A cívica comemoração dos mascarados

Este ano as pessoas em todo o mundo foram obrigadas a acrescentar máscara à indumentária –  exceto as mulheres muçulmanas, que já usavam a burca –, forçadas pela violência do coronavírus, bichinho sem-vergonha, invisível a olho nu, mas que “mata mais do que bala de revólver”, diriam os Demônios da Garoa. O que seria do mundo se o corona não fosse um vírus, mas um elefante? Nem pensar!

Se em outros países o uso da máscara foi adotado pela necessidade de proteção e prevenção da covid 19, no Brasil foi estabelecido para algumas pessoas, agora o uso da sobremáscara, porque já eram mascaradas antes da pandemia. Não há estudos conclusivos se já tenham nascido com essa deformidade moral, se é um problema genético ou se é o resultado da observação de pessoas que a plebe chamava de caras-de-pau.

Esses mascarados especiais vão e voltam, reaparecem de vez em quando, postulando vaga na Câmara dos Deputados, nas assembleias legislativas e nas câmaras de vereadores. Alguns mais ousados e pretensiosos reivindicam a Presidência da República. E vão rolando suas conversas fiadas, curiosamente somente com as máscaras originais.

Esses nossos salvadores e salvadores da pátria se apresentam sem a máscara preventiva nos santinhos, nos jornais, nas emissoras de rádio, nas redes sociais e na televisão. Ah, pobre da televisão! E como sofrem os telespectadores que têm retardada a sequência de suas novelas e de toda a programação. Ao menos não estão exibindo tantos sorrisos congelados. Os indecentes sorrisos estão desaparecendo da telinha, mas estão vivos, escondidos nas promessas. É triste que alguns cínicos ainda sorriam tanto em grave desrespeito tanto aos 160 mil mortos pela covid, quanto pela dor de seus parentes.

Os contadores de histórias chegam a comover-nos: como se entregam, que desejo de servir, nenhum ambicioso, nenhum pensa em mordomia, em nepotismo, em rachadinha!. Oh céus! E chãos! Como julgar o comportamento dos nossos mascarados do plantão eleitoral? Uma glória ou um suplício? Querem mesmo nosso bem e o bem a cidade ou estado ou país que juram amar, ou querem nosso sangue? Morcegos!

O vírus que nos afastou de amigos e de parentes cassou nosso carnaval, ao menos como o conhecemos. De qualquer forma, o mundo vive um longo carnaval. Muita máscara, muita alegoria, muita mentira fantasiada. No Brasil, tudo isso é em maior volume e intensidade, florido de agravantes. Que aproveitem, que se divirtam à custa dos eleitores, formem o bloco de cuecões, de sujos – nada a ver com os tradicionais, respeitáveis e alegres blocos de sujo. Comemorem, civicamente, mascarados.