Uma propina aqui… um afano ali… e a vida continua

Ainda sacolejam na memória as acusações de corrupção ao presidente que trouxe de volta ao país a democracia, que havia sido estropiada 21 anos atrás. Livrou-se de todas, protegido por laços de amizade e de interesses entre os que deviam julgá-lo. Muitas das acusações até poderiam ter sido intriga da oposição, mas, como dizia o vulgo, todo boato tem um fundo de verdade.

Pesam ainda sobre seus ombros os desvios de verbas públicas possibilitados pelo projeto de uma ferrovia que cortaria o Brasil de norte a sul. E não foi construída.

Sua ascensão à Presidência da República foi um caso inusitado: o Congresso deu-lhe posse como presidente interino (que figura!) enquanto o presidente eleito lutava com a morte cada dia mais próxima. E acabou perdendo.

Esse senhor era considerado por tentar exterminar as maquininhas de remarcação de preços nos supermercados, mas deixou o cargo após angariar a antipatia popular. Embora no início de seu confuso governo tivesse alcançado alguma aceitação, porque fez do combate à inflação seu cavalo de batalha, falhou, errou na prática, porque atacou as consequências e ignorou as causas. Se no atacado foi um governo negativo, no varejo legou-nos uma Constituição e um ou outro benefício social.

A vida prosseguiu, Com a restauração do direito de votar para presidente, o povo foi às urnas iludido pela gesticulação e pelo mote da campanha de um candidato jovem que parecia ter qualidades que o credenciavam ao cargo, e mergulhou de cabeça. Que desilusão!

O tal caçador de marajás prometia o fim da corrupção, mas acabou cassado por práticas condenáveis assessorado por outro trapalhão, que foi pro brejo. Entre as primeiras providências no exercício do poder, expropriou o dinheiro mantido nas cadernetas de poupança que tinham a garantia dos governos. Consolidou, então, a maldade engendrada e mantida em sigilo durante a campanha eleitoral. Ao governante, tudo! ao povo, dê-se-lhe uma urna e alguns nomes para divertir-se… e depois chorar!

Esse personagem se manteve por algum tempo no poder sustentado por um comparsa que atuava a seu lado desde a campanha eleitoral e esteve à frente das questões que envolviam o vil metal e influenciava a administração em vários setores, auferindo sempre vantagens monetárias. O resultado da roubalheira caiu sobre o presidente como um balde de dejetos e ele optou pela renúncia ao cargo, para tentar evitar o impeachment.

Pouco a dizer sobre o vice que completou o mandado interrompido. O empresário parceiro do cassado foi assassinado em circunstâncias não esclarecidas.

Outras acusações e denúncias atingiram outros presidentes, governadores, parlamentares e até um meritíssimo, que ficou conhecido como Juiz Lalau, porque se atrapalhou nas contas da construção da sede do Fórum Trabalhista de São Paulo. O Ministério Público Federal o acusou de haver auferido vantagens de superfaturamento de R$ 170 milhões. Em 2006, o ex-juiz foi condenado a 26 anos e seis meses de prisão pelos crimes de desvio de verbas, estelionato e corrupção. Em maio de 2020 ele morreu. E nem cumpriu a pena.

De 1994 a 2002, governou o país Fernando Henrique Cardoso, cujos mandatos e órgãos federais sofreram mil acusações de irregularidades e corrupção.

Chegou a jornada do operário rouco. Perseverante, insistente, conseguiu eleger-se e, graças ao assistencialismo, se reelegeu, tendo governado o país de 2003 a 2010, Com relação a esse período, a ONG Transparência Internacional entendeu que o Brasil ocupou a 75ª posição, num ranking de 180 países sobre percepção de corrupção. O estudo deu ao Brasil nota 3,7, o que indicava problemas de corrupção, segundo a entidade.

O operário bem sucedido fez seu sucessor a mulher que lhe havia servido como ministra de Minas e Energia, a primeira mulher presidente do Brasil, mas deixou um rastro de substâncias mal-cheirosas que foram desembocar na Operação Lava-Jato. Condenado a alguns anos de cadeia, não os cumpriu e alcançou o perdão e direito de concorrer em novo pleito. Venceu e o exercício segue sem incidentes que valham registro.

A mulher com a faixa verde-amarela não escapou das acusações de desmandos, mas ela, blindada, escapou da Lava-jato. As críticas sobre conivência e acobertamento de seu governo nos casos de corrupção em altos escalões institucionais se multiplicaram, ainda que o governo alegasse que o combate à corrupção era uma prioridade.

 Agora cá estamos estarrecidos com a história das joias, não as da rainha, mas as da primeira-dama e seu consorte, que com elas foram agraciados na Arábia Saudita quando em viagem oficial. Tão belos e valiosos eram os mimos, que o casal esqueceu de incorporá-los ao acervo da União. Será que os dois não sabiam que este deveria ter sido o procedimento e continuaram não sabendo mesmo depois de advertidos? O caso está rolando, mas um dos acusados de esconder a verdade da Polícia Federal, assessor do mais novo ex-presidente, negociou o direito da delação premiada, o que poderá pôr um fim no caso e o ilustre casal na cadeia.

Investigações da Polícia Federal concluíram que o interessado na delação premiada e mais aliados do ex-presidente teriam vendido joias e outros objetos de valor recebidos em viagens oficiais do presidente da República fora do País. Os itens de luxo foram omitidos do conhecimento dos órgãos públicos, negociados para fins de enriquecimento ilícito e entregues em dinheiro vivo para o ex-chefe do Executivo, segundo a Polícia Federal. Acordo de delação premiada, homologado pelo Supremo Tribunal Federal, deverá mostrar outros crimes que podem ter sido praticados pelo recente ocupante do Palácio do Planalto.

Aí estão 38 anos da História do Brasil enlameada. É de se aplaudir o poeta cantor que indagava: “Que país é este?”