a jornalista sustentou que o tal abusado não exibia qualquer identificação.

A Razão é editada no Rio de Janeiro, nesta cidade estão a direção, a redação, os repórteres, daí dispor de mais informações sobre seu quintal, mas outros órgãos de divulgação e a internet nos trazem dados que merecem ser colhidos, repensados e levados aos nossos leitores com a nossa marca. A imprensa tem papel importante, e muitas vezes supera a informação, denunciando, transformando e revolucionando. E isto é visto já no primeiro editorial de A Razão: “…Impõe-se a verdade, fira a quem ferir, dita ora com calma, com serenidade, com frieza, ora com violência, com impiedade, com escândalo mesmo. (…) Criticaremos com independência, com vigor, mas seremos justos e imparciais; daremos a cada um o que lhe pertence.”

Conhecida como o quarto poder, sequência de Executivo, Legislativo e Judiciário, a Imprensa precisa ser livre e existir em todas as nações democráticas. Os meios de comunicação como internet, televisão, rádio, jornais e revistas são exemplos de representação da imprensa. Esses meios devem ser pautados pela ética, verdade, imparcialidade e fatos bem fundamentados. Em passado recente, entre denúncias divulgadas pela imprensa citem-se casos de corrupção, estelionato, peculato, associação criminosa, tráfico de influência, que levaram a julgamento e prisão dos acusados.

Citamos a familiaridade com as situações desagradáveis que nos proporciona no Rio de Janeiro a atuação policial, mais precisamente da PM: inúteis trocas de tiros que não resultam em prisões, ao menos não na quantidade necessária para livrar a população do desconforto e temores que sofre diante da abundância de projéteis circulando à procura de um alvo.

O Brasil vive um regime de liberdade que permite aos jornalistas o exercício de seu mister sem receio de represálias oficiais, mas nem sempre foi assim: nos períodos de ditadura (era Vargas e golpe de 1964) jornalistas foram encarcerados, torturados e até assassinados, a censura campeou, o poder que se impunha pela força extinguiu publicações, profissionais tiveram que expor suas ideias e produzir seus textos na clandestinidade.

Pegando carona no Profissão Repórter, aí estão fatos deploráveis, mas não adiantam a denúncia e a tentativa de punição dos autores dos assassinatos chapa branca pela imprensa livre; o país carece de séria reforma nos moldes da Segurança Pública.