A janelinha aberta

A janelinha aberta
O conhecimento da verdade é o caminho certo e seguro que conduz a criatura ao conhecimento de si mesma e das coisas sérias da vida. A ignorância da verdade é um ultraje à razão e ao bom-senso.
A consciência individual foge, por vezes, à razão, quando nela não se abre uma fresta de luz, de entendimento, verdadeira janelinha aberta por onde se projetam os raios da percepção que se escondem atrás do raciocínio. Entendimento, percepção e raciocínio são faculdades do espírito, as quais se ampliam de acordo com o seu progresso.
É a ignorância, sem dúvida, a causa dos males que afligem a humanidade. Há, porém, duas espécies de ignorantes: o que não vê nem percebe, e o que vê e percebe. Este é o ignorante proposital, que teima em viver da ignorância para satisfazer seus caprichos em proveito próprio. É a maldade, a perversidade personificada. Devemos estar prevenidos contra esta espécie de ignorantes, pois perturbam e aniquilam as melhores intenções, retardam o progresso, negam, em síntese, a verdade.
A outra espécie, que não vê nem percebe, embora prejudicial, não é tão nociva quanto a citada. Requer, apenas, quem lhe mostre o caminho certo, abrindo-lhe o entendimento, a percepção e a razão. É uma questão de tempo, para que a luz penetre sua consciência, abra-se-lhe a “janelinha”. O estudo e o raciocínio são as chaves-mestras que libertam a criatura da ignorância; sem eles nenhum passo ao progresso será possível.
Um dos grandes males da época é o de pensar-se, unicamente, nas coisas que dizem respeito às necessidades físicas, relegando-se a plano inferior as coisas que se relacionam com o espírito.
A materialidade em que vivem certos espíritos não lhes dá oportunidade a que vejam com clareza a verdade. A dúvida e a desconfiança perturbam o raciocínio e, nesse estado, não percebem a verdade que, às vezes, se lhes apresentam e descambam na obscuridade e no lamaçal das ilusões da matéria, vítimas da sua própria incúria. Mas se a criatura possui vontade forte para o bem, abre-se-lhe a percepção, e, finalmente, compreenderá os seus deveres, lutando para conquistar a felicidade relativa que proporciona o viver consciente.
Viver todos vivem, mas viver sabendo por que vive e para que vive é que deve interessar à criatura digna e honrada, sedenta de conhecimento e que não se limita à vida ilusória e às conquistas fáceis da matéria.
Oscar de Menezes
Publicado em 15 de janeiro de 1955