O gênio sai da lâmpada

Inovação. Palavra-chave no rebuliço pós-pandemia que repercute em todos os setores e, na verdade, começou faz tempo e agora está à tona e a toda. Nada fica de fora: indústria, saúde e medicina, ciência, energia e mineração, mobilidade, ensino; o que for. Nos laboratórios de antecipação de um futuro ora presente permitem-se muito mais do que ideias: soluções para problemas únicos ou difíceis – e vendê-las. Adquirir competência para elaborar novos meios de organizar a vida é o mote do ensino. O talento a serviço de um mercado de trabalho em ajuste, capacitação e treinamento (esqueçam as graduações) como passaporte. O gênio fora da lâmpada.

A priori, as cadeias de suprimento, sujeitas a riscos de ruptura e/ou engarrafamentos, agora tendem a aproximar o consumidor. A globalização se regionaliza e localiza. Os “regionais” buscam integrar o comércio, como mostram, por exemplo, estratégias ligadas ao Mercosul (América do Sul), Asean (Sudeste asiático) e Ecowas (África Ocidental) vis-à-vis a União Europeia. Grandes cidades, por seu lado, tornam-se autônomas. A nova Comissão Europeia que assumiu em fins de 2019 parece pouco voltada a um papel geopolítico e mais perto de seu espaço territorial, o Mediterrâneo.

A considerar: o contexto do Brexit, a rivalidade Estados Unidos e Rússia, a China e seu plano quinquenal 2020-2025, ano em que se pretende consagrar como superpotência em manufaturas. Shenzhen, o Vale do Silício chinês, deve explodir no varejo e finanças, com o yuan digital; Pequim como líder na fabricação de microchips. Quem sabe, definir a briga atual com os Estados Unidos, que já detêm a tecnologia dos chips de sete nanômetros, junto com o Japão. Talentos é o que busca o governo chinês – em inteligência artificial, computador quantum, ciências da vida, espaço e aviação. Uma ressalva: o varejo ou e-comércio vem devastando o comércio físico, impotente na pandemia, e tende a manter-se. Igual efeito, em menor escala, para o home-office.

Condição sine qua non para a engrenagem mundial deslizar: mobilidade. Alvoroçado, por tanto tempo em solo, o homem acelera o passaporte-vacina para voltar aos céus – a negócios ou prazer. E às viagens terrestres, o turismo ora inclinado ao “doméstico”. O destino internacional, portanto, irá esquecer o tradicional para desembarcar, por exemplo, em Angola ou Omã – e similares. Voos de maior segurança e eficiência de atendimento, graças ao uso de dados biométricos em plataforma automatizada. Em pauta, um abalo tectônico mundial no setor de transporte, e também na logística, desde o urbano ao aéreo (energia elétrica) e ao marítimo (infraestrutura). Os alemães contam com a sua realidade da Ciência e da Pesquisa. Por exemplo, dos 240 centros da Organização Mundial de Saúde para produção da vacina atual, 26 estão na Alemanha.

A inovação começa na pesquisa. E a pesquisa nas universidades. O Brasil segue o curso. Vem de ampliar os projetos de parceria industrial, com quatro novas unidades de capacitação 4.0, depois de 247 projetos (ecossistema) no período 2014-2020. O MEC entra com US$ 12 milhões. (Auguramos que o mundo/máquina não o deixe negligenciar seu ministério fundamental: educação e cultura). Importantíssimas na Revolução Industrial, as cadeias de abastecimento começam a ser chamadas cadeias de demanda. Com impacto na “última milha”, ou seja, no finalzinho da entrega, da qual já se encarregam robôs e drones. Informa o Instituto McKinsey Brasil que as empresas brasileiras com cadeias de suprimento de ponta a ponta empenham-se na eficiência, criando centros de controle, ou torres digitais, para detectar choques iminentes. No setor de mineração, o foco é reduzir a zero as emissões de carbono, também de ponta a ponta.

Mobilidade empuxa energia – e surpreende. Marcado para novembro o início de um mês de operações do primeiro aeroporto do mundo a usar “táxi voador”, na cidade britânica de Coventry. Veículo pequeno, para pequenas distâncias em espaços urbanos expansivos. Elétrico, de decolagem e aterrissagem vertical (a EmbraerX tem também seu próprio modelo), com zero emissão de carbono. O que se pretende mostrar em Coventry é o procedimento desde o check-in até os preparativos de embarque. O aeroporto serve, ainda, ao transporte de carga por drones.

Um senão. Por causa da infraestrutura em estado precário, em muitos países, a Unctad estima necessidades de investimento de US$ 94 trilhões no setor de transporte até 2040. A França de Macron (há eleições em 2022) ambiciona, entre outros projetos ecológicos para Paris, eletrificar as redes de transporte urbano e ferroviário. E, numa Alemanha dependente de importar petróleo, o carro elétrico entra na aposta e o avião tem encontro marcado com combustíveis outros. No Japão, imagina-se uma “sociedade do hidrogênio”.

Não há, portanto, retomada dos negócios, eles apenas desaceleraram. Já a vida pública – sociedade, educação – depende da vacina. Nenhum país estará a salvo, até que todos estejam. Mas onde estão as vacinas? Um segundo alerta, e este há mais de uma década: se Israel ou os Estados Unidos atacarem instalações nucleares do Irã, é de se esperar que irá fabricar a bomba,  e usá-la.

Então, é pensar a pandemia como um abalo do qual se recuperar. E repensar como agir doravante, visando à estabilidade e segurança. Para todos – como a vacina.