Humanista ou espiritualista?

Conceitos criados pela linguagem falada e escrita servem para que possamos definir o significado de valores e para o entendimento do que se pretende estudar. No campo de estudo dos valores relacionados à excelência buscada em termos dos relacionamentos humanos, pode-se perguntar se o homem excelente é o humanista ou o espiritualista. Acrescente-se que “homem” refere-se ao gênero humano nas modalidades masculina e feminina.

Em outras palavras, a pergunta que se propõe é: quem demonstra maior capacidade de valorizar a vida, de ajudar o próximo, de investir em melhorias sociais ou culturais, enfim, de promover o bem da humanidade naturalmente sem esperar por recompensas em função de seus atos, o humanista ou o espiritualista? Vejamos.

Antes, porém, convém conhecermos o significado desses conceitos encontrados no léxico.

Humanista é adjetivo de dois gêneros que qualifica a pessoa adepta do humanismo. Este, por sua vez, é corrente filosófica cuja centralidade está no ser humano e na humanidade, ou seja, é pensamento filosófico que enfatiza e promove a valorização do ser humano. O humanismo afirma que todas as pessoas têm valor em si mesmas, pela simples e natural condição de serem humanas, independentemente de quaisquer outras condições, crenças ou circunstâncias.

Espiritualista, por sua vez, qualifica a pessoa que segue o espiritualismo como filosofia e que, portanto, acredita na existência do espírito como realidade substancial, ou seja, como fator da realidade como a conhecemos e vivenciamos.

Diante dessas definições, surge novamente a pergunta: a excelência em praticar o bem a favor da humanidade está, afinal, com o humanista ou com o espiritualista?

À primeira vista aos conhecedores do Racionalismo Cristão como filosofia espiritualista, pode parecer óbvio que a excelência em termos da prática do bem está em ser espiritualista. De certa forma isso está correto. Mas a controvérsia não se encerra aí.

Naturalmente não se está tentando aqui comparar pessoas que norteiam suas vidas a partir desses conceitos em termos de “quem é melhor no quê” quando ressaltamos essas duas possibilidades relacionadas ao comportamento humano (ser humanista ou ser espiritualista) confrontando-os.

O que se pretende é trazer ao raciocínio a compreensão mais acurada sobre o que se espera do ser humano nos patamares da excelência, ou seja, no mais alto grau possível.

Quem estuda o Racionalismo Cristão entende que a lei das múltiplas existências determina a todos os espíritos que tenham tantas existências físicas quantas forem necessárias até completarem a sequência do processo evolutivo que lhes possibilite a continuidade da evolução em esferas mais altas, sem a necessidade de um corpo humano daí para frente para promoverem a própria evolução.

Durante esse processo o que se deve aprender é, essencialmente, a prática do bem. Praticar o bem é ajudar o próximo, é nunca lesá-lo, muito menos em benefício próprio, é promover seu bem-estar, é reconhecê-lo como detentor de todos os atributos de humanidade e, por isso mesmo, digno de toda a consideração.

Mas essas normas são afeitas ao humanista ou ao espiritualista?

A ambos. Talvez pareça contraditório, mas o espiritualismo conduz ao humanismo. Sim, pois o humanista é o ser que já tem consolidado em si o valor do ser humano, que sente naturalmente a necessidade de ajudar o próximo desinteressadamente, que age guiado pela essência do que é o bem como valor a ser buscado e praticado, independentemente de outras condições.

O humanista vê a humanidade como bem em si mesma e esse grau de compreensão só se alcança depois de ter passado por várias experiências em corpo humano, em inúmeras existências físicas.

O humanista pode até ser ateu e materialista nas suas crenças, mas mesmo assim continuará praticando o bem naturalmente, pois reconhece o valor da humanidade como conjunto e de cada ser humano em particular.

Vários exemplos corroboram essa afirmação. Inúmeros espíritos vieram a este mundo e continuam a vir neste planeta com o fito de promoverem o bem da humanidade nos mais diversos segmentos da sociedade: artes, ciências, leis, religião, invenções, descobertas etc. São espíritos que alcançaram elevado patamar evolutivo e que se dispõem a ajudar a humanidade, voluntariamente, sem esperar nada em troca, pois sua recompensa está na prática do bem em si mesma.

O espiritualista, via de regra, é o ser que se desprendeu de valores e ambições puramente materiais, que busca novos conhecimentos que satisfaçam o raciocínio sem limitações sectárias ou dogmáticas.

É ser que venceu o medo e o fanatismo em termos de espiritualidade, transcendentalidade e continuidade da vida após a matéria.

É ser que alcançará, em futuro certo, a capacidade de amar a humanidade no mais elevado nível, ou seja, alcançará a condição de humanista.

Naturalmente essa não é regra geral aplicável a todos os casos: dizer que todo humanista é mais evoluído que todo espiritualista ou que todo espiritualista ainda está nos níveis iniciais da espiritualidade não é correto, mas a comparação aqui explanada serve de balizamento ao raciocínio sobre os conceitos relacionados à humanidade e à espiritualidade, pois o ser humano é composto de Força e de Matéria e, portanto, humano e espiritual; e ambas as condições são importantes para o bom entendimento da evolução.