Só fortalecimento espiritual pode vencer a dor psíquica

O vocábulo “dor” suscita, de imediato, a ideia de desconforto e sofrimento físico, os quais podem ter uma causa interna, como o mau funcionamento de um órgão, ou externa, por conta de um eventual acidente, fratura ou coisa que o valha. Todavia, a presente reflexão abordará uma outra dimensão da dor: a dor psíquica, fenômeno que não se relaciona direta e exclusivamente com distúrbios orgânicos ou neurofisiológicos, mas com o desconhecimento dos aspectos transcendentes da vida, ou seja, com a incapacidade de ver para além das aparências físicas.

A dor se caracteriza por uma inegável e impressionante dinamicidade. Quando oriunda de um distúrbio físico, pode irradiar seus reflexos no campo psíquico. Quando, porém, fundamentada em um desequilíbrio emocional ou psíquico, é capaz de projetar suas consequências no corpo físico, dando origem às assim chamadas doenças psicossomáticas. Na verdade, a dor, independentemente de sua origem, expõe o ser humano a uma experiência de solidão, sendo, não raras vezes, acompanhada de angústia e depressão. Diante de tão implacável cenário, é imperioso que a pessoa aprenda a se fortalecer mental e espiritualmente, a fim de que a dor, que é um fenômeno natural e universal, não seja capaz de desestabilizá-la a ponto de deixá-la sem condições de reação e soerguimento.

Compreender e ressignifcar. Não é fácil para o ser humano visitado pela dor e pelo sofrimento manter o equilíbrio e a calma na apreciação dos fatos. Contudo, o esclarecimento espiritual, adquirido pelo empenho em ampliar a própria consciência e desenvolver os atributos do espírito, fornece a cada um os subsídios necessários para que se alcance a verdadeira felicidade, que, embora não tenha relação direta com a ausência plena da dor, permite compreendê-la e sobretudo ressignificá-la.

Quando a pessoa desperta para a espiritualidade e se dedica ao desenvolvimento criterioso e ordenado de seus atributos e faculdades, fica livre de condicionamentos e padrões sem sentido, de expectativas angustiantes e de preocupações infundadas, que prendem inúmeros seres ao uso constante de certos medicamentos, como ansiolíticos e antidepressivos. Consciente de sua essência espiritual e de sua origem, a pessoa que alcançou lucidez espiritual sente-se íntegra e saudável, mesmo quando visitada pela dor física.

O amplo espectro da dor não encontra receptividade no interior de quem alargou o próprio horizonte existencial por meio do esclarecimento espiritual proporcionado pelo Racionalismo Cristão. Quando o ser humano se compenetra dessa realidade, os sentimentos negativos que aninha se transformam pela ação do pensamento elevado e vigoroso. Por conseguinte, a vida começa a fluir de maneira positiva, independentemente dos desafios e percalços a que todos estão sujeitos.

Combate pelo autoconhecimento. A dor psíquica, manifestada em situações de pânico, depressão, angústia, pavor etc., se evita e se combate a partir do autoconhecimento, que, por seu turno – reforçamos –, é resultado do esclarecimento espiritual que o Racionalismo Cristão nos oferece. Nesse passo, é imprescindível que o ser humano estabeleça uma íntima conexão consigo mesmo, a fim de compreender que tem uma essência que transcende ao corpo físico, a qual é indestrutível e o capacita a enfrentar condignamente todos os reveses com que se depara ao longo de sua trajetória neste planeta, incluindo a melancolia e o luto.

Na presente reflexão abordamos o fenômeno da dor psíquica e as formas de combatê-la. Há, todavia, um outro aspecto que queremos destacar nesta conclusão: aqueles que felizmente já despertaram para a espiritualidade proposta pelo Racionalismo Cristão e pautam sua vida pelos princípios fortalecedores do amor ao próximo e da fraternidade universal não devem, de forma alguma, ser indiferentes à dor alheia, seja ela psíquica, física ou da ordem que for; devem, isto sim, sensibilizar-se diante da dor do outro, ouvindo-lhe pacientemente as queixas e lamentações para, em ato contínuo, irradiar pensamentos salutares em seu favor e, quando a ocasião permitir, exteriorizar palavras de ânimo e esclarecimento, que, uma vez vivenciadas por quem sofre psiquicamente, produzirão, além de alívio, a cura das dores angustiantes advindas do desconhecimento espiritual.