Pais da Encyclopédie, mas pensadores materialistas

História do racionalismo – 127

Coube a dois expoentes do movimento iluminista francês, Denis Diderot e Jean le Rond D’Alembert, conceber a Encyclopédie ou Dictionnaire Raisonné des Sciences, des Arts et des Métiers (em português, Enciclopédia ou Dicionário Racional das Ciências, das Artes e das Profissões), considerada a primeira enciclopédia moderna do mundo.

Diderot nasceu em Langres, França, em 5 de outubro de 1713, e morreu em Paris, em 31 de julho de 1784, aos 70 anos, e D’Alembert nasceu em 16 de novembro de 1717, em Paris, onde viria também a falecer, em 29 de outubro de 1783, aos 66 anos.

Em 1751 foi lançado, em Paris, por seus dois pais, o primeiro volume da Encyclopédie, que, em 1772, 21 anos depois, teria 28 volumes, 71.818 artigos e 2.885 ilustrações, tendo sua feitura contado também com a colaboração de ninguém menos que Voltaire, Rousseau e Montesquieu.

Uma síntese do saber. O ambicioso objetivo desse empreendimento era “conseguir fazer uma síntese do saber obtido pelos europeus ao longo de séculos de conhecimento”. Cumpre, porém, esclarecer que Diderot e D’Alembert não se distinguiram apenas como autores da Encyclopédie e como dois dos mais brilhantes pensadores da Filosofia das Luzes. O primeiro celebrizou-se também como escritor e tradutor; e o segundo, como um dos notáveis físicos e matemáticos de seu tempo, destacando-se dentre seus trabalhos o relativo às equações diferenciais e às equações derivadas parciais. Ademais, constam de seu currículo científico importantes contribuições à astronomia – foi, por exemplo, o primeiro a explicar, baseado nas leis de Newton e por meio de cálculos precisos, o fenômeno da precessão dos equinócios.

Símbolos do Iluminismo. Ressalte-se, ainda, que Diderot e D’Alembert fazem parte, com Voltaire, Rousseau e Montesquieu, do grupo de cinco pensadores franceses considerados como “símbolos do Iluminismo”. As ideias defendidas por essa quina de iluministas teriam relevantes implicações, tanto sociopolíticas quanto de caráter cultural.

No que se refere às sociopolíticas, o principal exemplo é, sem dúvida, a Revolução Francesa – um dos acontecimentos mais importantes da História. Em razão de sua histórica importância, a Revolução Francesa provocaria também históricas mudanças na França, entre as quais, o fim do Antigo Regime e dos privilégios da aristocracia. Além disso, se tornaria o marco, por sua vez também histórico, que determinaria o término da Idade Moderna e o início da Idade Contemporânea.

“A filosofia do futuro”. Diderot tinha em mente realizar no campo do pensamento filosófico uma grande revolução – fazer da filosofia experimental a filosofia do futuro, em substituição à filosofia racionalista. Para ele, o futuro não seria dos filósofos racionalistas, e sim dos filósofos experimentais. Os racionalistas, no dizer dele, pretendiam chegar a conclusões de tudo baseados em “seus axiomas abstratos”.

Como observa um estudioso, é realmente notável a insistência de Diderot em defender que a filosofia experimental é o verdadeiro campo do “progresso inacabado”, que precisa do infinito afã do conhecimento humano. Não apenas por ser um campo infinito em si, pois recolhe a experiência diretamente dos indivíduos, mas também por ser o mais útil, uma vez que somente o concreto – ou, noutras palavras, o que existe materialmente – pode ser útil.

A natureza, prossegue Diderot, procura sempre esgotar-se na produção das possíveis variações de um modelo, ou protótipo, antes de abandoná-lo. Conhecer essas variações é a única maneira de conhecer o modelo. Assim, o concreto é sempre anterior ao abstrato.

O materialista Diderot. Sem espaço para continuar discorrendo sobre tudo que Diderot e D’Alembert escreveram ou fizeram, limitamo-nos a acrescentar que a filosofia do primeiro se enquadra tanto na corrente empirista quanto no naturalismo. E, como naturalista, o materialista Diderot nega a existência do transcendental.

Segundo ele, “o mundo exterior pode ser explicado por leis e fenômenos naturais”.

Quanto à filosofia do segundo, limitamo-nos também a dizer que ela, à semelhança da obra filosófica de Diderot, faz severas críticas às especulações metafísicas e enfatiza a importância das ciências práticas e observáveis, em detrimento de sistemas filosóficos abstratos.

Principais obras de Diderot: Enciclopédia (em parceria com D’Alembert); Pensamentos Filosóficos; Carta sobre os cegos para uso dos que enxergam; Jacques, o Fatalista e seu mestre; O sobrinho de Rameau; e A religiosa.

Principais obras de D’Alembert: Enciclopédia (em parceria com Diderot); Ensaio sobre os elementos de filosofia; Tratado de dinâmica; Pesquisa em cordas vibrantes; Tratado do equilíbrio e movimentos dos fluidos; Ensaio de uma nova teoria da resistência dos fluidos; e Reflexões sobre a história.