Solidariedade e compaixão

Tão importantes são esses temas na prática racionalista cristã que já escrevi sobre eles três artigos no jornal A Razão: um em agosto de 2014, página 8, intitulado A condição humana da compaixão; na edição de novembro de 2015, página 8, o artigo Generosidade e solidariedade; e o artigo A empatia, em maio de 2005, página 8. Este último tema já foi inserido, também, no livro de minha autoria intitulado Valor dos Sentimentos, página 65 e seguintes, editado em 2012. Por que estou dando início a este artigo com todas essas referências? Porque todos esses sentimentos estão intimamente correlacionados e a ação benéfica de um implica a coexistência do outro ou dos outros dois. Neste artigo, vamos dar ênfase ao tema solidariedade.

A solidariedade é um sentimento derivado da virtude da generosidade. Ela brota no íntimo de nossas almas espontaneamente com o objetivo de ajudar as pessoas sem querer ou pedir algo em troca. Ações solidárias se agigantam quando agregam pessoas em mutirão para resolverem problemas de outras pessoas nas mais diversas situações. Lá no fundo de nossas almas esse nobre sentimento nos diz que estamos “amando o próximo como a nós mesmos” num gesto profundo de empatia, ajudando pessoas que muitas vezes nem conhecemos.

A solidariedade é um sentimento de identificação com as necessidades dos outros, principalmente de ordem material. A solidariedade está presente de forma visível nos casos de catástrofes provocadas pela natureza, tais como desabamentos, inundações, tufões e tsunamis, ou mesmo quando provocadas pelos homens, como desastres de carro, queda de aviões, incêndios, explosões etc. Em todos esses casos, a ajuda humanitária expressa o sentimento de solidariedade.

Vemos, assim, que a solidariedade tem um alcance amplo. Ela não tem restrições. Sua ação e seus efeitos podem ser de uma pessoa para outra, de uma pessoa para muitas ou de muitas pessoas para outras muitas. O aspecto mais nobre da solidariedade ocorre, porém, quando as pessoas abraçam determinada causa, doutrina ou filosofia em benefício de outras com o propósito de unir pensamentos e sentimentos no sentido de aplicar e fazer valer o preceito “a união faz a força”. É o que ocorre no Racionalismo Cristão, nas doutrinas filosóficas, nas associações de classe, nos sindicatos, nos partidos políticos e nas agremiações de um modo geral.

Os praticantes da solidariedade percebem que seus nobres e espontâneos atos os levam a sentirem-se realizados, trazendo felicidade para suas vidas. É uma forma sutil de atuação da lei de causa e efeito ou lei da compensação. A pessoa não está apenas ajudando o próximo, mas também, a si mesmo. Nesse particular, a solidariedade é um ato de bondade, que, por sua vez, é um ato de amor ao próximo e que ajuda as pessoas a encontrar o verdadeiro sentido da vida e crescer espiritualmente. Os que já adotaram os preceitos do Racionalismo Cristão sabem muito bem disso.

Já falamos na solidariedade de muitos para com todos, nesse caso dando um sentido o mais amplo possível na prática da solidariedade. Isso é socializar a solidariedade, é um verdadeiro congraçamento entre as pessoas e os povos! Vemos um pouco disso quando observamos hordas inteiras de refugiados fugindo da fome, da miséria e das guerras fratricidas ao serem acolhidos por povos de outras nações. Isso acontecerá com muito maior grandeza quando a espiritualização das pessoas e seus governantes alcançar mais elevado nível de espiritualidade, ainda muito precária nos dias atuais.

Recentemente eu me extasiei de felicidade quando constatei, num vídeo, a presença da solidariedade instintiva de sobrevivência no mundo animal. O vídeo mostra duas tartarugas ainda jovens, uma delas virada de costas com as pernas para o ar. A outra a rodeia e se aproxima dela tentando desvirá-la, já que ela não consegue voltar à posição normal por si mesma. E acaba conseguindo seu intento. Lindíssima essa lição de vida e solidariedade! Vi, também na Internet, muitos pássaros praticando a solidariedade instintiva. Os humanos teriam muito que aprender observando essas cenas, mas infelizmente não reservam tempo para isso! Deixo aqui a URL desse link para quem quiser ver essas comoventes cenas: https://youtu.be/TsFHzHxKUww .

A compaixão é o acolhimento às pessoas que de alguma forma estão enfrentando necessidades a ponto de causar os mais diversos tipos de carência e sofrimentos. É muito mais que um simples sentimento de pena por quem está sofrendo. Não é dar uma esmola a quem está pedindo, pois não é a mesma coisa que praticar caridade. A compaixão é um sentimento de iniciativa de quem acode ou acolhe o semelhante e não da pessoa necessitada. É uma tomada de consciência que a pessoa sente no âmago de si mesma para perceber a desigualdade que presencia nas situações e nas circunstâncias experimentadas por outrem e querer ajudá-lo de alguma forma. É, portanto, uma perspectiva diferente da solidariedade. Aqui é a própria pessoa que se propõe a ajudar, por um nobre impulso que provém de seu grau de espiritualidade, por sentir que estender a mão e ajudar a quem precisa é um ato de generosidade da mais elevada categoria. Na compaixão, a iniciativa parte de quem presta a solidariedade, não de quem pede por ela.

Nós pertencemos ao Universo e vivemos num mundo de vibrações. Nossos pensamentos e sentimentos são vibrações geradas pelos espíritos encarnados e desencarnados que transitam pela atmosfera fluídica da Terra e estão sujeitas a influenciar e ser influenciadas de todos os modos umas pelas outras. Isso cria uma enorme distorção e barreiras quanto à prática dos bons sentimentos como é caso da solidariedade e da compaixão e tantos outros de semelhante natureza. O resultado de tudo isso é vivermos em um mundo muito competitivo repleto de ilusões materiais de posse e poder a todo custo, não dando lugar a uma sociedade mais justa e solidária.

Nós, espiritualistas convictos, sabemos muito bem que para ajudar outras pessoas precisamos estar psiquicamente bem equilibrados, harmonizando ao máximo possível nossos pensamentos e sentimentos com as vibrações superiores, isto é, termos sabedoria suficiente para não entrar nas vibrações de tristeza em que, muitas vezes, se encontram as pessoas a quem desejamos prestar solidariedade. Não é fácil, mas é possível para as pessoas psiquicamente fortalecidas. É esse fortalecimento que precisamos buscar, ele é o verdadeiro segredo para praticarmos a solidariedade, sem nos prejudicarmos.

Para concluir, gostaríamos de afirmar que a solidariedade é um sentimento que nos torna mais humanos, contribuindo enormemente para a nossa evolução espiritual, mas, também, devemos ter o cuidado necessário para não nos deixarmos ser pegos por sentimentalismos de tristeza e nostalgia, tão prejudiciais que poderiam anular os benefícios que estaríamos levando às pessoas necessitadas que pretendermos ajudar.